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Para ver as brincadeiras como algo além do divertimento

Pesquisa na Unicamp, fundamentada no pedagogo Lev Vygotsky, analisa processo de construção do conhecimento por crianças

Por: Marina Picon e Raissa Fernandes

A brincadeira é fundamental para o desenvolvimento das crianças nos anos iniciais, porém muitas vezes é desvalorizada e mal compreendida. Com o objetivo de desmistificar essa visão e destacar a relevância da mediação do professor nesse contexto, a pesquisadora Giovanna Ananias, da Faculdade de Pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), está realizando um projeto de pesquisa de iniciação científica sob orientação da professora Lilian Cristine Ribeiro Nascimento, com base nas ideias do pedagogo bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934).

Aluna Giovanna Ananias (Foto: Arquivo Pessoal)

A teoria enfatiza a importância da interação social e da mediação do adulto no desenvolvimento infantil. O tema central da pesquisa de iniciação científica conduzida por Giovanna Ananias é mostrar os desafios enfrentados pelos professores e analisar a importância dessa mediação. “O professor é o elemento que vai trazer uma ligação entre a criança e o meio que a cerca, é o mediador das questões novas que são apresentadas e das hipóteses que vão ser levantadas. O professor traz propostas e não questões prontas, porque é importante que a criança entenda e desenvolva suas próprias perguntas e questionamentos e elabore sua visão da realidade”, explicou a pesquisadora.

Para a teoria de Vygotsky, a brincadeira não é algo inato, própria da criança. Na teoria histórico-cultural, da qual o bielo-russo é o maior expoente, o brincar é uma atividade que se aprende a realizar a depender das condições às quais o grupo social das crianças pertence.

A metodologia adota instrumentos de coleta de dados, como questionários online aplicados aos professores, além do diário de campo da pesquisadora. O estudo está sendo realizado no Programa de Desenvolvimento e Integração da Criança e do Adolescente (Prodecad) na Unicamp e conta com a participação de crianças de 6 a 10 anos matriculadas na Escola Estadual Sérgio Porto, além dos professores do programa. Na pesquisa, são apresentados aspectos psicológicos envolvidos nas brincadeiras. São também discutidos desafios que os professores podem enfrentar desempenhando esse papel.

Para a psicóloga infantil Rita Kharter, doutora em Psicologia PUC-Campinas, brincadeira é mais que um momento de descontração, é momento de aprendizado e desenvolvimento. “São aspectos afetivos, em que o professor apresenta uma realidade, um meio lúdico e afetuoso que dessa maneira vai mediando o desenvolvimento, que também se processa através da relação entre crianças. O desenvolvimento psicológico e intelectual não é mediado apenas pelo professor, mas também pelos amigos, pelas crianças que o rodeiam, adultos, família, professor e amigos”, explicou Kharter.

Professora Silvia Rocha (Arquivo Pessoal)

Giovanna Ananias afirmou que a formação pedagógica não ajuda muito quando o quesito é formar profissionais que estejam aptos a entender as brincadeiras como meio desenvolvedor. Muitos tratam a brincadeira como recompensa por se comportar bem e como punição retiram o direito de brincadeira da criança. Por isso há necessidade de se inserir técnicas e estratégias de mediação, incentivando os professores a trabalhar nessa questão e dar a devida importância a essa atividade.

Na visão de Silvia Rocha, docente da faculdade de pedagogia da PUC-Campinas, o aprendizado do aluno deve acontecer por meio de questionamentos durante as novas situações que são apresentadas à criança. Por isso é necessário que o professor apenas introduza a brincadeira e não leve questionamentos prontos. Rocha explicou que “a presença do professor como mediador é fundamental, já que o brincar não é algo natural e intuitivo da criança e sim um aprendizado. O professor tem um papel fundamental como mediador das brincadeiras infantis, principalmente quando pensamos no brincar a partir dos estudos e do que é chamado de psicologia histórico-cultural”.

A pedagoga Silvia Rocha conta que as escolas são fortemente cobradas e questionadas sobre os métodos de ensino, sendo um desafio levar até a família argumentos sólidos que expliquem que o brincar não é algo intuitivo e sim um aprendizado. Ela acrescentou que a falta de conhecimento e desenvolvimento dos professores na apresentação do brincar afeta a reação dos pais. A professora destaca que a atividade do brincar é educativa e, muitas vezes, as famílias entendem o brincar apenas como um passatempo, compreendendo o aprendizado somente por meio das apostilas escolares.

Orientação: Prof. Artur Araújo 

Edição: Suelen Biason


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