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Após trocar o endereço no final de 2023, o espaço teve que paralisar ações comunitárias e sentiu a baixa de frequentadores
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Por Felipe Tonelo
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No final de 2023, a biblioteca “Guilherme de Almeida”, no distrito campineiro de Sousas, foi fechada e realocada para um novo prédio a apenas 500 metros de distância da original. A instituição foi inaugurada em 1964, originalmente localizada na antiga prefeitura do distrito. E por lá ela permaneceu durante 60 anos, até a mudança de local, que teve uma alta resistência da comunidade de Sousas. Um protesto ocorreu na frente da biblioteca uma semana após a prefeitura da cidade de Campinas emitir uma nota comunicando a alteração.

Conversamos com Marcelo Ferreira, bibliotecário responsável pela instituição. Marcelo contou as dificuldades que passou no primeiro ano após a mudança da biblioteca: “O pessoal demorou para encontrar onde ficava a nova biblioteca, por isso o movimento por aqui reduziu drasticamente.”
Ainda segundo o bibliotecário, a maior parte do público que frequentava a instituição ia para participar dos eventos comunitários que lá ocorriam. Esses eventos, que só voltaram a acontecer recentemente, quase um ano após a inauguração do novo endereço: “As ações comunitárias que organizamos no último endereço movimentaram muita gente aqui de Sousas. Ficamos quase um ano sem e estamos voltando aos poucos. O evento que o público mais gostava era o nosso grupo de terapia coletiva, que fizemos com a colaboração do posto de saúde. Ele ocorria toda semana e quando comunicamos que ia ter essa pausa, o pessoal que participava disse que sentiu falta.”
João Medeiros, assíduo frequentador do local, conta como essa transição pegou os frequentadores da biblioteca de surpresa : “No começo eu me surpreendi, ninguém estava esperando essa mudança. Foi difícil para eu me acostumar com a mudança, todo mundo gostava da antiga biblioteca”. João conta também que costumava frequentar os grupos comunitários que ali aconteciam: “Fiz muitos amigos na antiga biblioteca, principalmente no grupo de terapia coletiva, que trazia muita gente para o local.” O homem disse que, apesar de terem se surpreendido com a troca, grande parte dos frequentadores preferem a nova localização: “O novo endereço é mais próximo de tudo. Facilita bastante para nós que gostamos bastante de leitura”.
Ao ser contestada a respeito do motivo da mudança, a prefeitura da cidade disse que a biblioteca ficava em um prédio alugado e que a troca foi motivada por razões contratuais entre a prefeitura e o dono do imóvel. A secretaria de comunicação da cidade também contou que a demora na retomada das atividades que antes eram comuns na instituição ocorreu por uma questão logística e que as estimativas são de que a biblioteca volte a funcionar completamente no novo endereço.
Os funcionários da biblioteca contaram que esse tipo de desacordo contratual era comum no local, e que a apreensão de uma possível troca era comum toda vez que os contratos chegavam ao fim. A escolha do imóvel atual, que é tombado pela prefeitura, ocorreu devido a uma dívida que o antigo proprietário adquiriu devido a falta de pagamento do IPTU.

Atualmente, a biblioteca já está completamente montada, isso significa que a instituição vai voltar a funcionar normalmente. O local recebe atualmente cerca de 700 pessoas por mês e aluga pouco mais de 500 livros mensalmente, um aumento de quase 30% se comparado com o antigo endereço.
O bibliotecário está otimista a respeito do futuro do local: “Mudamos para um endereço muito mais próximo do centro do distrito. O pessoal só tem que se acostumar com essa biblioteca”. Contou também sobre o futuro das ações comunitárias: “O grupo de leitura, que ocorre semanalmente, voltou recentemente – estamos indo para o terceiro encontro desde a reinauguração. Quanto aos grupos de encontro intergeracional e terapia coletiva, estamos negociando com o posto de saúde e outras instituições do distrito para o retorno.”
Marcelo contou também como a movimentação no novo endereço colaborou com mais empréstimos de livros: “Estamos muito mais perto do nosso público. Os clientes da feira que acontece aqui na rua olham mais para a nossa biblioteca. Isso faz com que o pessoal se interesse mais, afinal o que faz uma biblioteca não são os livros emprestados e sim as pessoas que a frequentam”. Apesar de feliz pela alta movimentação no local, o bibliotecário contou que não vai se esquecer dos tempos difíceis no ano da mudança: “Passamos por uma situação muito complicada, tinha dias que nenhuma pessoa entrava por aquela porta! Agora que o movimento aumentou, podemos respirar aliviados!”
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Orientação: Karla Ehrenberg
Edição: Marília Coimbra
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