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Vereadora questiona a terceirização de direitos políticos

Paolla Miguel (PT) aponta a importância de mais mulheres em espaços de poder

Por Eduarda Guenther e Vitória Landgraf

Na foto, Paolla Miguel vestindo uma camisa estampada com o rosto de Marielle Franco, ex-vereadora do Rio de Janeiro morta em 2018 (Foto: Acervo pessoal)

Embora comemora-se a instituição do direito ao voto feminino, no dia 3 de novembro, a luta pela representação de mulheres na política não parou. “Existe uma ideia no Brasil de que o político tem que ser um homem branco e de meia idade”, apontou a vereadora de Campinas, Paolla Miguel (PT). Segundo ela, apenas mulheres têm propriedade para falar de suas demandas sociais, e não é possível “terceirizar” esse direito.

Os dados mais recentes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) comprovam a força do eleitorado feminino, que corresponde a 52,6%, mas apesar do número alto, as mulheres não traduzem essa tendência em termos de participação política. Em 2018, na última eleição federal, a participação feminina no Senado é de 11,5%, na Câmara de deputados federais é de 15% e de deputados estaduais de 15,5%. Para Paolla, essa baixa representação tem grande influência nas políticas públicas, uma vez que, homens e mulheres possuem problemas, perspectivas e propostas muito diferentes entre si.

“Precisamos estar no parlamento para trazer pautas que são importantíssimas para nós. Um exemplo é a pauta da dignidade menstrual, que atinge toda a sociedade, mas são as mulheres que conseguem ver a relevância disso e levá-la adiante no plenário”, observou a vereadora.

A socióloga e professora da Puc-Campinas Clotilde Lemos argumenta que os obstáculos foram e continuam sendo muitos. “Temos que considerar que a sociedade brasileira é fundada no tripé da grande concentração de terra, escravidão e patriarcado. Sendo assim, as lutas feministas ocorrem em ambiente misógino e machista”, explica.

Socióloga Clotilde Lemos: “uma efetiva maior participação feminina das mulheres na política exige profundas mudanças estruturais e culturais da sociedade“ (Foto: Acervo pessoal)

Para Clotilde, esse machismo estrutural é considerado normal, natural e aceitável para a sociedade, e essa atitude coloca inúmeros empecilhos na participação política feminina. “Frequentemente vem à público episódios ocorridos no debate político das casas legislativas um tratamento agressivo machista na tentativa de desqualificar a participação das mulheres na política”, sinaliza a socióloga.

A desvalorização profissional são queixas constantes de mulheres que trabalham em ambientes majoritariamente masculinos. Para Paolla a situação não é diferente, ela conta que a jornada para chegar até a Câmara de vereadores de Campinas não foi das mais fáceis e, mesmo sendo eleita, ainda enfrenta bloqueios. “A minha dificuldade é a mesma que todas as mulheres têm: a de ser ouvida, a de ser levada a sério em uma reunião e de ser respeitada em um debate. As pessoas, muitas vezes, não me reconhecem como vereadora, preciso sempre estar me impondo e reforçando que eu também estou ali para ocupar aquele espaço”, protesta a vereadora.

Na busca por uma sociedade justa e igualitária, Clotilde defende que a sociedade precisa de mudanças para que haja equidade entre os sexos. “Uma efetiva maior participação feminina das mulheres na política exige profundas mudanças estruturais e culturais da sociedade. Nesta perspectiva a luta feminista deve estar inserida no movimento social emancipatório de homens e mulheres por uma sociedade igualitária”, defende.

Campanha

Nas eleições de 2020 foi lançada a campanha “Mais mulheres na política” pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos com objetivo de que seja eleita ao menos uma vereadora a cada 5,7 mil municípios do país.

Em 2021, o Senador Wellington Fagundes (PL-MT) criou o projeto de lei que reserva 30% das cadeiras para mulheres na Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais no PL 763/2021. O projeto altera o Código Eleitoral (Lei 4737, de 1965), e que essa reserva seja feita através da alternância dos sexos, da mulher mais votada até que homens ou mulheres ocupem 30% das cadeiras disponíveis.

Nas redes sociais o Senador argumenta que não há oportunidade para mulheres: “Mesmo fora do lugar de fala, por ser homem, reconheço que uma das maiores necessidades das mulheres é a oportunidade. A mesma disposição da sociedade e do próprio ambiente de recebê-las como acontece com homens. Por isso, criei um projeto que reserva vagas no Legislativo para elas”, explica.

Frente a este cenário, Paolla reforça a necessidade de incentivar o eleitorado feminino a votar em mais mulheres e de se candidatarem nas eleições de 2022. “Vão falar para as mulheres que elas não são capazes, mas isso ocorre porque estamos tocando em feridas da sociedade que precisam ser questionadas. Nunca ache que outra pessoa pode representar a sua luta, não dá para terceirizar, ela é só nossa”, finaliza.

Aqui, acesso ao vídeo para compreender a conquista do voto feminino no Brasil.

Orientação: Prof. Gilberto Roldão

Edição: Marcela Peixoto


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