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Preconceito contra idosos é tema de estudo da OMS

O aumento populacional da terceira idade e discriminação etária gera debates                                                                                                 

Por Mattheus Lopes

O recente estudo “Global Report On Ageism”, ou “Relatório Global sobre Preconceito de Idade” em tradução livre, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), busca informar a população sobre os impactos do preconceito baseado na idade das pessoas. Entre os debates sobre gênero, racismo, homofobia e outras pautas sociais, há o preconceito sobre a idade, denominado como “ageism”. O termo se refere à palavra “age” em inglês, traduzido como “idade”, ou também pode ser traduzido como “etarismo”, referente ao termo “faixa etária”.

Um dos pontos principais do compilado de dados produzido pela OMS foi o compromisso de indicar aos leitores como o etarismo se manifesta na vida dos idosos. Segundo a publicação, o “ageism” pode se manifestar por meio de: estigmas, aquilo que é suposto sobre como uma pessoa idosa deveria ser ou agir; preconceitos, como alguém se sente em relação à pessoa idosa, que muitas vezes é vista como um “atraso” pela sociedade; e por fim, a discriminação, que é a forma que se age quanto aos idosos, ao não incluir tais pessoas em atividades cotidianas ou limitando o acesso a este grupo de individuos. Ainda que o termo etarismo englobe o preconceito etário que outros grupos também poderiam enfrentar, esta reportagem aborda apenas as dificuldades da terceira idade.

De cima para baixo: “etarismo se refere à forma como pensamos (esteriótipos), sentimos (preconceito) e agimos (discriminação) contra nós e outros, nos baseando em idade”. (Foto: OMS/Reprodução)

“Hoje, por conta do aumento da população idosa, nós temos mais idosos participando da sociedade. Nesse sentido, nós como sociedade começamos a ter mais encontros intergeracionais” afirma Cíntia Liesenberg, professora de relações públicas da PUC-Campinas e Doutora pela USP, que é autora de uma tese sobre os perfis da velhice em diferentes modalidades midiáticas, e como isso impacta a percepção do envelhecimento humano. Por conta desta comunhão de idades diferentes, o etarismo é instigado a se fazer presente em diversos setores sociais em nível “institucional, social e interpessoal”, de acordo com o estudo da ONU. Um dos maiores propulsores do etarismo é a má associação relacionada ao envelhecimento, aspecto internalizado no cotidiano que é expressado desde comentários sobre uma pessoa não aparentar a sua idade, até em atitudes mais graves, como as vivenciadas durante este período de pandemia do coronavírus. “Imagina você estar nessa faixa etária e ver os jornais reproduzindo discursos de que se aquela pessoa [idosa] chegar no hospital, alguém mais novo que ela irá ter vaga e você não? Imagina o efeito social e psicológico disso”, afirma a professora Cíntia.

Já quanto à terceira idade no campo do trabalho, o etarismo se pronuncia nas concepções falhas de que um idoso vive um cotidiano estritamente não participativo e muito menos inovativo, numa ideia falha de segregação supostamente escolhida pelo indivíduo, não imposta por terceiros. “Nós deveríamos ter uma maior participação desses idosos institucionalizados em casas de repouso, no meio social. Temos que ter políticas públicas para isso, pois não é porque essas pessoas precisam de um maior cuidado, que elas são apáticas e à parte da sociedade”, afirma Cíntia.

Quanto ao cenário trabalhista brasileiro, existe uma contradição entre discurso e ações públicas. Por um lado, temos uma narrativa governamental questionando a previdência social, e aumentando o tempo de contribuição para faixas etárias mais elevadas. Porém, no campo de trabalho, onde esta narrativa se concretiza por meio de políticas públicas, temos ações que contemplam apenas o público jovem. “A partir dos 50 anos, de maneira geral, você já é considerado velho para o mercado de grandes empresas. E como fica este vácuo no caso da pessoa idosa que não encontra uma recolocação no mercado, mas ainda precisa trabalhar para conseguir a sua aposentadoria?”, questiona Cíntia Liesenberg.

Cíntia Liesenberg acredita nos encontros intergeracionais para combater o etarismo na sociedade. (Foto: Redes sociais)

Movimento empresariais que buscam promover uma boa relação pública, se posicionando e implementando ações de diversidade de gênero, raça, sexualidade e habilidades, ainda falha em inserir a problemática da baixa representação de faixa etária e os benefícios que uma política e programas intergeracionais poderiam promover dentro das instituições. “As empresas se mobilizam muito pela questão da visibilidade”, acredita a professora, levando em conta os impactos que essa diversidade causa em certos grupos sociais que acabam promovendo uma marca, diretamente ou indiretamente. Contudo, quanto aos idosos, por questão de menor adesão e acolhimento dos mecanismos digitais onde muitas das discussões e ações publicitárias são feitas, essa expansão de diversidade no campo de trabalho não os atinge, pelo fato de não haver uma demanda para tal.  “Existem grupos relacionados à diversidade que se posicionam mais, e existem grupos relacionados ao envelhecimento que precisam de maior visibilidade”, afirma o docente.

De acordo com o estudo da OMS, as melhores maneiras de acabar com o etarismo são uma inserção educacional e uma intervenção entre pessoas de diferentes idades, para que a desmistificação da velhice aconteça, e não excluir um idoso que poderia contribuir nos espaços que ocupa. Para evitar colocá-los apenas no local da passividade, deve-se pensar nos pequenos exemplos do cotidiano. “Eu tenho uma vida bem corrida, desde pequena eu tenho um ritmo de querer participar de tudo”, conta Maria Aparecida, 67, formada em economia e administração pela PUC-Campinas. “Eu sempre fui bem aceita pelo pessoal de menor idade”, conta a entrevistada, que diz gostar de viajar e de se aventurar pelo mundo.

A também ex-atleta de basquete narra sobre uma viagem que fez em 2019, onde trilhou 300 quilômetros do famoso Caminho de Santiago de Compostela, que parte de Portugal até a Espanha. “Eu fiz esse caminho com 65 anos e andava junto com o pessoal jovem de 30 anos. Recebia muito carinho por ser idosa, mas mesmo assim ainda participava de muitas atividades”. Maria Aparecida também participa do projeto Vitalità feito pela PUC Campinas, onde são realizadas atividades de inserção dos idosos na modernidade, como pesquisa e inovação, melhoramento da qualidade de vida e mais.

Deve-se analisar também os meios de comunicação que ditam como uma compreensão social irá abordar o envelhecimento. Os produtos de anti-idade e os estereótipos que englobam a pessoa idosa são os caminhos para que o etarismo internalizado ocorra entre as pessoas, e que por ser enraizado coletivamente. Caso não houver discussões sobre, a rejeição aos sinais do envelhecimento continua. “Nós temos uma indústria muito forte voltada para combater as marcas do envelhecer, pois nós temos uma sociedade que fala em nome apenas de uma juventude excessivamente proativa, uma inovação constante e o descarte daquilo que é velho. Não é que não exista uma inovação na velhice, é pelo contrário, você só tem que saber olhar pela perspectiva correta”, Liesenberg conclui.

Orientação: Profa. Amanda Artioli

Edição: Leonardo Fernandes


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