Cidade é a segunda do interior paulista a aderir ao campeonato, seguindo Campinas

Por: Raquel Santana e Thais Helena

Artur Nogueira ingressou no campeonato Taça das Favelas. Anteriormente restrita a Campinas, a competição expandiu-se para mais um município, o que foi oficialmente anunciado em fevereiro de 2024. Os jogos da primeira edição da Taça das Favelas em Artur Nogueira começam em 11 de maio, reunindo jovens atletas de 14 a 17 anos na modalidade de futebol de campo, masculino e feminino.

No total, 12 equipes participam do torneio. Na categoria feminina, os times representantes dos bairros Blumenau, São João dos Pinheiros, Vila Nogueira e Vista Alegre entrarão em campo em busca do primeiro lugar. Já na categoria masculina, oito times vão compor a competição: CDHU, Conservani, Itamaraty, Jardim Planalto, Parque das Palmeiras, São João dos Pinheiros, Sacilotto II e Vista Alegre.

As inscrições foram feitas entre 26 de fevereiro e 3 de março. Posteriormente, de 6 de março a 4 de abril, os times realizaram peneiras internas para selecionar os atletas que entrarão em campo. Após a entrega da documentação das equipes em 27 de abril, procedeu-se ao sorteio de grupos em 3 de maio.

Agora, é aguardada a cerimônia de abertura da primeira Taça das Favelas de Artur Nogueira, marcada para 11 de maio, bem como início dos embates das duas categorias do campeonato, que estão previstos para acontecer no Estádio Municipal de Artur Nogueira. O cronograma de jogos está previsto para encerrar em 22 de junho, com a final da categoria feminina, e em 30 de junho, com o último confronto da categoria masculina.

Para o coordenador da Central Única das Favelas (CUFA) de Artur Nogueira, Ednaldo Moreira, o campeonato irá gerar grande visibilidade para o município e para os atletas da cidade. “Se pararmos para analisar, temos muitos meninos aqui com um talento enorme no futebol, mas estão perdidos, não têm oportunidade”, expôs. “Essa é a chance desses meninos de 14 a 17 anos realizarem o sonho deles. Não estamos dizendo que dois ou três garotos aqui vão embora para um clube, mas pelo menos terão uma oportunidade. É isso que a Taça traz”, continuou Ednaldo.

Já Michele Pereira, presidente da CUFA Campinas e Região Metropolitana, explica que a Taça das Favelas é um projeto social que transforma vidas. “A gente traz esses jovens para o caminho do esporte, a gente oportuniza. Eles sabem que podem realizar grandes sonhos. A importância da taça é essa: levar oportunidade, reconhecimento e pertencimento para esses jovens de periferia”.

Primeira vez em campo

O time representante do bairro Blumenau é uma das equipes que fará sua estreia em um campeonato de futebol de campo. Reconhecido pelo desempenho nas quadras de futsal, a equipe feminina está se preparando para um novo capítulo em sua trajetória esportiva em Artur Nogueira.

“Essa modalidade nunca existiu em Artur Nogueira. Vai ser tudo novo para nós. Fizemos alguns amistosos para nos prepararmos, tiramos bons resultados, mas buscamos algumas meninas mais experientes para ajudar a compor a equipe. Todo campeonato é igual, não pode faltar vontade e fé que, se Deus quiser, vamos chegar no objetivo”, comentou Dyeno Cardoso, de 32 anos, técnico do time.

Ele afirma que espera encontrar bons times em campo, mas que almeja confrontos equilibrados. “Vamos estar preparados para enfrentar de igual para igual. Já temos uma base do nosso time, a peneira serviu para conhecer novas meninas e para selecionarmos algumas”, explica.

Apesar do desafio de introduzir sua equipe em uma nova modalidade esportiva, Dyeno mantém altas expectativas quanto ao desempenho das atletas, afirmando que elas estão preparadas para brilhar no campeonato.

De time para time

Francisco Rosa, treinador do time feminino campineiro São José que disputou a edição de 2023 da Taça das Favelas de Campinas, compartilhou a experiência do torneio e expôs dicas para equipes estreantes no campeonato.

