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Linguagem neutra está distante da universidade

Afirma a estudante Mariane Louise, militante pela inclusão de um novo pronome na Língua Portuguesa

Por: Emily França

A linguagem neutra é a proposta de uma nova forma de linguagem, pautada pela reflexão de que a Língua Portuguesa deveria ser inclusiva para os grupos de pessoas transsexuais, não-binárias, intersexo ou travestis, que, juntos, representam 2% da população brasileira, segundo a Faculdade de Medicina de Botucatu, da Unesp. A sociedade não é inclusiva, e essas pessoas não se sentem abrangidas pelo uso do masculino genérico. Apesar de ser uma discussão popular, não é uma realidade para a maior parte dos brasileiros, tão pouco na PUC-Campinas.

Maria Inês Guilhardi, de 69 anos, é professora de Letras e Pedagogia na PUC-Campinas, especializada em Língua Portuguesa e mestre em Letras pela PUC-Campinas. Ela diz acreditar que tais reivindicações não têm embasamento científico ou linguístico, e que uma mudança na língua não pode ser forçada, pois é preciso considerar que uma língua viva vai se alterando naturalmente de forma gradual.

Para ela, devido à origem, o português assume as normas de gênero do latim. “No latim, havia o gênero feminino, masculino e um gênero neutro, esse gênero neutro ao passar para o português, se tornou a letra ‘O’”. A docente afirma que, ao dizer todos e todas, ocorre a especificação do masculino e feminino, entretanto, não menciona a existência de uma especificação para o que é neutro.

Implicações

A linguagem neutra não se trata apenas do uso de normas. É considerada um movimento social reivindicatório, segundo pesquisadores, e que pede por uma abertura ao diálogo, a fim de propor soluções que antes não existiam.

Foram escritos manuais não oficializados por ativistas que propõem cerca de 80 novas regras para língua escrita e oral, como o de Ophelia Cassiano em “Guia para Linguagem Neutra”. O documento propõe a adição do pronome neutro, ou seja, equivalente ao ela e ao ele, e que por questões práticas seria “elu”, considerando a sua funcionalidade na escuta auditiva, escrita e identificação visual.

O professor de teologia José Antonio Boareto, 40 anos, formado em Filosofia e Teologia, também pela PUC-Campinas, diz que a discussão da homossexualidade está acontecendo entre os membros da igreja, e cita o padre Ronaldo Zacharias, mestre em Teologia pela Universidade de Cambridge. “Ele trouxe o ponto de percebermos o quanto a igreja está se preocupando com o fenômeno, que começa a estudar, analisar, tentar ver de outros ângulos e tentar entender como podemos dar uma resposta”.

Apesar disso, ele disse pensar que o caminho de mudanças na linguagem, na perspectiva que está sendo reivindicado pelos grupos ativistas, não aconteceria de imediato, e questiona até se seria feito algum dia.

Mariane Louise, no centro acadêmico de Ciências Sociais: “É preciso desconstruí-lo a partir do entendimento de que existe diversidade” (Foto: Emily França)

Mariane Louise Evangelista, de 22 anos, estudante de Ciências Sociais na PUC-Campinas, gestora do coletivo LGBTQIA+ “Marsha P.Johnson”, construído por alunos em 2019, afirma que a luta do coletivo é para que a educação seja mais inclusiva. Por isso, diz acreditar que a postura de entender o pronome de uma pessoa dentro da universidade é também reconhecer a sua identidade. A gestora afirma que, partir de um pressuposto de inclusão, é o caminho para criar um espaço que permita a existência desse contingente nas universidades.

Segundo a organização “LGBT Foundation”, o gênero pertence à dimensão subjetiva do indivíduo: como ele sente e tem convicção do que é como pessoa. E os indivíduos não-binários não podem ser definidos nas margens de gêneros binários, ou seja, são pessoas que não se encaixam no modelo dicotômico do feminino e masculino. Nesse contexto, Mariane Louise afirma que tanto a universidade, quanto o mundo, são pautados no sistema binário. “Na verdade, é preciso desconstruí-lo a partir do entendimento de que existe diversidade e que necessitamos abrir espaço para que essa necessidade se estabeleça”, diz ela citando como exemplo a abertura de diálogo com as frentes estudantis, o que viabiliza a inclusão desses alunos.

Estudante de Ciências Sociais, Melissa Maria da Silva conta como é ser uma mulher travesti no campus (Foto: Emily França)

Outra aluna de Ciências Sociais da PUC-Campinas, Melissa Maria da Silva, mulher travesti de 33 anos, afirma que a universidade ainda é resistente a essas mudanças e que a falta de posicionamento em ações explicita o seu viés conservador. Ao descrever como se sente no ambiente acadêmico, diz que “as pessoas me tratam mais com medo do que com respeito, na maioria das vezes acertam meu gênero e meus pronomes, mas sempre tem aqueles colaboradores mais resistentes, então esses 10% fazem da vida das pessoas trans e não bináries um verdadeiro calvário. Me sinto em um calvário e não em uma universidade tão pomposa”.

Orientação: Prof. Marcel Cheida

Edição: João Vitor Bueno Silva


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