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Ópera Macunaíma estreia no Castro Mendes

Com participação da Sinfônica, a obra é inspirada no anti-herói do romancista Mário de Andrade

Obra conta a história do anti-herói Macunaíma e suas aventuras atrás de um talismã perdido (Foto: Firmino Piton/Secretaria Municipal de Cultura)

Por Luiz Oliveira

Nesse fim de semana, estreia em Campinas o concerto cênico da ópera popular Macunaíma, obra composta pelo pianista Marcelo Onofri, com inspiração no romance de Mário de Andrade. A peça levou cerca de 11 anos para ser composta, e hoje chega ao palco do teatro Castro Mendes com direção musical do próprio compositor Onofri, direção cênica de Tiche Vianna e participação da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, sob regência do maestro Carlos Prazeres.

Macunaíma é um espetáculo musical que utiliza a música cênica como linguagem, protagonizando a narrativa por meio de cinco cantores narradores, coro cênico de oito artistas e 18 músicos de orquestra. A peça conta a trajetória bem-humorada do famoso anti-herói Macunaíma, criado por Mário de Andrade, a partir de uma descrição do autor no capítulo final do romance, em que papagaios relatam suas peripécias em busca de um talismã perdido.

O pianista Marcelo Onofri: “Logo percebi que ali nascia o trabalho de musicar aquela história” (Foto: Arquivo Pessoal)

O compositor e pianista Marcelo Onofri conta que a ópera nasceu em 2011, a partir de uma pequena canção que hoje é o prólogo da peça. Ele diz que, ao levar a canção para estudar com seus alunos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ficou intrigado e se perguntava se essa canção poderia levar a algo maior.

“Em uma noite, sem conseguir dormir e me perguntando como poderia avançar nessa canção, me veio a frase ‘ai que preguiça’. No dia seguinte, lembrei que essa frase era do livro Macunaíma, de Mario de Andrade”, diz o compositor.

Após a inspiração, Onofri conta que, logo pegou o livro, sentou-se no piano e começou a compor algumas melodias a partir das frases da obra. “Logo percebi que ali nascia o trabalho de musicar aquela história”, relata. Ao se dar conta de que a composição seria complexa, o pianista convidou amigos e alunos para criar o libreto de ópera, ou seja, transformar o livro em palavras a serem cantadas. Em encontros semanais, por um ano eles se encontravam para construir a letra para as melodias, trabalho que se estendeu por mais de uma década, até verem a obra finalizada.

Ajudando o compositor desde o começo da obra, a produtora artística Tiche Vianna foi convidada pelo amigo Onofri a participar da elaboração da peça, pesquisando e adaptando o romance para a linguagem de ópera.

“Nós trabalhamos durante alguns anos, em cima do libreto e de algumas experimentações práticas, estudando como melhor fazer essa versão operística de Macunaíma”, conta Tiche. A produtora diz que após vários projetos falhos, na tentativa de captar recursos para a execução da obra, o projeto foi sendo aos poucos engavetado, mas nunca esquecido pelo compositor.

Tiche conta que, em 2020, surgiu a possibilidade de levar a ópera Macunaíma para a Áustria, o que reanimou o compositor e o grupo de criadores, mas a intenção não foi adiante em função da pandemia da Covid-19, que teve início logo após o convite. Porém, no ano passado, com a troca de regente na Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, o grupo viu uma possibilidade de mostrar as partituras para o maestro Carlos Prazeres.

“Por meio de um músico da orquestra, a gente fez chegar até ele a partitura. A Secretara de Cultura comprou a ideia, e desde o ano passado viemos planejando e organizando a execução”, conta ela.

Para atuar, Tiche buscou pessoas de diferentes grupos étnicos, como indígenas e afrodescendentes, e artistas da periferia, de diferentes regiões da cidade. A historiadora Thaíse Pavani teve conhecimento da peça a partir do chamamento aberto publicado em redes sociais, e logo fez a inscrição que consistia em um vídeo e depois em uma audição presencial de três dias.

A artista e historiadora Thaíse Pavani: “Com Macunaíma eu venho desafiando meus limites” (Foto: Arquivo Pessoal)
 

“No processo de audição, por mais puxado que ele tenha sido, a gente se sentiu livre, em um ambiente em que fomos valorizados e respeitados para criar com liberdade”, conta Thaíse.

A artista fará parte do coro cênico, grupo de atores que vai ilustrar o que será contado na narrativa da ópera, o que fará com que o público sinta a narrativa e tenha suas próprias impressões. Thaíse conta que, no processo de montagem da peça, ela pode se desenvolver como artista, superando dificuldades e rompendo estereótipos. “Com Macunaíma eu venho desafiando meus limites, e tenho percebido que o meu corpo dá conta de expressar coisas que eu nunca imaginaria”, diz.

Para o compositor Marcelo Onofri, essa obra é uma homenagem a Mario de Andrade, sua inspiração. “Poder contar a história dele através da minha música é uma alegria. Faço uma homenagem à literatura brasileira”, diz ele. Já Tiche Vianna, ressalta que a obra tem por característica misturar diferentes pessoas, de diferentes regiões da cidade, em um trabalho inédito.

“Talvez seja a primeira vez que Campinas faz esse entrelaçamento tão heterogêneo e tão característico do que é essa cidade. Esse concerto cênico representa isso, Macunaíma e Mário de Andrade também. Nós somos uma mistura cultural e étnica”, diz Tiche Vianna.

O Concerto Cênico da Ópera Popular Macunaíma estreia hoje (sexta, 28), com sessões também no sábado (29) e domingo (30), no Teatro Municipal José de Castro Mendes, em Campinas. “Estar no palco e parir essa obra junto com o compositor é uma resposta política e social, de que ainda se é possível fazer cultura dentro desse país”, diz a artista Thaíse Pavani. “Esperamos que Macunaíma tenha vida longa”, completa.

Serviço

Concerto Cênico da Ópera Popular Macunaíma

Sexta-feira, 28 de abril, 20h

Sábado, 29 de abril, 20h

Domingo, 30 de abril, 11h

Teatro Municipal Castro Mendes – Rua Conselheiro Gomide, 62 – Vila Industrial

Duração: 90 minutos

Classificação indicativa: a partir de 14 anos

Ingressos: teatrocastromendes.com.br e bilheteria do Teatro Castro Mendes

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Melyssa Kell


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