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Pandemia diminui interesse das crianças pela leitura

Falta de incentivo nas aulas presenciais é prejudicial no processo de aprendizagem

Por: Danielle Xavier e Isabela Conservan

Desde o início da pandemia da Covid-19, estudantes de escolas da rede pública e privada se ausentaram das aulas presenciais e passaram a ter aulas realizadas remotamente ou a inserção do ensino híbrido. Apesar das possibilidades que o sistema de ensino a distância proporciona, muitos pais e alunos relatam encontrar dificuldades diárias quanto ao acesso e uso das plataformas digitais e do ensino. Além disso, professoras e psicóloga apontam os impasses encontrados com a leitura diante do cenário

A professora Aline Fernanda de Moura atende crianças especiais e serve de apoio e reforço pedagógico (foto: arquivo pessoal)

Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil realizada em 2020, a mais completa do segmento no país, o brasileiro lê apenas 4,96 livros por ano e entre esses números crianças entre 5 e 10 anos representam 40%. Neste período inicia-se o processo da alfabetização e o contato com a leitura. Para a psicopedagoga, Aline Fernanda Carneiro de Moura, a leitura permite o desenvolvimento das crianças com a criatividade, cultura, escrita, imaginação e atitudes éticas. “A leitura é o marco de novas descobertas e possibilidades na vida da criança e claro do desenvolvimento psicomotor, cognitivo e intelectual”, aponta Moura.

Os dados também apontam que apesar de campanhas de incentivo, 67% da população não contou com alguém que motivasse o hábito de ler, enquanto 33% tiveram influência da mãe ou de algum representante do sexo feminino (11%), seguida pelo professor (7%). Para as professoras Aline Fernanda Carneiro de Moura e Renata Gimenes Nunes, o acesso aos livros e o incentivo à leitura é pouco estimulado, mas ter um processo de planejamento os auxiliam a desenvolver o hábito.

Aluna realizando atividade lecionada por professora Aline Fernanda de Moura (foto: arquivo pessoal)

O impacto dos dados apontados acima, reflete a realidade que algumas crianças vêm enfrentando em relação à leitura. De acordo com Cilene dos Anjos Andrade (40), mãe de Isabela (10), estudante do 4º ano do ensino fundamental, a filha apresenta grande dificuldade de aprendizagem, principalmente com a leitura e afirma que tanto o sistema presencial quanto online, não apresentou “melhora” durante a pandemia. “Depois que começou a pandemia, o aprendizado dela nas aulas online não ajudou muito. Há muitas crianças na vizinhança, que apresentam dificuldades em aprender, já que teoricamente o sistema on-line é diferente do sistema presencial”, afirma.

Isabela é aluna da rede pública da cidade de Cosmópolis, participa das aulas presenciais semana sim e semana não e segundo a mãe, esse método está sendo desnecessário diante do atual cenário. Cilene também explica que apesar das dificuldades que a filha apresenta, a escola está ciente e busca disponibilizar além de atividades diárias, livros a fim de que a aluna pratique melhor a sua leitura e que inclusive está em fila de espera, onde aguarda o apoio de um psicólogo para auxiliá-la no processo escolar.

Assim como Isabela, muitas crianças apresentam dificuldades durante o processo de aprendizagem, além disso enfrentam problemas como o déficit de atenção, ansiedade, hiperatividade. Andreia Camacho Bragatto, psicóloga infanto Juvenil e adulto, diz que o meio digital pode ser também, um fator de distração se não bem direcionado. “Crianças que apresentam algum tipo de dificuldade de aprendizagem podem apresentar mais dispersão em um ambiente com mais estímulos e interrupções que a façam perder o foco, mas considero importante ressaltar que não somente ocorre a dispersão por conta do aprendizado em casa (ambiente), mas também deve se considerar como está o emocional desta criança, a relação familiar, entre outros”, explica.

A psicóloga Andreia Bragatto, atua na psicologia infanto juvenil e adulto (foto: arquivo pessoal

A psicóloga ressalta a importância da psicoterapia infantil, que pode auxiliar e avaliar crianças no processo de aprendizagem. Esse acolhimento, segundo ela, é necessário na compreensão das dificuldades, podendo partir do ambiente familiar, escolar e social. “Acredito também que o profissional de psicologia escolar tem muito a acrescentar na realidade das instituições de ensino, e contribuir em conjunto com o apoio pedagógico”, afirma.

Para a professora do Fundamental l, Renata Gimenes Nunes, pós-graduada em Alfabetização e Letramento, o modelo professor de um lado da tela e aluno do outro, tem sido o maior problema de aprendizagem diante do cenário pandêmico. Segundo ela, o grande empecilho se dá porque os familiares querem ajudar e alguns pais chegam a contratar o trabalho de professores particulares para reforçar os estudos em casa. Mesmo diante de todo auxílio e presença dos responsáveis durante o processo de estudos dos alunos, Renata reforça que tudo deve ser mediado, uma vez que ajudar é bom, mas também pode atrapalhar no rendimento do aluno.

De acordo com a psicopedagoga, Aline Fernanda Carneiro de Moura, o processo de alfabetização foi prejudicado diante do cenário. “A maioria dos pais trabalham o dia todo, e quando chegam em casa já estão cansados para acompanhar os filhos nas atividades. Mas há famílias que conseguem contratar professores particulares, para que os filhos não fiquem prejudicados com a pandemia’’, finaliza.

Orientação: Prof. Gilberto Roldão

Edição: Letícia Almeida


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