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Campinas sofre com aglomeração no transporte

Cerca de um terço da cidade ainda enfrenta os ônibus lotados diariamente

Registros feitos por Thais de aglomerações nos ônibus de Campinas (Crédito: Thais Faria)

Por Gustavo Gonçalves e Luis Eduardo de Sousa

Durante a pandemia, manter o distanciamento social dentro dos veículos se tornou um desafio e cenas de aglomerações no transporte público se tornaram comuns na capital e em grandes cidades do interior de São Paulo. Dados coletados em maio, do sistema de bilhetagem da associação que representa as empresas de transporte coletivo urbano de Campinas (Transurc), mostram que, em média, 300 mil passageiros usam o coletivo por dia.  O número elevado representa cerca 30% da população da cidade, que de acordo com o último Censo do IBGE, era de mais de um milhão de pessoas.

Fábio utiliza, pelo menos, quatro ônibus por dia (Foto: Arquivo Pessoal)

Apesar de ser um serviço essencial, o grande confinamento de usuários do transporte público em pequenos espaços, virou argumento de defesa para quem se recusa a adotar medidas de distanciamento. “Se eu me arrisco todo dia nos ônibus lotados para trabalhar e fazer meu chefe ficar mais rico, porque não posso sair pra relaxar?”, questiona o vendedor Fábio Crispin, de 47 anos. Morador do Jardim Campos Elíseos, ele apresenta tranquilidade ao dizer que continua frequentando bares toda semana, desde o início da pandemia, sempre que encontra algum aberto.

De acordo com dados divulgados pela Prefeitura da cidade, o Jd. Campos Elíseos, região periférica de Campinas e com alto volume de passageiros, lidera com a maior taxa de mortalidade do município.

A psicóloga Camila levanta a importância de não usar o senso de justiça para se justificar (Foto: Arquivo Pessoal)

Para a psicóloga Camila Rhein, usar esse tipo de justificativa para ir em aglomerações é um reflexo do “senso de justiça e recompensa”, e que durante esse novo momento em que vivemos, a responsabilidade individual se faz necessária. “Individualismo acomete muitos de nós, que como neste exemplo argumentam que ‘como sou exposto no transporte público, logo posso sair e me aglomerar’, mas essa recompensa justifica o ato?”, questiona a profissional.

Camila ainda ressalta a importância de não se tomar decisões baseada apenas no senso de justiça, e sim no esforço coletivo, que durante a pandemia foi extremamente importante na ajuda de pessoas que passaram por momentos difíceis. Para ela, pensar no próximo é um hábito necessário para se enfrentar esse período difícil, pois temos que entender que não conseguimos mudar o mundo sozinhos.

Medidas de prevenção

Questionada, a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (EMDEC) descreveu ao Digitais todas as medidas tomadas para evitar a contaminação no transporte. De acordo com a autarquia, as empresas que operam no sistema foram orientadas a intensificar a higienização da frota. Cartazes informativos foram fixados nos ônibus, pontos de vendas e terminais, além da distribuição gratuita de máscaras e instalação de totens de álcool em gel. Os painéis dos veículos orientam os passageiros a usarem as máscaras.

A EMDEC salientou que os protocolos do Plano São Paulo mudam constantemente a demanda dos passageiros, por isso, agentes de mobilidade tem ficado em pontos de grande movimentação para controlar a lotação dos ônibus.

Aos 40 anos, Eduardo diz se sentir aflito por conta das lotações (Foto: Arquivo Pessoal)

Apesar das medidas apontadas, motoristas contestam a eficácia e apontam ações que traria mais segurança. “Eu acho que não adiantou muita coisa, um monte de colega aqui do trabalho se infectou e um até faleceu, o ônibus segue lotado, não tem jeito” afirma Eduardo Franco, de 40 anos, motorista de uma das linhas mais movimentadas da cidade.

“Podia ter colocado uma proteção de acrílico aqui, alguma coisa do tipo, pra separar a gente dos passageiros” explica Eduardo. O motorista relatouque muitas pessoas insistem em entrar sem máscara, param próximos ao condutor, o que causa medo e poderia ser resolvido se houvesse uma barreira entre passageiros e motoristas.

Uma pesquisa encomendada pelo jornal ElPais, realizada pelo estúdio de inteligência de dados Lagon Data, mostra que o número de motoristas de ônibus que morreram entre janeiro e fevereiro de 2021, pico da pandemia, aumentou 60% em relação ao mesmo período de 2020, pré pandemia.

Thais diz que ainda se vê muita aglomeração nos ônibus (Foto: Arquivo Pessoal)

Dados da Secretaria de Saúde de São Paulo, mostram que na Capital, o Coronavírus é 3x mais mortal entre motoristas do que na população em geral. Por esse motivo, o governo do estado decidiu adiantar a vacinação para os profissionais do transporte coletivo.

Além da alta mortalidade entre os motoristas, o coronavírus atinge majoritariamente os profissionais que trabalham no comércio e domésticas, público predominante nos coletivos.

O medo não é só dos motoristas, alguns passageiros relataram o alívio ao encontrar o ônibus vazio, desde o início da pandemia. “Tenho dois filhos pequenos, pego o ônibus 385, que vai pro Shopping Iguatemi, no horário de pico é impossível se mexer” denúncia Thais Fernanda Silva Faria, de 29 anos, vendedora.

Orientação: Prof. Gilberto Roldão

Edição: Luiz Oliveira


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