Cultura & Espetáculos

Circo sobrevive com doação e artista fazendo ‘bico’

Com as lonas fechadas, palhaço foi vender brinquedos, outro funcionário, ovos, e ninguém ficou parado

Por: Camille Heinzl, Gustavo Tintori e Livia Nonata

Fachada do Circo Portugal, em Campinas (Foto: Camille Heinzl)

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A chegada da pandemia, em março de 2020, mudou completamente o cotidiano de quase 30 mil brasileiros que vivem exclusivamente da arte circense, segundo dados da União Brasileira dos Circos Itinerantes. Nesse período de paralisação das atividades, em que foi preciso se ausentar dos palcos, a necessidade de se reinventar ficou clara para aqueles que dependem do circo.

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Um desafio para muitas pessoas que não se viam, de uma hora para outra, abandonando suas atividades como palhaços, malabaristas, acrobatas, contorcionistas, equilibristas, ilusionistas e outros artistas. “Na pandemia, o circo fechou, todo mundo foi procurar o que fazer para passar por este momento, o palhaço foi vender brinquedo, outros foram vender ovos, foram trabalhar com hortifruti, o povo se virou, deu um jeito, ninguém ficou parado”, comenta Washington Rangel, funcionário de circo.

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Alguns partiram em busca de novas aventuras, como Ricardo Cantos, artista equatoriano de circo, que foi trabalhar com a venda de biscoitos e outros alimentos. “No início vendeu bastante, mas eu nem via o dinheiro porque comecei a pagar minhas dívidas. Quando o circo voltou, a gente voltou, mas não fiquei com nenhum real das vendas, foi muito triste”. Confira um pouco da volta dos espetáculos do Circo Portugal:

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Sensível a esse cenário, em determinados locais, a população das comunidades onde os circos estavam alocados colaboraram através de doações, como aconteceu com o Circo Portugal. “Nessa epidemia a própria população de Sumaré, dava cesta-básica pra gente toda semana, botijão de água, carro de verduras, cobertores, roupas, tiveram um carinho que ninguém nunca teve. Igrejas ajudaram, supermercados mandavam caminhões fechados com mantimentos, e como somos grandes, dividimos com os circos menores”, relata Nelly Avanzi.

Nelly Avanzi, tradicional que viveu seus 65 anos no circo (Foto: Camille Heinzl)

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Outra dificuldade enfrentada pelos circenses durante esse período de portas fechadas, foi manter a rotina dos treinos e o condicionamento físico, importantes para as apresentações. Segundo Pollyana Pinheiro, geração da família do Circo di Napoli, o espaço físico não foi uma preocupação para os artistas. “No nosso caso temos um espaço que é do próprio circo onde deixamos as coisas guardadas, em Campo Limpo, nesse terreno é onde ficou todo mundo, tinha água, luz, cada um ficou nos seus trailers, e do lado tinha um barracão onde as pessoas que fazem o aéreo treinavam. Mas o povo do circo se pendura em qualquer lugar, só pra não perder a força, a resistência”.

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Porém, afetados pelo momento de inseguranças e incertezas, muitos não tinham ânimo para treinar regularmente, como aconteceu com Ricardo Cantos. “Eu dei uma parada grande, a pandemia me entristeceu bastante, começou a depressão, eu estava muito desanimado, não sabia o que estava acontecendo e estava desesperado, então eu fui esquecendo de treinar, inclusive ganhei um pouco de peso também, e para as apresentações precisamos estar em forma física e mental inclusive”.

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Todo esse cenário só agravou uma situação de adversidade que o Circo sofria há algum tempo. Desde o projeto de lei N.º 6.445 de proibição do uso de Animais nos espetáculos circenses, nos primeiros anos da década de 2000, os Circos tiveram que atualizar suas atrações. “Nosso circo tinha bastante animais, eram a atração principal, o que trazia o povo, e daí como foi proibido, a gente teve que inovar. Viajamos para outros países em busca de algo novo pro Brasil. Fomos os primeiros a trazer o Transformers, depois o Homem Bala e o King Kong” diz Luciano Portugal, nona geração do Circo Portugal.

Atração King Kong do Circo Portugal (Foto: Camille Heinzl)

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Além disso, nos últimos anos, com a evolução de uma sociedade mais ligada no mundo globalizado e cada vez mais formas de entretenimento, as brincadeiras de criança deram lugar à diversão tecnológica nas telas. “O circo foi tendo mais concorrência conforme o tempo foi passando, hoje em dia tem muitas maneiras de diversão, as crianças se preocupam só com computador, celular, videogame, não querem mais saber do mundo a volta. Por isso, o público acabou diminuindo, nossa fase estava ruim, os gastos do circo são muito grandes, aí veio a pandemia e aquilo desanimou todo mundo, muita gente pensou em não voltar mais pro circo, não abrir mais, seguir outro rumo, muita gente pensou que o circo ia se acabar” pontou Pollyana.

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Contudo, em meados de setembro de 2021, com a melhora dos casos de Coronavírus, houve o fim dos decretos de proibição de eventos em vários locais do Brasil. E, consequentemente a volta dos circos à ativa, que de acordo com os artistas, foi inesperadamente muito positiva.”A gente achou que ia ser difícil a volta, que as pessoas não iam ter dinheiro, ou iam ter medo do vírus, mas foi surpreendente, até agora os lugares que a gente passou foram muito bons. Eu acho que essa pandemia trouxe uma outra visão pras pessoas, de vamos aproveitar mais a vida, se divertir, curtir a família, isso também ajudou”.

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Mesmo depois de tantos anos de história, e com a modernidade do mundo atual, o milenar mundo do Circo se mantém firme e sobrevive encantando a todos através da arte que é passada de geração em geração e acolhendo no Mundo da Magia, não só o público, mas também histórias como a de Eliete Alves. Confira no áudio abaixo sua trajetória:

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Orientação e edição: Adauto Molck

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Leia também: Maior circo gratuito das Américas está em Sumaré

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