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Ato repudia ataque racista contra vereadora petista

Manifestação realizada ontem (10) em frente à Câmara Municipal de Campinas reuniu líderes dos movimentos populares em apoio a Paolla Miguel

Ato em solidariedade a Paolla Miguel reuniu líderes sindicais, políticos e militantes do Movimento Negro (Foto: Luiz Oliveira)

Por Luiz Oliveira

Ocorreu ontem (10), em frente ao plenário da Câmara Municipal de Campinas, um ato em apoio a vereadora Paolla Miguel (PT), vítima de injúria racial na última segunda (08/11). A parlamentar discursava, defendendo o Conselho Municipal da Comunidade Negra, em sessão ordinária da Câmara quando foi xingada de “preta lixo” por bolsonaristas antivacina. A manifestação realizada ontem foi pacífica, e contou com a presença de líderes sindicais, partidários, e militantes do Movimento Negro. O caso ganhou repercussão nacional, fazendo com que importantes nomes da política brasileira saíssem em defesa da vereadora, como o ex-presidente Lula, o ex-candidato Fernando Haddad, e a presidente do Partido dos Trabalhadores Gleisi Hoffmann.

No início do ato, a vereadora Paolla Miguel discursou para apoiadores em frente a Câmara Municipal (Foto: Luiz Oliveira)

“Essa mobilização é importante para mostrar que a sociedade campineira não é racista, que ela está sim preocupada com essa temática e não compactua com atitudes do tipo”, disse a vereadora Paolla Miguel (PT), 30, em entrevista que concedeu ao portal Digitais. A parlamentar, que defende pautas estruturantes, como apoio a juventude, as mulheres e a comunidade LGBTQIA+, diz que o ato lhe dá mais força na luta por igualdade. “A população de Campinas quando faz esse ato, além de me dar mais força, faz com que eu consiga levantar a cabeça e continuar”, completa Paolla Miguel.

A parlamentar, formada em Engenharia da Computação pela PUC-Campinas, ressalta ainda que o cenário político do Brasil pode ter impulsionado a agressão que sofreu. “A partir do momento que temos no poder um presidente fascista, machista, e racista, uma parte da população se acha no direito de fazer isso também”, declarou a vereadora. Segundo ela, ainda falta muita representatividade negra na política de Campinas, o que também pode ocasionar atos racistas como o sofrido por ela. Apesar de ter sofrido a injúria dentro da casa pública dos vereadores, Paolla conta que nunca sofreu nenhum tipo de discriminação por parte de outros parlamentares. “Apenas divergências políticas, mas nada relacionado a minha cor ou gênero”, relata.

Ivone Gossi se uniu a manifestação, e repudiou a agressão sofrida pela vereadora campineira (Foto: Luiz Oliveira)

Militante do Coletivo de Combate ao Racismo de Campinas, Ivone Gossi, 53, diz que apesar da libertação dos escravizados, os negros não tiveram seus direitos respeitados, e por isso se torna tão comuns atos de racismo como o sofrido pela vereadora Paolla. “Achei importante estar aqui hoje, porque existe um grupo que se sente superior por ter pele branca, como se vivêssemos ainda em um regime escravocrata”, conta ela. Ivone diz ainda que os negros representam 54% da população brasileira, mas que apesar disso, são tratados como minoria e desrespeitados. “Vivemos num país que é machista, racista, homofóbico e xenofóbico. Precisamos conscientizar a população que não podemos tolerar isso, porque nos machuca, nos magoa, e nos faz mal”, diz.

As estudantes Thaís e Taciane acreditam que o ato pode incentivar um amplo debate sobre o racismo em Campinas (Foto: Luiz Oliveira)

As amigas Thaís Bueno, 16, e Taciane Freires, 17, apesar da pouca idade, também estavam presentes no ato em apoio a Paolla Miguel. “No momento em que eu vi o que aconteceu, eu me senti muito agredida. Eu vi o vídeo sem conseguir respirar” conta Thaís. Para ela, apesar dos atos racistas serem muitas vezes negligenciados pela justiça, vir ao ato é extremamente importante para demonstrar seu apoio a vereadora. “Com esse ato, talvez a sociedade campineira se mobilize para pelo menos pensar, e ver que a gente existe, que o povo negro luta”, completa. Taciane, por sua vez, também acredita que o ato mobilizado em solidariedade a parlamentar pode fazer com que o povo de Campinas, última cidade do Brasil a abolir a escravidão, olhe mais para essa pauta. “O caso sofrido pela vereadora Paolla pode abrir nossos olhos, e mostrar oque acontece em todos os lugares, não apenas na rua”, diz Taciane.

Izalene Tiene, que foi prefeita de Campinas por 3 anos, espera uma mobilização popular ainda maior para o 20 de novembro (Foto: Luiz Oliveira)

“Minha presença aqui é de apoio a Paolla, nossa vereadora, e de repúdio a toda discriminação” diz Izalene Tiene, 78, ex-prefeita de Campinas. A assistente social aposentada, que atua no Movimento de Mulheres da Periferia de Campinas, diz que somente com atos como este, poderemos mudar o pensamento racista estruturado na sociedade. “Somente assim nós poderemos acabar com atitudes como essa, é reagindo e manifestando o valor e a importância das pessoas negras”, diz.

Izalene, que era vice do ex-prefeito Toninho em 2001 e assumiu o cargo após o assassinato do político, lembra que o feriado do 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, foi instituído em Campinas durante seu mandato, e espera que atos como este continuem na cidade. “Queremos que isso continue, e no dia 20, dia maior de luta, tenha muito mais gente pela defesa da dignidade e da vida dos negros”, completa.

A jornalista Marcelle diz que a busca pela representatividade negra na política deve crescer cada vez mais (Foto: Arquivo pessoal)

O racismo e a política brasileira

Marcelle Chagas, 37, jornalista e pós-graduanda da Universidade Federal Fluminense, diz que a sociedade tem evoluído bastante no sentido de entender os malefícios e os impactos do racismo. “Quando entendemos que o racismo nos impede de nos comunicarmos com determinado grupo social, percebemos o quão importante é a luta antirracista”, diz a militante do Movimento Negro Nacional. Coordenadora geral da rede Jornalistas Pretos de Comunicação, Marcelle diz ainda que falta bastante representatividade negra na política nacional. “Muitas vezes, foram eleitas pessoas negras que não acreditam em uma representatividade, oque acaba enfraquecendo o movimento”, conta ela.

Manifestantes levaram faixas e cartazes pedindo justiça a vereadora Paolla Miguel (Foto: Luiz Oliveira)

Segundo a jornalista, essas pessoas desestimulam a população negra a acreditar nessa pauta tão importante, que é estarem inseridos na política brasileira. “Acredito que não estamos bem representados, mas já está sendo feita uma organização para que em breve a comunidade negra ocupe mais ainda esse segmento da sociedade”, relata. Segundo ela, Paolla Miguel não é a primeira vereadora vítima de racismo, e não será a última. “Existem diversos casos de mulheres e homens negros, envolvidos na política, que foram alvo de ofensas racistas”, conta. “Isso só demonstra como a sociedade negra é afetada pelo racismo estrutural a anos, e o quanto é necessário que ocupemos o espaço político cada vez mais”, completa.

Orientação: Profº. Gilberto Roldão

Edição: Luiz Oliveira


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