Destaque

Uma influencer que fala e ensina a língua das finanças

Júlia Abi Sâmara, 25 anos, fundou a empresa ‘As Investidoras’, que teve início com aulas para mulheres na sala de sua casa

Por Júlia Facca

Investidora arrojada que busca altas rentabilidades, Júlia Abi Sâmara, 25 anos, conquistou um público de mais de 77 mil pessoas no Instagram ‘As Investidoras’. Lá, ela promove educação e independência financeira feminina, compartilhando seu conhecimento e transformando a vida de outras mulheres.

Desde o começo de sua jornada no mundo dos investimentos, a influenciadora se mostrou corajosa e inovadora. Durante a faculdade de Administração, ela desenvolveu grande interesse por finanças, mesmo sabendo que não era um espaço muito receptivo às mulheres.

Um episódio desagradável vivido entre colegas homens marcou um divisor de águas para Júlia. Mal-recebida em uma conversa, ela recebeu insinuações de que não seria capaz de investir. A partir daí, decidiu não só provar que era capaz, mas que também seria uma excelente investidora.

Aos 24 anos, Júlia já ensinou mais de 2700 mulheres sobre investimentos e tem um público de 68 mil pessoas no seu Instagram (Crédito: Giovanna Carlini)

“Eles tiraram sarro de mim, e aquilo foi um estalo na minha cabeça. Eu percebi que os homens estavam conversando sobre investimentos, e eu não tinha conhecimento sobre isso, mas nada me impedia de ter”, relata. “Eu achava que não me encaixava nos pré-requisitos para ser investidora, mas comecei a estudar e aplicar na prática o que aprendia. Depois de um tempo, vendo bons resultados, comecei a ensinar outras mulheres que conhecia”, relembra.

Para Júlia, afirmar que dinheiro não é assunto de mulher é uma ideia ultrapassada e machista. ‘As Investidoras’, atualmente uma empresa com mais de 2700 alunas em três turmas, teve início em 2019 como um projeto social. Júlia reunia mulheres que conhecia na sala de sua casa e as ensinava gratuitamente sobre investimentos e organização financeira.

A iniciativa surgiu da observação e experiência de Júlia sobre a sub-representação de mulheres no setor e o ambiente hostil e pressionado que se formava para elas.

“Era difícil encontrar mulheres falando sobre esse assunto, e eu sentia falta de um ambiente acolhedor. As mulheres são ensinadas de forma diferente sobre dinheiro [desde pequenas] e precisamos de um espaço específico para falar sobre nossas crenças e desconstruir nossos pensamentos. Havia detalhes nas falas das mulheres com quem aprendi que me faziam sentir mais acolhida. Um espaço exclusivo para mulheres gera um sentimento de segurança para falarmos dos nossos medos. Isso é essencial para aprender”, explica.

Historicamente, as mulheres não foram incentivadas a buscar independência financeira. Até 1962, elas não poderiam abrir uma conta bancária sem autorização de seus maridos. Além disso, um estudo de 2018 do banco de investimentos Merrill Lynch indicou que 61% das mulheres preferem falar sobre a própria morte do que sobre dinheiro.

Atualmente, as mulheres representam apenas 26% dos investidores da Bolsa de Valores de São Paulo, segundo dados da organização.

Em contrapartida, a pesquisa Investor Pulse 2021 da UBS, companhia suíça de investimentos e serviços financeiros, aponta que 68% das mulheres começaram a falar mais sobre finanças dentro das famílias nos últimos anos.

Segundo Júlia, nossa cultura impõe que as mulheres não devem falar sobre dinheiro, criando um tabu em torno do tema.

“Os filmes infantis feitos para o público feminino sempre apresentam uma princesa salva pelo príncipe e o casamento como solução. Além disso, em novelas, quando as mulheres são associadas a dinheiro, é na posição de interesseira ou como alguém que gasta compulsivamente e não tem controle financeiro. Existem muitos estereótipos. As mulheres crescem recebendo, mesmo que indiretamente, essa mensagem de que não são capazes de cuidar do próprio dinheiro e que sempre vão depender de um homem para isso”, analisa.

A empreendedora conta que uma de suas alunas relatou estar em um relacionamento abusivo, do qual não tinha coragem nem condições financeiras para sair, pois dependia financeira e emocionalmente do parceiro. Após estudar sobre investimentos, a aluna adquiriu mais confiança e percebeu que era capaz de cuidar das próprias finanças, terminando o namoro.

