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Reforma do Ensino Médio expõe desigualdade na educação

Liderança estudantil e pedagogos de Campinas apontam para o risco de uma maior exclusão social com mudanças em andamento

Por: Alanis Mancini

Suspensa temporariamente, no dia 3 de abril, por decisão do Ministério da Educação, a reforma do Ensino Médio tem sido objeto de polêmica entre educadores, a classe estudantil e a sociedade. Em Campinas, a UCES (União Campineira de Estudantes Secundaristas) questiona a proposta e reivindica a revogação do Novo Ensino Médio (NEM).

Manifestação em Campinas organizada pela União Campineira de Estudantes Secundaristas contra o Novo Ensino Médio (NEM)

Ana Karollina, presidente da UCES, argumenta que o aumento da carga horária resultou em uma alta taxa de evasão escolar. “A nossa juventude já trabalha”, destacou. Além disso, a proposta dos “itinerários”, opções de diversificação dos estudos que os alunos podem escolher de acordo com seus interesses e projetos de vida, não os prepara para os vestibulares e para o Enem.

As novas metodologias também são objeto de crítica. “Tudo que é abordado, como história, por exemplo, é de forma rasa e sem introduções. Então, todo o conteúdo fica solto, sem entendermos o como e o por quê de estarmos estudando aquilo”, afirmou Karollina.

Desde sua proposição em 2016, a reforma gerou polêmicas, refletindo os desafios e incertezas envolvidos nesta etapa crucial da formação dos jovens brasileiros. Entre as principais questões estão a flexibilização do currículo, a ampliação da carga horária, a definição e oferta dos itinerários formativos e as mudanças no Enem e nos vestibulares.

Apesar de já existirem propostas feitas pelo Observatório do Ensino Médio, elas não foram levadas em consideração. “Precisa revogar porque não há nada nessa reforma que possa se salvar, não dá para reformar a reforma. E para uma reforma educacional ser bem-sucedida ela precisa ter a participação das pessoas que fazem a educação: professores, diretores, coordenadores” afirmou o pedagogo Sérgio Feldemann.

A reforma do ensino médio foi aprovada em 2017 pela Lei nº 13.415/2017, durante o governo do então presidente Michel Temer, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). A implantação da reforma do ensino médio começou em 2022, sob o governo Bolsonaro, de forma gradual, começando pelas 1ª séries do ensino médio. Em 2023, as 1ª e 2ª séries, conforme o cronograma, já devem estar adaptadas ao novo modelo. Em 2024, a reforma deveria estar completa nas três séries do ensino médio.

No NEM, apenas as disciplinas de português e matemática são obrigatórias, enquanto as outras matérias ficam divididas em itinerários que os estudantes podem escolher de acordo com a área que desejam seguir profissionalmente. “Mas o itinerário por si só já é problemático, enquanto a escola particular segue com grade horária focada no vestibular, com seis aulas de português e matemática, os alunos da escola pública estão tendo duas aulas por semana, mesmo com o aumento da carga horária”, comenta Ana Karollina.

Feldemann, que pesquisou em seu mestrado a influência do empresariado nessa reforma,  explica que as propostas para o NEM foram implementadas de cima para baixo. “As instituições e fundações empresariais não defendem um aumento de recursos e estruturas para as escolas, mas sim uma mudança que coloque os jovens pobres em seu ‘devido lugar’”, destacou.

A suspensão da reforma do ensino médio ocorreu para abrir uma consulta pública sobre o tema com duração de 90 dias, podendo ser prorrogada. O objetivo é coletar opiniões da sociedade e dos profissionais da educação sobre a reforma.

O professor João Felipe Nascimento ressalta que a reforma pode limitar a formação de uma geração com senso crítico

O professor de sociologia da Escola Estadual Dom Barreto, João Felipe Nascimento, destaca a dificuldade de adaptação à nova metodologia e o impacto no rendimento dos professores. Ele também ressalta que a reforma pode limitar a formação de uma geração com senso crítico.

Para Nascimento, a consequência desses desafios enfrentados pelos alunos e professores é uma geração com baixa perspectiva de aprendizado. “Os alunos não conseguem enxergar dentro da escola uma perspectiva de futuro, então você vê que esse ensino, na verdade, é um modelo de formação de mão de obra barata, no qual o aluno é visto com esse futuro. O restante do conhecimento como pensar o mundo com senso crítico ficaria podado nessa geração, infelizmente”, comentou o professor.

A revogação total do NEM depende da atuação do Congresso. “A suspenção do prazo de implementação é, por um lado, uma vitória por ser uma resposta aos movimentos, mas pode ter sido apenas uma estratégia para abaixar a poeira, então os movimentos não podem relaxar agora”, destacou Feldemann.

Edição e orientação: Prof. Artur Araujo


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