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Paixão de Cristo ganha versão com anjos brincalhões

Rafael e Gabriel têm traços da cultura nordestina na montagem que estreou no Castro Mendes

Por: Emily França

Os anjos brincalhões são interpretados pelos atores Bruna Lopes e Chico Edson (Foto: Emily França)

Encenada há 18 anos em Campinas, a peça Paixão de Cristo ganhou dois novos personagens na versão apresentada nesta Semana Santa, que teve estreia na quinta-feira, 6, e reapresentação marcada para este sábado e domingo. Os anjos Rafael e Gabriel, interpretados por Bruna Lopes e Chico Edson, se apresentam como figuras divertidas e expressivas, que mudam a atmosfera da encenação da passagem do filho de Deus pela Terra.

O personagem brincalhão, também denominado “brincante” no jargão do teatro, é aquele que dança, canta, gesticula e se movimenta intensamente pelo palco, trazendo a espontaneidade que resultou na modernização para a narrativa do espetáculo. Os anjos Rafael e Gabriel transformaram a representação dos anjos, com participações que incitam a curiosidade durante toda a apresentação.

“A gente traz esse elemento da cultura popular brasileira, especialmente nordestina, para transfigurar a ideia de anjo. Tanto que algumas pessoas perguntam: Mas você é Rafael? Você está vestida de mulher! E não, eu sou Rafael, e essa é só minha roupa. Anjos não têm gênero, e está tudo bem”, explica a intérprete do personagem, Bruna Lopes, atriz diretora do núcleo de Teatro da PUC-Campinas.

O diretor Walter Rhis reúne músicas autorais e do cancioneiro brasileiro na versão atual (Foto: Emily França)

Walter Rhis, que faz teatro desde 1976, tem como característica produzir peças que fujam do esperado. “Esse ano, por exemplo, buscamos inserir os brincantes. Chegou um amigo do Ceará e eu já tinha essa dramaturgia. Eu trabalho muito essa coisa brincante. Meu teatro é despojado e, muitas vezes, voltado para a rua, quando é o teatro popular. A peça ficou um pouco popular e um pouco clássica”, descreveu o diretor.

A encenação da Paixão de Cristo é considerada de enorme importância para a comunidade, visto que a produção busca integrar todas as nuances da arte. “É um espaço onde eu tenho a oportunidade de colocar meus alunos da Companhia Cenarte no palco. Nosso elenco é profissional e amador ao mesmo tempo, e adoramos a diversidade. Maria Madalena, por exemplo, é uma mulher transsexual. É arte, e a arte fala”, diz Walter.

Atores profissionais e amadores compõem o elenco da tradicional montagem que estreou no Castro Mendes (Foto: Emily França)

Bruna, que ajudou a dirigir o espetáculo, classifica a peça como uma vitória popular quando menciona o tempo de preparação. “Ela reúne o povo de Campinas, com suas experiências ou não, em teatro. O Walter juntou gente de diversas idades, de diversos cantos da cidade, num trabalho muito enxuto, de apenas 2 meses. Eu acho que foi mesmo uma vitória popular”.

A jornalista Lázara Paes Leme, foi à sessão de quinta-feira acompanhada de seu filho Bruno, para assistir novamente à peça, devido à nova estrutura, que se renova e traz cenas inusitadas. “É a segunda vez que assisto ao espetáculo e ele vem se aprimorando. Faz pelo menos 5 anos que assisti pela primeira vez, e agora vim na expectativa de ver a repaginada que teve”.

Ao avaliar a essência do trabalho de direção, Lázara disse ser “legal”, porque em todos os espetáculos, Rhis procura incluir a comunidade. “Os figurantes, por exemplo, em parte não são atores profissionais, mas estão se esforçando e tendo a oportunidade de estar em cena. É bem bacana isso”, completou

Para além da estrutura da peça, as mensagens do personagem Jesus deixam diversas reflexões que se perpetuam após o feriado da Sexta-Feira da Paixão. O ator que interpreta o filho de Deus é Tiago Monteiro, que se sentiu atraído em atuar na peça em função da beleza da história encenada.

O ator Tiago Monteiro: “Poder falar e mostrar o que é amor e abdicação é o viés no qual me apego” (Foto: Emily França)

“Poder falar e mostrar o que é amor e abdicação é o viés no qual me apego para fazer o espetáculo. A reflexão que me deixa é de olhar à nossa volta, olhar principalmente para as pessoas como seres humanos que necessitam da nossa atenção, e que na maioria das vezes têm muito a nos ensinar”, pondera o ator.

Segundo Tiago, não se percebe na sociedade atual reflexos dos ensinamentos deixados por Cristo. “A humanidade tem se fechado em seus ciclos, sem dar abertura para pessoas diferentes em sua forma de pensar e ser. Jesus enxergava todos como um só, desde os que pecavam até os que eram menos favorecidos”.

O espetáculo, que reuniu mais de 300 pessoas na apresentação de estreia, não foi contemplado por editais de fomento neste ano. Por isso, os produtores conseguiram licença para apenas um dia de apresentação no Teatro Municipal Castro Mendes. As próximas apresentações serão no Espaço Cultural Maria Monteiro, neste sábado, 8, às 18h; e no CEU Mestre Alceu, no domingo, às 18h.

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Melyssa Kell


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