Destaque

Mídia impõe conservadorismo religioso, diz pesquisadora

A avaliação é da professora Magali Cunha, na abertura de congresso internacional sobre religião e comunicação

A avaliação é da professora Magali Cunha, na abertura de congresso internacional sobre religião e comunicação

Por Oscar Nucci

Os principais meios de comunicação do país, controlados por 11 famílias, dificultam a pluralidade religiosa e impõem o conservadorismo em relação aos valores ligados à crença e à espiritualidade. A avaliação foi feita ontem (15) pela estudiosa e pesquisadora da área de comunicação e religião Magali do Nascimento Cunha, professora com doutorado em ciências da comunicação pela Universidade de São Paulo.

Magali foi responsável pela palestra de abertura no 1º Congresso Internacional de Comunicação e Religiões (Religiocom), promovido remotamente em parceria entre a PUC-Campinas e o Centro Universitário Adventista (Unasp). O evento reúne 340 estudiosos e conta com a apresentação de 122 pesquisas desenvolvidas em trabalhos de mestrado, doutorado ou iniciação científica.

“Recentemente, o SBT andou colocando no ar trechos da Bíblia, mas distorcendo completamente sua interpretação”, disse Magali ao analisar as relações entre mídia e religião. Ao fazer sua interpretação do texto bíblico, a emissora comandada por Sílvio Santos afirmou que a “mensagem bíblica” ali apresentada aos telespectadores recomendava que as pessoas não devessem criticar o governo e passassem a aceitar as ordens dos ricos, disse a pesquisadora.

“É um absurdo”, criticou Magali referindo-se ao fato de a emissora, por ser comercial, não poder fazer proselitismo religioso, principalmente de forma enviesada, “por vivermos em um Estado laico”.

A docente pontuou que “a representação das religiões no espaço público midiático no Brasil reflete predominantemente as perspectivas políticas e religiosas daquelas famílias, e acabam promovendo “um cristianismo conservador por afinidade”. Segundo defendeu, políticas dessa natureza só levam à exclusão e à intolerância.

 “A pluralidade religiosa, garantida pela Constituição, fica só no papel”, criticou a pesquisadora, uma vez que os meios de comunicação praticam o que chamou de “conservadorismo cristão”. Em função disso, muitos temas de interesse da sociedade ficam fora do debate público, a exemplo de assuntos ligados aos direitos civis, de gênero, sexualidade e liberdade de crença.

De acordo com Magali, atitudes como a do SBT são “puro oportunismo político”, o que é vetado pela legislação que regulamenta os meios de comunicação no país. No evento, que conta com a organização dos programas de pós-graduação em Ciências da Religião e Linguagens, Mídia e Arte (Limiar), da PUC-Campinas, Magali afirmou que – ao contrário dos estudiosos que propalaram o declínio das religiões – a relação com a espiritualidade tem se fortalecido nos últimos tempos.

Em função do panorama traçado por ela, Magali propôs o que chama de “desprivatização” da fé religiosa, o que obrigaria os meios de comunicação a abrir espaço para outras formas de vivência em relação à espiritualidade. Segundo a professora, além de propagarem uma imagem errônea das religiões cristãs, os veículos de comunicação ignoram a pluralidade de outras denominações existentes no país. “Há muita ignorância embalada por um imaginário da religião dominante”, comentou Magali, que é articulista da revista “Carta Capital”.

Magali também defendeu a pluralidade na representação midiática dos evangélicos, propondo, por exemplo, que até sambas-enredos procurem abraçar esse segmento social. “Os evangélicos são muito mais do que Felicianos, Malafaias e Damares”, complementou a coordenadora do grupo de pesquisa de comunicação e religião da Sociedade Brasileira para Estudos Interdisciplinares de Comunicação (Intercom).

A pesquisadora também apontou que o chamado “voto evangélico” ou “voto cristão” não teria sido decisivo para a eleição do presidente Jair Bolsonaro. “Isso não passa de um mito”, disse ela, pois o argumento não teria base científica. Magali citou dados do pesquisador Mário Peres, da USP, que revelam que apenas 10% dos eleitores levam em conta a religião do candidato na hora do voto.

Magali chamou a atenção para um conjunto de fenômenos sociais hoje interligados, que fariam a relação direta entre comunicação e religiosidade. Entre eles, citou a propagação de notícias falsas – as chamadas fake news – que encontram grande acolhimento no terreno da religiosidade. Segundo disse, é um problema a mais para a sociedade, que precisaria contar com o empenho de pesquisadores na hora de estudar os fenômenos religiosos. “Levar em conta os modos de ser, de viver e ver o mundo é nossa tarefa na pesquisa”, disse.

O congresso – que se encerra na noite desta quarta-feira (16) – contou com a presença do pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, Rogério Bazi, da PUC-Campinas, e do professor Allan Novaes, pró-reitor de Pesquisa e Desenvolvimento Institucional, da Unasp.

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Oscar Nucci


Veja mais matéria sobre Destaque

30 anos depois, legado de Senna ainda comove público


Acidente no autódromo de Ímola que matou piloto tricampeão mundial de Fórmula I ocorreu no dia 1º de maio de 1994


Casa de Cultura Tainã é espaço referência para cultura no bairro Vila Castelo Branco de Campinas


Local proporciona atividades culturais para todas as idades há 35 anos Por: Vitoria Nunes Em


Casa de Vidro: Uma Janela para a Arte e Arquitetura Brasileira


Museu histórico, é um símbolo da modernidade arquitetônica brasileira e patrimônio cultural. Por: Miller MitilLocalizado


Vinhos Micheletto é prato cheio para quem busca alta gastronomia na RMC


Localizada em Louveira, destino conta com degustação de vinho, restaurante e vista avantajada em meios


Goma: epicentro de produções artísticas e culturais


Espaço em Barão Geraldo é indicado para aqueles que buscam gastronomia vegana e criações locais


Lazer e Cultura em um só lugar, conheça o “Parque da Juventude”


A grande área verde de Itatiba, junta o entretenimento, o esporte e a natureza. Por:



Pesquise no digitais

Siga – nos

Leia nossas últimas notícias em qualquer uma dessas redes sociais!

Campinas e Região


Facebook

Expediente

Digitais é um produto laboratorial da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, com publicações desenvolvidas pelos alunos nas disciplinas práticas e nos projetos experimentais para a conclusão do curso. Alunos monitores/editores de agosto a setembro de 2023: Bianca Campos Bernardes Daniel Ribeiro dos Santos Gabriela Fernandes Cardoso Lamas, Gabriela Moda Battaglini Giovana Sotterp Isabela Ribeiro de Meletti Marina de Andrade Favaro Melyssa Kell Sousa Barbosa Murilo Araujo Sacardi Théo Miranda de Lima Professores responsáveis: Carlos Gilberto Roldão, Carlos A. Zanotti e Rosemary Bars.