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“O importante é não morrer vivo”, advertem filósofos

Terezinha Rios e Mário Cortella afirmam que o encanto é indispensável na trajetória da vida

Por Daniel Ribeiro

Em palestra ao público que lotou o Teatro Oficina do Estudante, a filósofa Terezinha Azerêdo Rios, 80 anos, alertou que, na longa trajetória da vida, “o importante é não morrer vivo”. Morrer vivo, ao que apontou, é equivalente a perder o encanto pelas novidades e prazeres da vida, que são as motivações para o estímulo necessário para se exercer as atividades do cotidiano.

Para refletir esses e outros assuntos, Terezinha e o também filósofo Mário Sérgio Cortella, 69 anos, participaram de uma roda de conversa, dia 9, para o lançamento da 2ª edi­ção do livro “Vi­vemos mais! Vivemos bem?”, escrito por eles. Além de refletir sobre como aproveitar a vida, Cortella e Terezinha ainda debateram ideias sobre idade, tempo, solidão, etarismo e morte.

Cortella e Terezinha se conheceram em 1975, quando ingressaram no mestrado em Filosofia da Educação, da PUC-SP. Em 2013, lançaram a primeira edição da obra apresentada aos estudantes e, agora, com a intensificação dos debates sobre etarismo, procuram levantar novas ideias sobre o tema. Segundo Cortella, “o etarismo sempre existiu no lamento dos julga­dos pela idade”, mas pontua que hoje o tema é muito mais debatido que uma década atrás.

Ao abordarem o tema da morte de forma descontraída, Terezinha brincou: “o que vale não é o cumprimento da vida, mas sua largueza”. Largueza, para a estudiosa, é intensidade com que se vive, no sentido de desfrutar os momentos, uma analogia à Kairós, o deus grego do tempo oportuno, o tempo de qualidade, de viver bem.

Os filósofos Terezinha Rios, 80, e Mário Sérgio Cortela, 69, no Teatro Oficina do Estudante, em Campinas (Foto: Daniel Ribeiro)

Pensando sobre o prolongamento da vida, e o desejo pela eternidade, Cortella questionou o sentido de uma vida sem fim. O filósofo usou como exemplo o filme “Zardoz”, de 1974, estrelado por Sean Connery, no qual uma casta da humanidade teria alcançado a imortalidade e, depois de 400 anos, viver tor­nou-se um suplício. Nesta ficção, os personagens só alcançam a redenção com o fim da imortalidade “quando todos se tornam mortais e correm aos campos para serem assassinados, encontrando na morte uma ben­ção”.

Contrária ao uso da expressão “idoso” para se referir à terceira idade, Terezinha disse preferir o uso do termo “velho”. “Ninguém diz ‘meu fi­lho mais idoso tem 3 anos’”, brincou. A filósofa ainda apontou que, para o senso comum, velho é aquele que está inca­pacitado, que depende de alguém ou de algo para poder viver. Para ela, quando até uma placa de sinalização mostra um idoso cansado, com uma mão nas costas e uma bengala na outra, encontra-se ali uma imagem negativa, mas cultural­mente aceita.

Sobre solidão na velhice, Cortella e Terezinha defenderam que ser velho não significa ser sozinho. Entretanto, pontuam que viver mais traz perdas cumulativas, o que pode levar à solidão. A filósofa afir­mou que estar só é estar sozinho de alguém, que geralmente são as pessoas amadas que fazem parte de vivências comuns. O que se faz essencial, para ambos os pensadores, é criar laços novos, sem esquecer os que já se foram.

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Melyssa Kell


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