Durante os jogos, o time feminino do São José conquistou a segunda posição, sendo derrotado na final pela equipe Paranapanema. Mesmo não alcançando o objetivo esperado, as atletas tiveram a oportunidade de vivenciar experiências únicas proporcionadas pela Taça das Favelas, um ambiente exclusivo para atletas amadoras e iniciantes. “A Taça traz para a equipe uma oportunidade, mesmo que seja uma oportunidade única. Aquele momento de alegria”, comenta Francisco.

Rosa ainda expõe o quanto o campeonato é benéfico para crianças e adolescentes, uma vez que induz a reeducação e disciplina dos atletas. “Além de ser vitrine, isso ocupa a mente dos garotos e das garotas para que eles não fiquem em uma sede de drogas e outras coisas que vêm ocorrendo em torno das nossas comunidades”.

Por fim, para as equipes estreantes, ele aconselha atenção às possíveis revelações de talento dentro dos times. “Sem a Taça, talvez essas revelações nunca tenham a oportunidade de serem vistos, uma condição financeira adequada”, explica o técnico do São José.

Anúncio oficial

A Taça das Favelas de Artur Nogueira foi oficialmente anunciada no dia 26 de fevereiro de 2024, em evento promovido na praça Céu das Artes. A cerimônia de lançamento do torneio na cidade contou com membros da CUFA, como Ednaldo Moreira e Michele Pereira, além de personalidades políticas.

A cidade nogueirense se consagrou como a primeira do interior paulista, além de Campinas, que já promove os jogos desde 2019, a aderir à Taça das Favelas. Durante o evento, Michele expôs o entusiasmo de expandir o trabalho esportivo e social. “Artur Nogueira foi a primeira cidade a acolher a Taça”, expressou.

A presidente da CUFA Campinas e RMC ainda expôs que o trabalho de levar a Taça das Favelas para uma nova cidade foi fácil e contou com apoio de diversos gestores. “É um trabalho de formiguinha. Então, junto com o prefeito, Secretaria de Esportes, Secretaria de Cultura, a gente conseguiu viabilizar esse projeto”, concluiu Michele.

Problemática em Artur Nogueira

Com aproximadamente 55 mil residentes, Artur Nogueira não é reconhecida por áreas extensas caracterizadas como “favelas”, levantando dúvidas na população sobre a realização de um torneio com essa denominação.

Ednaldo Moreira, coordenador da CUFA local, se posicionou sobre a problemática e destacou a existência de bairros com carências, esclarecendo que o propósito do campeonato é proporcionar oportunidades esportivas para crianças e jovens. “Nós não temos o nome ‘favela’ aqui, mas temos comunidades”, ressaltou.

Moreira também destacou que o campeonato proporciona uma vitrine para jovens atletas em busca de oportunidades de carreira profissional, pois a Taça das Favelas atrai ‘olheiros’ do mundo do futebol. “Onde os nossos ‘moleques’, que são bons, teriam a chance de vivenciar isso se não fosse a Taça das Favelas?”, questionou o coordenador da CUFA Artur Nogueira.

Taça das Favelas

Disputada pela primeira vez em 2012, no Rio de Janeiro, a Taça das Favelas é um torneio realizado pela Central Única das Favelas (CUFA) e produzido pela InFavela, empresa da Favela Holding. Dez anos após sua primeira edição, alcançou um patamar nacional de competição por meio do torneio intitulado ‘Favelão 2022’. A final do campeonato ocorreu na Arena Barueri e foi transmitida ao vivo por canais de televisão aberta.

Durante seus mais de 10 anos de existência, a Taça das Favelas já revelou talentos para o futebol profissional, como o volante Patrick de Paula, que participou da competição no Rio de Janeiro pelo Complexo Santa Margarida. Atualmente, o atleta joga no Botafogo e é considerado a aquisição mais cara do clube, tendo custado R$30 milhões.

Além de Patrick de Paula, a Taça também revelou Matheus Alessandro, que se profissionalizou no Fluminense e agora joga pelo Boavista, além da jogadora Karol Mineira, que atua no Gil Vicente Futebol Clube, mas ganhou destaque por sua performance no Atlético Mineiro.

Orientação: Prof. Gilberto Roldão

Edição: Gabriela Moda