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Pandemia revela as mazelas da produção do lixo

Coletores de Jaguariúna relatam as dificuldades para quem atua nesta área

 

 

 

 

Fiscalização dos caminhões de coleta do resíduo domiciliar no Aterro Sanitário da ESTRE em Paulínia/SP (Foto: divulgação)

Por Stefani Pereira

De acordo com uma pesquisa divulgada em 2020 pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) ‘’Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020’’, o isolamento social e a prática do trabalho em casa aumentaram o volume de lixo no Brasil em mais de 10%, e deve chegar de 15 a 20%. O país gera aproximadamente 79 milhões de toneladas por ano, sendo que 4% somente são reciclados.

O mesmo levantamento aponta que os materiais recicláveis coletados pelos serviços de limpeza urbana tiveram tendência de crescimento, em média de 30%. Isso mostra uma mudança no perfil dos resíduos gerados dentro das residências que passaram a ter menos orgânicos e mais pacotes de produtos, devido ao aumento do mercado on-line e o consumo de alimentos prontos.

À esquerda, cooperados separam lixo reciclável na Cooperj, à direita, Jéssica Cristina dos Santos, presidente da Cooperativa (Foto: Jéssica dos Santos)

Para Jéssica Cristina dos Santos, de 30 anos, presidente da Cooperj (Cooperativa de Reciclagem de Jaguariúna), embora na cidade também possa ser constatado um aumento da produção de lixo reciclável desde o começo da pandemia, não houve um aumento no volume para os coletores de recicláveis. Segundo ela, o aumento do preço do kg do material reciclável atraiu mais pessoas para o trabalho da coleta seletiva como opção de renda em meio ao desemprego na pandemia.

“Me sinto insegura! Não só eu como todos os cooperados. É uma incerteza o que vamos arrecadar no mês, é aquilo que entra na Cooperativa, é triado e é vendido’’, reclama. Apesar disso, ela disse que está conseguindo se manter economicamente e os materiais que eles trabalham são metal, ferro, vidro, papelão, plástico e alumínio, todos valorizados na hora da venda.

Outra realidade é a da coletora Dil Vaskes Serafim, de 46 anos, que trabalha como coletora informal de materiais recicláveis há quatro anos. Ela confirma que a demanda de catadores aumentou com a pandemia, houve uma certa melhora na venda de alguns materiais por falta de matéria-prima nas empresas o que valorizou o material, e o ganho dos coletores.

À esquerda, Catrina Vaskes Serafim, à direita, Dil Vaskes Serafim as duas irmãs trabalham informalmente como coletoras de lixo reciclável (Foto: Bruno Domingos da Silva)

Apesar disso, ela reclama que o trabalho não é respaldado por nenhum órgão publico. “Tivemos que sair lá fora e enfrentar a doença de perto, com o maior medo do contágio’’. Dil Vaskes diz que recebeu o Auxílio Emergencial do Governo no ano de 2020, o que a ajudou, mas que agora, não sabe o que fazer com R$ 150 do novo benefício. ‘’Eu acho um desamor, uma desqualificação, a partir desse momento, o Governo classificou sub classes e sub grupos, o Brasil foi subdividido e isso é muito ruim pra gente’’, protesta.

A coletora relata que pessoas catam lixo até para comer e revela que ela mesma passou por essa situação em um momento da pandemia. Atualmente, o Brasil possuí uma marca de 14 milhões de desempregados e cerca de 33,5 milhões de informais de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE, em janeiro de 2021..

Lei federal e a cidade de Jaguariúna

Desde o ano de 2010, a Lei Federal nº 12.305/2010, estabeleceu a Política Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil (PNRS) no qual um dos objetivos na gestão dos resíduos sólidos é a não-geração, redução, reutilização, reciclagem e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos brasileiros, fato que não acontece, uma vez que ainda segundo a Abrelpe, 29 toneladas de lixo foram descartados em lixões a céu aberto no país em 2019, ao menos 3 mil  dos 5570 munícipios do país ainda possuem e mantém estes ambientes.

Para o coordenador ambiental Eduardo Bassetti, de 24 anos, que trabalha em uma empresa que faz toda a gestão dos resíduos sólidos no município de Jaguariúna-SP, e fiscaliza as empresas prestadoras de serviços, entre as partes, tendo como exigência a destinação final em aterro sanitário. ‘’Podemos elencar vários impactos relacionados à disposição inadequada do lixo, como contaminação de águas superficiais e/ou subterrâneas, do solo e poluição do ar. Além disso, gera problemas de saúde pública, como formação de ambiente propício à proliferação de vetores de doenças. Quando a destinação é adequada, um dos principais impactos é a diminuição do tempo de vida de um aterro’’, explica.

O município de Jaguariúna teve um aumento superior a mil toneladas de lixo, comparando os anos de 2019 com 2020. Para Bassetti reduzir é um exercício que pode partir, antes de qualquer coisa, de dentro das próprias residências ou local de convívio, revendo o consumo de embalagens, recipientes descartáveis ou adoção de outras formas mais sustentáveis, aconselha.

Orientação: Prof. Gilberto Roldão

Edição: Fernanda Almeida


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