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Professora Isabel Bertevelli (no alto) lembra a cantora Elsie Houston em centenário do movimento paulista
Por: Vitória Landgraf
Os valores machistas do início do século XX contribuíram para que as mulheres que atuaram na Semana de Arte Moderna de 1922 e nos anos que se seguiram não registrassem suas narrativas e, consequentemente, acabassem esquecidas pela história cultural brasileira. A afirmação é de Marina Mazze Cerchiaro, cientista social, pós-doutoranda no Museu de Arte Contemporânea da USP e coordenadora de projetos e publicações da Rede de Arquivos de Mulheres (RAM). Ela participou de um dos eventos destinados a revisitar o marco histórico que completa seu primeiro centenário, em em seminário virtual promovido, na última quinta-feira (17), pelo canal do Sesc-São Paulo no YouTube.
O debate online contou com a participação das docentes Ana Paula Cavalcanti Simioni, socióloga e professora do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, e Isabel Bertevelli, mestre em Arte/Música pelo Instituto de Artes da UNESP. O evento trouxe nomes de autoras modernistas brasileiras que — segundo as pesquisadoras — tiveram papéis importantes em seus respectivos campos artísticos e são, atualmente, menos reconhecidas.
“Só duas mulheres não bastam”, ponderou Ana Paula ao dizer que as pioneiras no cenário artístico, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, não eram, no entanto, as únicas modernistas. Entre as mulheres “esquecidas” da Semana de 22, Ana destaca a trajetória da pintora, decoradora e tapeceira Regina Gomide Graz, uma figura que,“de certa maneira, foi apagada ou entendida como colaboradora do marido, o pintor John Graz, o qual era quem assinava as obras”.
O nome de Regina Graz não consta no catálogo da exposição. No entanto, a docente apresentou um dos indícios de sua presença, um esboço da localização de cada artista no saguão, realizado por Yan de Almeida Prado a pedido da historiadora da arte Aracy Amaral. “Nesse desenho, os nomes de Regina e seu marido estão localizados à esquerda de Anita Malfatti”, apontou a socióloga.
Isabel Bertevelli, professora colaboradora do projeto “Música para todos” do IA-UNESP, apontou a cantora e folclorista Elsie Houston como uma das modernistas que mais contribuíram para a renovação musical no Brasil a partir do ano de 1920. Segundo a musicista, ainda que em um ambiente majoritariamente masculino, Elsie foi uma cantora que não se limitava a cantar, mas também era uma pesquisadora — algo incomum para a época.
“Na Semana de 22, ela segue praticamente desconhecida, exceto por uma foto emblemática em que ela aparece ao lado de grandes personalidades do evento, como a própria Tarsila, mostrando sua aproximação com os modernistas e o peso que foi sua participação”, considerou a docente referindo-se a Elsie.
Marina Mazze acredita que um dos fatores para o apagamento das modernistas brasileiras é a falta de informação e biografia feminina, visto que elas possuem menos vestígios e menos incentivo para registrarem suas histórias. “As mulheres dos anos 20 não falavam muito sobre os seus feitos. Para a sociedade, a ideia de feminilidade colocava como feio a mulher falar sobre si, ser vaidosa”, comentou ela.
“Sorte dos artistas homens, que tiveram intérpretes para escrever sobre eles”, ironizou Ana Paula ao refletir sobre as dificuldades das mulheres em fazer parte de um movimento que tinha como característica a transgressão e ousadia dos costumes em um contexto machista. “Olhar para as demais protagonistas do movimento enriquece nossa história e a nossa cultura, nos faz entender ainda mais o modernismo”, completou a socióloga.
O debate teve a mediação da Flavia Prando, doutora em música pela ECA/USP e pesquisadora em Ciências Sociais e Humanas do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc SP).
Aqui, acesso à íntegra do seminário “Diversos 22 – Mulheres no modernismo brasileiro: para além de Anita e Tarsila”
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Vitória Landgraf
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