Cultura & Espetáculos

Artistas não brancos são maioria na Bienal de SP

“Indio Genius Brazil”, do indígena filipino Kidlat Tahimik, está entre as 1.100 obras da exposição

Por: Taís Regina

Pela primeira vez, a 35º edição, da bienal de arte de São Paulo, aberta ao público até o dia 10 de dezembro no Parque do Ibirapuera, conta com a maioria de artistas não brancos. Pelo menos 80% de seus 121 expositores são negros e indígenas que se inspiraram no tema “Coreografias do Impossível”, proposto por quatro curadores – uma outra novidade, já que o evento sempre contou com apenas um especialista nessa função.

O artista filipino Kidlat Tahimik e a obra “Indio Genius Brazil”, explicando à imprensa seu processo de criação (Foto: Taís Regina)

“Queríamos criar liberdade para novas narrativas, essa foi a nossa primeira coreografia do impossível”, disse Grada Kilomba, artista, escritora portuguesa e uma das curadoras, durante a coletiva de imprensa que inaugurou o evento. Coreografar com o impossível, segundo afirmou, é uma metáfora para expressar como a humanidade encontra espaços para se movimentar em meio a crises, diferenças, preconceitos, injustiças e a própria pandemia.

De acordo com Grada, a curadoria plural trouxe mais representatividade cultural e linguística à bienal, além de incorporar novas cores às 1.100 produções inscritas no evento. Nesta edição, a bienal conta com 40 artistas brasileiros, entre os quais há nomes como Ayrson Heráclito, Tiganá Santana, Aline Motta, Denise Ferreira da Silva, coletivo Ocupação 9 de Julho, além de obras de mulheres e crianças que vivem nas ocupações do MSTC. O acervo conta também com uma instalação denominada “Sauna lésbica”, festejando a diversidade.

“Cavalo de Tróia”, da mitologia Grega, esculpido por Kidlat Tahimik especialmente para a 35ª Bienal de SP (Foto: Taís Regina)

A cidade de Campinas está presente com a exposição “Quilombo Cafundó”, da artesã Regina Aparecida, de 62 anos, líder da comunidade. Ela leva para o evento os primeiros registros jornalísticos do Cafundó, dispostos em placas e varais. Registros estes que estão sendo contadas através de fotografias, matérias jornalísticas publicadas durante a década de 1970 e filmes gravados na mesma época.

“Ver nossa história na bienal é mais uma conquista e um crescimento para nossa comunidade. Além de ser importante mostrar para o mundo o que é um quilombo, é reafirmar que eles resistem até hoje e deixar nosso legado para aqueles que vierem depois de mim”, disse Regina Aparecida.

A exposição também conta com 12% de participantes de origem indígena, trazendo a representatividade dos povos originários brasileiros. As 18 telas do coletivo Mahku, produzidas no local alguns dias antes da abertura, são pinturas coloridas caracterizadas pela presença de figuras humanas e não humanas. A intenção é apresentar tradições míticas e histórias ancestrais, descritas nos cânticos rituais, cujo aspecto comum é a presença viva da natureza e dos seus entes.

O cinema indígena de Yuri U Xeatima The, no filme “A Pesca Com Timbó”, conta histórias íntimas do povo Yanomani sobre dois de seus rituais. O primeiro aborda a estratégia da pesca realizada com cipó macerado e colocado em balaios em determinados trechos do rio em tempo de seca. O segundo é sobre a preparação da yãkoana para uso ritual dos xãmas, sob a perspectiva indígena.

A artista campineira Regina Aparecida: “Ver nossa história na bienal é mais uma conquista e um crescimento para nossa comunidade” (Foto: Taís Regina)

Entre os artistas internacionais, está o filipino Kidlat Tahimik, autor da obra “Indio Genius Brazil” especialmente concebida para a bienal, que precisou de três contêineres para chegar ao país. Na criação, vê-se estatuas da mitologia grega com a cultura de seu país, cercando um navio de madeira junto a personagens infantis famosos, como Mickey, Homem Aranha e Pica Pau.

O artista alemão Daniel Lie comparece com a obra “Outres”, uma instalação imersiva composta por vasos de terracota, colunas e arranjos de crisântemos amarelos e brancos, além de tecidos de algodão tingidos. Daniel buscou criar um espaço onde o silêncio conduzisse a relação entre os presentes.

A obra de Castiel Vitorino Brasileiro, de 27 anos, “Montando a História da Vida”, é uma instalação de alvenaria que, ao ser olhada, não permite ver ou entender a qual período de tempo se refere. “É um museu fictício dos objetos roubados pela polícia. É a vida a partir da transmutação. São vários elementos essenciais, matérias primas em vários estágios de composição e possibilidades”, descreveu Castiel. Na visão da artista, a obra é um questionamento à violência policial contra as pessoas negras.

“Nesta bienal, há muitas obras que vão trazer o impossível, mas que se apresentam através de uma estratégia de beleza. É como endereçar problemas difíceis que cruzam nossas vidas, impossibilitando uma vida plena, o acesso à justiça, à liberdade e à ideia mínima de igualdade, mas que ainda assim, fazem sem reencenar a violência”, afirmou Hélio Menezes, um dos curadores do evento.

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Isabela Meletti


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