Destaque

O afeto como mercadoria

No café filosófico, Renato Noguera realizou uma palestra abordando as questões sobre o amor contemporâneo

Por: Giovana Perianez e Laura de Matos Penariol

O Instituto CPFL deu início no mês de abril a uma série de quatro palestras sobre as perspectivas do amor contemporâneo. O primeiro encontro ocorreu na última quinta-feira (04), com a discussão abordada sendo “economia dos afetos e o fetiche neoliberal do desejo”. O filósofo, professor e autor, deu início ao seu raciocínio trazendo um panorama histórico de como os regimes amorosos são construídos na humanidade.

Noguera: “Vamos entender como a gente pensa o que sente e como sentimos o que pensamos” (Foto: Laura de Matos Penariol)

Noguera começou citando o período paleolítico, momento o qual havia uma valorização do homem forte, uma vez que certas características eram necessárias para a obtenção de alimentos. Por outro lado, a mulher mais valorizada era aquela que conseguia garantir a sobrevivência dos seus filhos, com a amamentação, por exemplo.

Ele explicou que essa narrativa construiu certos arquétipos que se perduram até hoje. Para exemplificar, o palestrante citou o sentimento de atração por atletas presente na sociedade contemporânea e a ideia do “doméstico” no mundo feminino. “A estrutura patriarcal vai definindo quem é mais ou menos interessante”, refletiu.

No entanto, ele também ressalta a importância de abordar essa explicação com muita cautela. Noguera pondera que é necessário fazer uma reflexão para além desse discurso hegemônico, pois caso contrário, normaliza-se culpar apenas a natureza por esse caráter misógino presente na sociedade.

O filósofo chega em sua análise até o contexto de amor romântico arquitetado no século XI na Europa Ocidental. Nessa conjuntura, há uma mudança do conceito de relacionamento para além de um contrato político, agora o sentimento amoroso está em jogo. Para ilustrar isso, ele cita Shakespeare com uma sua obra mais famosa “Romeu e Julieta”.

Renato Noguera recebendo público para conversar após finalizar palestra no Instituto CPFL. (Foto: Laura de Matos Penariol)

Nesse panorama ele diz que o sistema comercial juntamente com o patriarcado impõe essa nova forma de afeto. “A paixão como elemento preferencial para a escolha”, expõe. Dessa maneira, cria-se uma necessidade de busca pela conquista e uma competição pelos melhores, os mais perfeitos – homens ou mulheres.

No final da linha histórica, o escritor analisa o período contemporâneo, em que o neoliberalismo influencia a subjetividade amorosa. Noguera refleti que nos tempos atuais, sob o contexto de pós-modernidade, os indivíduos se enxergam como mercadorias, com isso se tem um raciocínio de sempre buscar alguma evolução para poderem ser mais amados e desejados, alimentando um ciclo de autoaperfeiçoamento.

Ele segue a observação caracterizando que dentro desse tipo de regime das emoções busca-se principalmente o orgulho, o sentimento de ser escolhido ou de ser capaz de conquistar. “É como se pudéssemos comercializar os afetos” disse o filósofo.

Noguera continua sua reflexão dando exemplo de como as pessoas se oferecem em aplicativos de relacionamento. Ele ponta que os indivíduos

apresentam apenas características que “valem a pena”, que são chamativas e agregam valor, como se fossem objetos.

Para além, o escritor ressalta que há uma falsa ideia de que o processo comunicativo é sempre objetivo e compreensivo. Essa ideia leva à expectativa de que o outro compartilhe e compreenda os mesmos desejos e pensamentos, resultando em uma visão distorcida das relações. Entretanto, ele conta que ao contrário disso, o processo comunicativo está repleto de ruídos.

O pensador retoma a questão da virilidade, destacando sua presença desde a constituição da humanidade, sempre estando associada ao homem. Ele traz à tona os contrastes entre o feminino e o masculino dentro dessa conjuntura e pondera a distinção existente. “Quando falamos do regime de afetos é inseparável nós pensarmos sobre as relações de gênero que se atravessam”, observa.

Noguera cita um poema da escritora indiana Rupi Kaur, dizendo que fizemos do amor algo cruel. Então, para finalizar ele questiona em que medida trazer esses ideais políticos e econômicos, como a competição e a concorrência, para nossa vida individual é o correto. Pondera, por fim, se é isso que faz com que os regimes amorosos passem por medidas de crueldade.

Ao final, o filósofo propõe uma questão retórica para público, de como, ou até se é possível reencontrar-se com o próprio desejo sem essas amaras imposta pelo sistema capitalista.

Orientação: Prof. Gilberto Roldão

Edição: Giovanna Sottero


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