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Ensaio confere Prêmio Marielle a irmãs campineiras

Cíntia Rodrigues, coautora: “Somos pessoas que vivem isso na pele todos os dias”                       

A professora Cíntia Rodrigues dos Santos: “Muitos capítulos, escrevemos chorando” (Imagem: Videoconferência)

Por: Beatriz Mota

“Mas como uma mulher não pode ser o que ela quiser ser?”. A pergunta que a professora Cíntia Rodrigues dos Santos, de Campinas, ouviu da filha de 7 anos foi o elemento disparador para algumas das histórias que narra no ensaio “Por ela, por elas, por nós”. A obra, que venceu a 1ª edição do Prêmio Marielle Franco de Ensaios Feministas, foi produzida em parceria com sua irmã Ana Paula Rodrigues dos Santos.

Foi para as filhas que as irmãs dedicaram o ensaio que se tornou livro depois de ganhar o prêmio, por unanimidade de escolha da banca avaliadora, composta pela escritora Marcia Tiburi; a filósofa, escritora e ativista antirracismo Sueli Carneiro; e a professora, escritora e jornalista Anielle Franco, diretora do instituto que leva o nome da irmã Marielle, vereadora assassinada há 3 anos no Rio de Janeiro.

Cíntia conta que uma das juradas, Sueli Carneiro, comparou sua escrita com a escrita da romancista e poeta Maria da Conceição Evaristo, que chama suas obras de “escrevivência”. “Nós não somos teóricas dessa área, não somos estudiosas do feminismo negro nem da área de ciências sociais. Nós somos pessoas que vivem isso na pele todos os dias”, apontou Cíntia em entrevista ao Digitais.

Contam as irmãs que, depois que se tornaram mães, sentiram a necessidade de falar sobre essas questões, principalmente quando viam que episódios de racismo que lhe aconteceram na infância se reproduziam no cotidiano das filhas. “Nós somos muito amigas e, desde a adolescência, conversávamos sobre os motivos de acontecerem algumas coisas com a gente. Na condição de mães, tornou-se urgente falar sobre racismo dentro de casa”, relatou Cíntia.

Cíntia e o ensaio: “A mensagem é: estabeleça parcerias” (Imagem: Videoconferência)

Filhas de pai militar e advogado, e de mãe professora do ensino fundamental, as irmãs nasceram em Campinas e cresceram na Grande São Paulo, em um lar onde assuntos sobre feminismo e racismo tinham muita importância. O livro, com 5 capítulos e 79 páginas de texto corrido, foi todo inspirado nas reflexões que tiveram com a família. Dividido em 3 partes – Negra menina, Negra mulher e Negra mãe ­­– a obra trata de diversos episódios de racismo e machismo que as irmãs sofreram durante a vida.

Formada em artes visuais pela PUC-Campinas, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Linguagens, Mídia e Arte pela mesma instituição e especialista em design, Cíntia é professora de artes e conta que escolheu a profissão pela paixão pelo ensino, que herdou da mãe. Ela é a caçula de 3 irmãos. Sua parceira na obra, Ana Paula, é engenheira civil, e foi quem teve a ideia de escrever o ensaio, depois de ficar sabendo sobre o concurso. Em três meses, concluíram a obra, agora editada pela Contra Corrente.

“Foi muito difícil relembrar histórias doloridas para colocar no livro. Muitos capítulos, escrevemos chorando ou até mesmo deixamos para a última hora, por ser muito difícil retomar algumas passagens. São tantas opressões que, até digerir tudo e colocar no papel, foi bem difícil”, relatou Cíntia. As irmãs organizaram o ensaio e escreveram a quatro mãos encontrando-se exclusivamente por telefone em função das políticas de distanciamento social decorrente da pandemia. “A principal mensagem que quisemos passar com o livro é o poder da parceria”.

Cíntia conta que foi uma “grata surpresa” ganhar o prêmio e que nada seria possível sem o apoio de Ana Paula. “O poder que a mulher conquista por não soltar a mão da outra mulher é enorme. A parceira que eu tenho com a minha irmã é algo que me transforma e me ajuda a sobreviver, que me ajuda a enfrentar essa sociedade e lutar. É esse apoio que me dá suporte para viver. A mensagem é: estabeleça parcerias”, aconselhou.

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Letícia Franco


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