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Pandemia traz novos olhares para a produção sustentável

Covid-19 provoca a discussão do consumo de produtos sustentáveis e desperta alerta para futuras pandemias

Por Carolina Felski e Emily França

O dia 29 de julho deste ano marcou o Dia da Sobrecarga da Terra, que diz respeito à ocasião em que o consumo humano de recursos naturais excede ao que o planeta Terra pode regenerar no mesmo ano. Levando em conta este cenário de alerta ambiental e o objetivo de reduzir os impactos causados, iniciativas empreendedoras têm se preocupado com essa questão e optado por estratégias sustentáveis no Brasil, em um cenário já considerado por muitos como pós-pandêmico.

Representantes de empresas que nasceram a partir dessa proposta, explicam que praticar sustentabilidade é propor práticas alternativas ao que tem sido feito no mercado tradicional. Essas práticas seguem uma linha de produção sustentável desde o início, com a escolha de fornecedores locais e matérias-primas orgânicas que não agridem o meio ambiente.

Priscila Cortez, fundadora da marca Maria Tangerina (Imagem: Bruna Bento)

Um exemplo disso é o negócio criado em 2013 por Priscila Cortez: Maria Tangerina, uma marca cruelty-free e sustentável de bolsas veganas, em São João da Boa Vista, interior de São Paulo. “Buscamos trabalhar com o máximo possível de indústrias brasileiras, focando em investir na economia local e em diminuir o impacto de transporte […] Estudamos o uso de matérias-primas com diferenciais sustentáveis, para investir na produção e pesquisa de materiais inovadores”, diz Priscila, que ainda acrescenta que sua empresa escolhe estas matérias-primas pensando no ciclo de uso, no descarte e na reciclagem.

Produtos naturais da Almazonia Nature Studio ( Imagem:arquivo pessoal)

Patricia Assanuma, Danielle Manso e Letícia Assanuma criaram a Almazonia Nature Studio, também no interior de São Paulo, em Valinhos, durante a pandemia da Covid-19 em 2020. Elas são responsáveis pela produção de cosméticos e velas 100% veganas e naturais, uma vez que não apoiam nenhum tipo de sofrimento animal. Outro diferencial da marca são as embalagens plastic-free usadas nos produtos. Letícia diz que o principal objetivo da marca é combater pandemias futuras, criando produtos que façam diferença no dia a dia dos consumidores, e que não contenham substâncias cancerígenas. “Nós produzimos cosméticos sólidos que não necessitam de embalagem plástica. Nossos produtos, por serem biodegradáveis, não poluem os rios e oceanos; são totalmente naturais e compostáveis”, explica.

Juliana Schulz e Nicole Berndt, criadoras do Mercado sem Lixo (Imagem: Arquivo pessoal)

A preocupação com o cenário pandêmico tem sido pauta para a maioria dos negócios sustentáveis, visto que o relatório Fronteiras 2016, realizado pelo PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), aponta o desmatamento como fator principal para o aumento de zoonoses, como consequência do desequilíbrio dos ecossistemas. A loja Mercado sem Lixo, fundada durante a pandemia em 2020 por Juliana Schulz e Nicole Berndt, surgiu como fruto do objetivo de trazer um segmento sustentável para a casa. A loja física, que fica em Florianópolis (SC), e também sua versão do site, reuniram mais de 20 marcas sustentáveis e 9 selos, que vendem seus produtos no Mercado sem Lixo. Suas idealizadoras, em 2019, já se preocupavam com a questão pandêmica. “Nós lemos um livro em 2019, chamado A terra inabitável, de David Wallace-Wells, baseado em mais de 180 artigos científicos onde a Ciência já previa uma série de pandemias que são consequências da mudanças climáticas e da forma como a gente tem se relacionado com o meio ambiente”, diz Juliana. “Não é a primeira pandemia que a gente vive e não será a última […] então trabalhar em favor de um estilo de vida sustentável, com certeza é combater essas futuras pandemias, e é ter muita esperança de que possamos diminuir os impactos delas”, completa.

Justificando o valor de um item sustentável

Muitas pessoas usam como justificativa não consumir produtos sustentáveis em razão dos preços, que costumam ser mais altos em relação aos produtos disponíveis no ‘Grande Mercado’. Ao serem questionadas sobre essa questão, as representantes destas empresas sustentáveis explicam que uma dificuldade em comum no segmento está nos altos preços de matérias-primas. “O alto valor das matérias primas já era um problema comum para empresas que investem em produção responsável e sustentável. Hoje temos um agravante que é o desabastecimento de matérias primas decorrente da pandemia, que fez com que tudo aumentasse bastante. Tem tecido que ficou até quatro vezes mais caro”, esclarece Priscila Cortez, da Maria Tangerina.

Outra dificuldade, está na substituição de materiais comuns, como o plástico, para aqueles que causam menor impacto ambiental, como o papel reciclado. Letícia Assanuma, da Almazonia Nature Studio, explica que o papel bolha, que elas utilizam nas embalagens de seus produtos, custa cerca de quatro vezes mais que o plástico bolha. As embalagens de vidro também possuem um preço elevado em comparação às de plástico.

As alternativas encontradas por essas marcas normalmente exigem uma carga horária de produção maior e, principalmente, mais mão de obra. Visto que o segmento se preocupa com a questão do ‘comércio justo’, se torna imprescindível a remuneração justa aos trabalhadores. “ […] quando alguém traz este questionamento, nós dizemos que o comércio justo é um dos nossos princípios básicos, e que infelizmente a grande indústria não trabalha com o comércio justo; ela produz em larga escala, usando muitos produtos sintéticos. Então sim, uma produção menor e sustentável tem um maior custo. Se nós quisermos um futuro possível, a gente precisa quebrar esses paradigmas”, conta Juliana Schulz.

Priscila Cortez explica que a falta de incentivo fiscal para o setor industrial que investe nesta área dificulta um maior consumo de produtos sustentáveis no Brasil, já que os impostos no que é produzido aqui no país são maiores em relação à produção feita em outros países. “Acredito que quem investe em alternativas mais sustentáveis precisava receber um incentivo fiscal principalmente em relação ao IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), mas não vemos essa discussão indo muito longe”, completa.

Letícia Assanuma traz a questão da Consciência Planetária em relação ao consumo de produtos sustentáveis. Ela acredita que esse setor só deve prevalecer quando as pessoas realmente boicotarem os produtos que não são sustentáveis. “Quando vamos ao supermercado e encontramos frutas embaladas em plástico e isopor, nós simplesmente não compramos; é assim que funciona. Quando nós entendermos isso, a oferta vai aumentar, já que mais empresas vão entender que se não mudarem seus hábitos tóxicos, elas vão falir”, finaliza

Orientação: Prof. Gilberto Roldão

Edição: Marcela Peixoto


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