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Pesquisador crítica proibicionismo no combate às drogas

Carlos Eduardo Fraga sugere abordagem de corpo e mente no tratamento contra a chamada drogadição

Por: Caio Alexandre

Fraga: “A redução de danos é uma política que veio se opor ao proibicionismo” (Foto: Caio Alexandre)

O tratamento para dependência química depende do tratamento integral de corpo e mente, por isso práticas proibicionistas são falhas e políticas públicas deveriam focar na redução de danos. A afirmação é do filósofo e psicanalista Carlos Eduardo Fraga, pesquisador no campo da drogadição, em sua participação nesta quinta-feira (18), da gravação do Café Filosófico, no Instituto CPFL-Campinas.

Fraga pontuou que drogas lícitas ou ilícitas desenvolvem dependência em indivíduos que possuem fragilidades e propensões psicossociais ao vício, criando uma alteração da percepção da realidade e dos desejos. Bem por isso, as práticas de repressão seriam ineficazes em sua avaliação.

“A redução de danos é uma política que veio se opor ao proibicionismo, que é não entender a droga, achar que o problema da droga é demanda e não entender as causas”, defendeu o pesquisador.

Segundo Fraga, a drogadição é o desejo excessivo por drogas que cria uma dissociação entre corpo e mente. As “pessoas dissociadas” em suas experiências – disse ele –possuem propensão à dependência, pois acreditam que a droga lhes concede o poder de enxergar a realidade tal como ela é.

“Pensar afetivamente é ter um instrumento mais preciso para análise”, apontou o psicanalista ao analisar que a drogadição é culturalmente abordada por métodos e teorias que separam corpo e mente. “Quem é da área bioquímica vai explicar pela dopamina, pelo corpo. Porém, outros vão explicar só pelo ambiente”, mas “o afeto é corpo e mente ao mesmo tempo”.

Para trabalhar com drogadição – propôs o pesquisador – é importante entender o processo como um problema de desejo. E, por isso, seria preciso respeitar que a pessoa tenha o desejo de parar. Fraga pontuou que, em casos extremos de riscos à vida, pode-se optar por uma internação compulsória, mas que a medida deve ser exceção para segurança, e não uma forma de tratamento.

Sobre o processo de dependência química, Fraga acrescentou que “a partir do momento em que a pessoa entra no processo de drogadição, não adianta buscar as causas. Temos que tratar a drogadição. Se uma pessoa desenvolver câncer de pulmão por fumar, não adianta apenas parar de fumar, é preciso tratar o câncer”.

Em sua conferência, Fraga foi questionado sobre os usos religiosos de substâncias psicoativas, que existem em diferentes culturas, e não geram dependentes. O psicanalista afirmou que os mecanismos culturais freiam os vícios, tal como nos ritos religiosos. “Não é uso recreativo”, lembrou, pois a substância não é utilizada com base no desejo individual.

Fraga disse sintetizar suas ideias com base nos estudos do filósofo holandês Baruch Espinoza (1632-1677), para quem mente e corpo são pensados conjuntamente, e que a droga não é um problema, mas sua dependência, sim.

“Spinoza não era contra a ciência, muito menos eu. São muito importantes as pesquisas sobre os mecanismos bioquímicos. Só que elas, sozinhas, não dão conta do fenômeno da drogadição. O problema não são os dados, é a interpretação dos dados”, finalizou Fraga.

Aqui, a integra o Café Filosófico com Carlos Eduardo Fraga.

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Melyssa Kell


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