De acordo com Júlia, a independência financeira feminina representa a liberdade de buscar os próprios objetivos e ter dinheiro para realizar seus sonhos.

“É poder cuidar da minha vida e saúde, ter segurança e conforto. Quando falamos de mulheres, há muitas situações que enfrentamos e não deveríamos, como relacionamentos abusivos e assédio no ambiente de trabalho. A independência financeira feminina vai além de um carro que você pode comprar; são os espaços que frequentamos e as relações que estabelecemos. É ter segurança financeira para sair de um lugar em que somos oprimidas”, explica.

Embora insegura no início, hoje Júlia é uma referência para muitas mulheres que a acompanham nas redes sociais e se tornam suas alunas. A jovem explica que passou a ver o dinheiro de forma diferente desde então.

Para Júlia, investir é sinônimo de autocuidado (Crédito: Giovanna Carlini)

“Eu não invisto e cuido do meu dinheiro por ego. Invisto e cuido porque sei que é uma ferramenta para viver com mais segurança e conforto, ter mais liberdade e independência para me relacionar com as pessoas e não depender financeiramente delas. Para que eu esteja em relacionamentos saudáveis e possa ajudar pessoas e causas que amo. É uma forma de autocuidado: a eu do presente cuidando da eu do futuro. Essa dedicação faz diferença”, conta.

Mesmo mais confiante, a influenciadora relata que ainda enfrenta discriminação por parte de homens quando o assunto é investir.

“Acontece bastante de homens me explicarem algum assunto óbvio de investimentos. Às vezes, até explicam errado. Há também aquela surpresa, como se a pessoa nunca tivesse visto uma mulher falando de investimentos. Tentam fazer com que eu prove e explique o que sei.”

Além disso, Júlia aconselha as mulheres a irem com calma, mas não deixarem de cuidar do próprio dinheiro: é essencial entender que cada pessoa tem seu tempo e não se comparar àqueles que estão mais avançados nos investimentos e têm carteiras mais diversificadas.

“Eu gostaria que tivessem me dito que montar uma carteira diversificada leva tempo. Eu lembro que comecei com investimentos mais simples por causa da insegurança. Eu via pessoas ensinando sobre investimentos e falando que eu tinha que ter ações e criptomoedas, e eu ficava com uma sensação de atraso. Depois entendi que, com o tempo, é possível montar uma carteira alinhada com o nosso perfil e objetivos. Não é preciso se pressionar para fazer o que os outros estão fazendo.”

Algo que a empreendedora valoriza muito, além da independência e liberdade resultantes do cuidado com as finanças, é a rede de apoio que conseguiu criar com suas alunas a partir das dificuldades que enfrentou durante seu aprendizado. Ela faz analogias com temas atuais e filmes da cultura pop, além de manter um grupo de mensagens para contato próximo com as mulheres que ensina.

Em um de seus posts em que ensina os tipos de perfil de investidora, Júlia os compara com “tipos de rolê”. A investidora conservadora se assemelha a um “rolê” em casa com as amigas, menos arriscado e sem grandes surpresas. Já a investidora moderada é similar a uma ida ao bar com as amigas, “vocês já sabem que vão beber e que a noite pode ter algumas surpresas, então você se previne deixando uma garrafa de água do lado”. Por fim, a investidora arrojada é paralela a ir em uma festa com as amigas – haverá mais riscos, podendo ser negativos ou não.

“A forma como eu ensino hoje está muito relacionada com o que eu observava quando eu estava aprendendo a investir. Eu percebia que os exemplos estavam distantes da minha realidade, com uma linguagem mais complicada do que era necessário. Eu sempre retorno à memória da Júlia de antes. Tudo que eu observei que era um empecilho, tentei transformar no meu método para que as mulheres não passem pelo que eu passei”, explica.

Agora, o objetivo de Júlia é retomar eventos presenciais, educar ainda mais mulheres sobre investimentos e economia, levar mais conteúdos específicos para outras plataformas digitais, como o YouTube, e, possivelmente, escrever um livro.

“Quero trazer palestrantes mulheres para falar sobre investimentos e ramificações com conteúdos mais específicos sobre investimentos, desenvolver outras redes sociais e pensar em um livro, mas isso está caminhando com pequenos passos”, finaliza.

Orientação: Prof. Artur Araújo

Edição: Suelen Biason


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