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Festa marca legado das matriarcas do Jongo

Maria Alice, 80, e Maria Aparecida, 85, inspiram feijoada que ocorrerá neste domingo(19) em Campinas

Por: Rafael Lazzari Smaira

A Feijoada das Marias da Comunidade Jongo Dito Ribeiro chega à 18ª edição neste
domingo (19), na Casa de Cultura Fazenda Roseira, em Campinas (SP). No tradicional
evento, os integrantes do jongo celebram a vida de duas matriarcas da comunidade, as
irmãs Maria Alice Ribeiro e Maria Aparecida Ribeiro Lourenço, de 80 e 85 anos,
respectivamente.
A produtora cultural Bianca Lúcia Lopes, de 25 anos, explica que a origem da festa
se deu na comemoração de aniversário das duas mulheres que, por coincidência, nasceram
no mesmo dia: 18 de março. Em 2005, as famílias decidiram unificar a festa e criar a
Feijoada das Marias. “É a festa que comemora a vida das nossas mais velhas, as nossas
Marias. É um evento para marcar a existência e resistência das matriarcas”, destaca.

Maria Alice e Maria Aparecida em edição anterior da Feijoada das Marias (Foto: Neander Heringer)

A Feijoada é promovida há 18 anos, sempre no domingo seguinte ao dia 18 de
março. Segundo Bianca, a significação da reunião vai além das duas Marias, e destaca a
resistência de mulheres negras de forma geral. “Quando se fala de mulher, não é somente
um corpo. Falamos de um contexto ancestral e simbólico, que faz a manutenção da
salvaguarda do Jongo.” Assim, o evento simboliza a exaltação às griôs da cultura jongueira.
No âmbito da preservação de memória e costumes, Bianca também aponta que “a
feijoada é uma comida que, além de alimentar o corpo, alimenta a alma, por carregar os
saberes ancestrais da negritude. Tem um viés de cura”. A produtora também narra que a
comida é preparada integralmente por mulheres selecionadas. “Homem nenhum toca na
panela da Feijoada das Marias. Eles podem cozinhar 363 dias no ano, mas neste, não. É
tudo por nós, mulheres”, define.


Bianca Lúcia: “É um evento para marcar a existência e resistência das matriarcas” (Foto: Rafael Smaira)

O evento deste ano conta também com o show da deputada federal Leci Brandão,
que já é figura recorrente nas comemorações. “Há 6 anos a Leci frequenta nossa festa e
neste ano também fará um show”, conta Bianca. Além da apresentação de samba da
cantora, as Marias aniversariantes solicitaram a presença de uma banda de Jazz. “Elas
ditam o que querem e nós executamos. Nunca tivemos um tema específico, sempre foi
conforme a vontade delas”.
Dessa forma, a Feijoada das Marias celebra a vida das matriarcas que são
referências na cultura do Jongo campineiro e preserva a tradição afro-brasileira ancestral
através da culinária e da música.

Maria Alice, Leci Brandão, Tia Verinha, Alessandra Ribeiro e Maria Aparecida em comemoração na Fazenda Roseira (Foto: Neander Heringer)

Protagonismo feminino
Bianca narra que o Jongo Dito Ribeiro é a primeira comunidade de Jongo a ter uma
mulher com Doutorado, a pesquisadora e urbanista Alessandra Ribeiro. “Muitas
comunidades têm alto índice de analfabetismo e evasão escolar. E o fato de termos uma
liderança feminina preta que teve acesso, a partir de políticas públicas, à pós-graduação, é
algo muito notável’. Além das conquistas acadêmicas da líder do Jongo, Bianca destaca a
empreitada de Alessandra ter sido a primeira mulher negra a se candidatar à Prefeitura de
Campinas. “A potência preta feminina é um processo revolucionário por onde passa”.

Prática ancestral
Bianca Lúcia define o Jongo como uma manifestação afro-brasileira composta de
cânticos metafóricos, iniciada no século XIX, em que, através do canto, do toque e da
dança, pessoas escravizadas se articulavam socialmente. Segundo Bianca, “o Jongo é
como uma digital. Cada comunidade toca, canta e dança de um jeito diferente. E ele está
intrínseco em nós. Não vivemos de Jongo, nós vivemos para o Jongo”, aponta.
Em Campinas, o Jongo Dito Ribeiro se mantém desde 2002 e é liderado por
Alessandra Ribeiro, neta de Benedito Ribeiro, homenageado no nome do grupo. Desde
2008 o grupo ocupa a Fazenda Roseira, espaço cultural no Residencial Parque da
Fazenda, próximo à Avenida John Boyd Dunlop.

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Melyssa Kell


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