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Camila Santana e Patricia Behar veem tendência, mas temem “apêndice” das relações humanas
Por: Silvânio Takamine
Em debate online na tarde desta terça-feira, 16, as educadoras Patricia Behar e Camila Santa, pesquisadoras que se dedicam a estudar e pensar processos pedagógicos no Brasil, apontaram que o modelo de ensino híbrido – combinação de remoto com presencial – será um inevitável legado da pandemia do novo coronavírus. Embora o modelo possa apresentar vantagens, ele deverá acentuar as enormes desigualdades sociais existentes no país, segundo afirmaram no evento promovido pelo Sesc São Paulo, em canal no Youtube.
“O ensino remoto é o começo do que precisamos para ressignificar a educação não-remota e não-emergencial”, observou Patricia Behar, professora titular da Faculdade de Educação e dos cursos de pós-graduação em Educação e Informática da Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde coordena o núcleo de tecnologia digital aplicado à educação.
Para Camila Santana, professora do Instituto Federal Baiano, doutora em educação e pesquisadora da interface de educação e tecnologia digitais, a maior complexidade que existe na pedagogia é assumir que a sociedade está imersa em um contexto de cibercultura. “Não há como pensar os processos sociais e pedagógicos descartando-se o digital, ou trazendo esse digital a reboque, como se fosse um apêndice das relações humanas”, disse.
Segundo disseram, essas questões acabam por desvelar e popularizar pontos que são muito relevantes relacionados à necessidade de criar políticas públicas, de repensar práticas e currículos, que precisam ser exaustivamente pautados e discutidos, mas que não veem à tona em razão deste cenário de excepcionalidade. “O ensino remoto emergencial nasce e se molda dentro de um cenário de excepcionalidade. Porém, os pontos de defasagem estrutural, de desigualdade estrutural, antecedem esse cenário”, ressaltou Camila.
No debate, ambas as pesquisadoras relataram que a percepção da internet como algo fútil e supérfluo na pedagogia imperou durante décadas no sistema educacional brasileiro. Pensar a implementação de ferramentas acessíveis passa por encarar o país não de forma homogênea, mas com suas singularidades, disseram. Camila avalia que “a redução da desigualdade está na necessidade de incluir digitalmente todos os profissionais de educação e alunos do país na perspectiva não só do acesso, mas também do letramento”.
Patricia e Camila avaliam que, sem acesso generalizado à infraestrutura digital, o ensino remoto acaba muito prejudicado, mas sinalizam para o uso de emissoras de rádios comunitárias como alternativa de ferramenta educacional, tanto para o ensino remoto quanto para o híbrido. “Temos experiências em países com características socioeconômicas semelhantes às do Brasil em que aulas são ministradas gratuitamente através de rádios estatais”, conta Patricia.
As diferenças entre ensino à distância e ensino remoto emergencial também foram abordadas pelas pesquisadoras. Patricia salientou a complexidade no papel do professor de ensino remoto emergencial, que é diferente do papel desempenhando pelos docentes na arquitetura pedagógica já estruturada do ensino à distância, o qual possui inclusive uma legislação própria. O desafio, segundo Patricia, é aproveitar a interatividade de nossos recursos computacionais para cair na tentação de computadorizar uma aula tradicional.
“Vejo que muitos professores hoje ligam a câmera e dão aula como se fosse de forma presencial, sem preparar um material, um powerpoint que seja. Devemos diversificar essas dinâmicas. Eu criei espaços onde os alunos puderam registrar suas emoções, sentimentos, e conta-los para mim. Foi como um diário de bordo, onde eles semanalmente colocavam as situações, mas de forma socioemocional. Foi de grande importância pelo fato de todo o contexto de pandemia nos ter deixado muito mais sensíveis”, disse a pesquisadora.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Letícia Franco
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