Cultura & Espetáculos

“Bróaduei Campineira” ganha dissertação de mestrado

Na foto, músicos, funcionários e donos do Ilustrada, um dos bares abordados por Marcelo Andriotti

Por: Melyssa Kell

Músicos, funcionários e os donos do bar Ilustrada, Camilo e Zincão (Foto: Acervo Pessoal)

Uma região boêmia e de intenso agito cultural no final dos anos 80, à época conhecida por “Setor” ou apelidada de “Bróaduei Campineira”, no bairro Cambuí, virou tema de pesquisa de mestrado do jornalista Marcelo Andriotti no programa de pós-graduação em Linguagens, Mídia e Arte, da PUC-Campinas. Quarenta anos atrás, a convergência das ruas General Osório, Benjamin Constant, São Pedro e Avenida Júlio de Mesquita era o ponto de encontro que reunia jovens interessados em MPB, artistas que batalhavam espaço na então fervilhante vida cultural da cidade, e músicos e jornalistas que se encontravam ao redor de mesas de bares que funcionavam até altas horas da noite.

Sob orientação do professor Marcelo Pereira da Silva, a dissertação de Andriotti foca na comunicação existente entre as pessoas no período em que as facilidades hoje proporcionadas pela internet sequer haviam sido pensadas. “Uma das coisas mais importantes do período é que as pessoas tinham que se relacionar diretamente, face a face”, explica o jornalista ao comentar sobre seu trabalho. “Aquele tipo de comunicação propiciava uma maior compreensão e aceitação das diferenças entre as pessoas, porque você tinha que aprender a conviver com elas”, explica o jornalista.

Marcelo Andriotti: “Naquela época, ofensas como vemos hoje na internet não ocorriam” (Foto: Acervo Pessoal)

Em entrevista ao Digitais, Andriotti ponderou que a internet transformou as regras de convivência e afetou a expressão de opiniões, sendo essa uma das principais preocupações referenciadas em sua dissertação.

“Era diferente do que acontece hoje, quando, muitas vezes, as pessoas se escondem atrás das suas personalidades virtuais para atacar outras pessoas. Naquela época, ofensas como vemos hoje na internet não ocorriam, mesmo porque as coisas poderiam acabar na agressão física”, observa Andriotti ao sugerir que a comunicação face a face produz interações mais respeitosas e vínculos duradouros.

No período a que o jornalista se refere, os encontros propiciados pelo “Setor” eram concentrados em bares como o Ilustrada, Contramão, Paulistinha, Bacamarte, Natural, City Bar, Zincão, Bar do Meio, Candeeiro, Scooby, Zanzibar e vários outros.

Andriotti trabalhou como garçom no Ilustrada – bar que levava esse nome em função do caderno de cultura do jornal Folha de S. Paulo, muito influente à época. “Houve um período em que quase todos os garçons do Ilustrada eram estudantes de jornalismo”, acrescenta. Além de ser um espaço para diálogo, havia também uma abundante atividade musical na casa noturna, o que inspirou o lançamento do disco “Ilustrada – Vol. 1”, produzido em 1989, que contava com artistas locais, como Eduardo Gramani, Marcelo Calderazzo e Axel Giudice.

Fachada do Paulistinha, um dos bares que compunha o “Setor” (Foto: Adriano Rosa)
 

De acordo com Andriotti, no processo de escrita da dissertação, novas questões foram tomando forma e os relatos das pessoas que viveram naquele espaço boêmio contribuíram para uma nova perspectiva no momento de dissertar.

“A Orquestra Sinfônica, por exemplo, teve um papel importante para fortalecer a cultura local naquele período, bem como os estudantes das universidades PUC-Campinas e Unicamp”. De acordo com o jornalista, havia empenho em investir dinheiro público na área de cultura, o que era uma característica dos governos municipais eleitos pelo partido de oposição aos militares que ainda comandavam Brasília durante o regime ditatorial.

O “Setor” reunia artistas e agitava o Cambuí nos anos 80 e início da década de 90 (Foto: Acervo Pessoal)

Em 1996 uma lei sancionada pelo então prefeito Edivaldo Orsi viria a finalizar a efervescência do “Setor”. O dispositivo legal previa que bares sem isolamento acústico não poderiam produzir barulho após as 22 horas. Tendo em vista que a maioria dos bares não contava com instalações desta natureza, as atividades começaram a se encerrar mais cedo, o que aos poucos afastou o público boêmio daquela região. Além da dissertação, Marcelo Andriotti também preparou um documentário com depoimentos sobre o tema, no qual reúne relatos de quem frequentou os bons tempos da “Broaduei Campineira”.

Aqui, acesso ao documentário produzido por Marcelo Andriotti

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Melyssa Kell


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