Noticiário Geral

Dieta para crianças autistas exige cuidados

Pesquisa mostra que crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentam problemas de seletividade alimentar

Por: Ewerton Ramos e Leticia Viganó

O Mês de Conscientização sobre o Autismo, celebrado em abril, traz à luz o tema, que antes era pouco discutido na sociedade. Segundo o Center of Diseases Control and Prevention (CDC), estima-se que, em todo o mundo, 70 milhões de pessoas têm Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo 2 milhões no Brasil. Muitas crianças diagnosticadas com TEA apresentam seletividade alimentar, o que faz com que o momento da alimentação seja um desafio para a família. 

De acordo com a Organização Neurodiversa pelos Direitos dos Autistas (ONDA), cerca de 60% a 80% das crianças com TEA são seletivas. Ou seja, elas podem rejeitar certos alimentos por diversos critérios, sendo alguns deles, cor, textura e temperatura. É o caso de Sara, de apenas 4 anos, diagnosticada com TEA no início de 2019, quando tinha apenas 1 ano e 4 meses.

A designer gráfica Samira Pizarro, que é mãe de Sara, relata que desde os 6 meses a filha apresentava dificuldades para ingerir outros alimentos além do leite. “No início foi um processo bem difícil. Ela não tolerava, fazia cara feia, parecia que eu estava dando remédio pra ela”, conta Samira. Com o auxílio de profissionais especializados para o cuidado de crianças com TEA, a mãe passou a testar os alimentos de acordo com o que era aceito e o que era rejeitado pela filha.

Entre os alimentos favoritos de crianças autistas estão os industrializados, isso porque eles não apresentam uma variação de sabor. “Se você pega uma bolacha ou um suco industrializado, esses alimentos terão o mesmo gosto sempre. Já uma fruta, por exemplo, pode variar a cada alimentação, o que faz com que as crianças rejeitem com maior facilidade”, explica a nutricionista Mariana Aspasio, especializada em pediatria, hebiatria, e nas doenças crônicas degenerativas não transmissíveis.

Justamente os itens industrializados são os favoritos da pequena Sara. O café da manhã e os lanches são restritos a uma bolacha de sabor e marca específicos, leite vegetal e um doce de banana sem açúcar, porque o açúcar possui uma textura diferente, que não a agrada. Samira Pizarro, mãe da criança, lembra que foi a partir desses itens que surgiu o prato principal do aniversário de 4 anos da menina, em outubro de 2021. “Eu queria fazer um bolo, mas como não podia, e sabia que ela não iria querer, coloquei em um prato os itens que eu sabia que ela comia”, contou a mãe. Ao redor do prato, as bolachas de chocolate e, no centro, o doce de banana.

Entre os pontos que devem ser observados pelos pais para uma possível seletividade por parte do filho, está a exclusão de um grupo de alimentos, a alimentação de apenas itens com uma determinada textura, e a criança que antes comia de tudo e de uma hora para outra, deixa de comer. Segundo a nutricionista Mariana, esses são sinais que podem indicar uma deficiência nutricional. “Nos casos mais severos, a criança vai consumir até 5 tipos de alimentos, apenas”, explica a especialista.

Para os pais de crianças com restrição alimentar, a dica é não deixar de oferecer, aos poucos, novos alimentos para os filhos. Segundo a especialista, é um trabalho desafiador oferecer algo novo todos os dias para que em um determinado dia a criança aceite o alimento. “Se os pais não oferecerem, eles tiram a oportunidade do filho de experimentar coisas novas”, ressalta.

Tem casos que nem é necessário oferecer. A designer Samira Pizarro conta que um dia a filha que não comia nenhum doce a surpreendeu. “Ela pegou a embalagem e me trouxe. E eu pensei que ela não ia comer. Mas não é que ela comeu? Foi um dia histórico e muito bom pra mim”, relata.

A nutricionista Mariana Aspasio ressalta que as crianças autistas não são as únicas que podem desenvolver uma seletividade alimentar durante a infância, mas que é comum entre as crianças com o espectro. Segundo dados da ONDA, em média 25% de crianças típicas apresentam seletividade alimentar. “A criança pode não comer por diversos motivos. Não é porque ela é autista, não é só uma questão comportamental ou sensorial. Muitas causas podem levar a essa seletividade, e isso deve ser muito bem avaliado por diversos profissionais”, explica Mariana.

Segundo a especialista, a seletividade pode ser revertida após um tratamento, seja em crianças típicas ou crianças autistas. Ela ressalta e alerta a importância dos pais nesse momento. “Importante é o diagnóstico de TEA quanto antes. Quando criança a plasticidade cerebral favorece para trabalhar a alimentação com a criança”, aponta a nutricionista. Ela finaliza falando que um ponto importante é a família procurar um apoio psicológico para esse processo. “A família precisa estar bem para cuidar dessa criança”, explica.

Sara começou recentemente um tratamento em uma clínica em Campinas, para tratar problemas gastrointestinais, muito comuns em crianças com TEA. Todos os dias ela vai à escola pela manhã, em Sumaré, onde vive com os pais, e no período da tarde, sua agenda é lotada: passa por terapia, nutricionista e outros especialistas. A família também tem o apoio terapêutico. Hoje, após o tratamento, ela ainda apresenta um grau de seletividade, entretanto, mais leve do que quando iniciou a introdução alimentar, época em que possuía um grau severo de restrição.

Orientação e edição: Prof. Artur Araujo


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