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“Como eu, um homem, posso ter câncer de mama?”

Depois de ser diagnosticado com a doença, essa foi a primeira reação de Paracelso Vieira

Por: Paloma Ruiz

Paracelso Vieira confessa que ficou surpreso ao ser diagnosticado com câncer de mama (Foto: Arquivo pessoal)

Segundo dados de 2021 do Instituto Nacional de Câncer, 1% dos casos de câncer de mama são em homens, mas poucos sabem que essa doença pode acometer pessoas do sexo masculino. Como é o caso de Paracelso Vieira que foi diagnosticado aos 60 anos sem saber que era possível. A história do diagnóstico do caminhoneiro começa com uma queixa de dor no mamilo até se desdobrar em sessões de quimioterapia e em uma mastectomia. A princípio, o homem, hoje com 67 anos, se revoltou com a doença por achar que câncer de mama não fosse algo de homem. Mas, com o tempo, Vieira aprendeu mais sobre a doença e decidiu compartilhar a sua história conosco em uma entrevista via videoconferência para levar informação às pessoas e, principalmente, para  o público masculino que é o que menos se cuida. Um fator determinante para o sucesso do tratamento do Paracelso foi o fato do câncer ter sido descoberto cedo, mas essa não é uma realidade na vida de vários homens.  De acordo uma pesquisa realizada, em 2018, pelo Centro de Referência em Saúde do Homem, 50% deles só procuram ajuda médica quando já estão com sintomas avançados. Por isso, hoje, 15 de julho, Dia Nacional da Saúde do Homem, Paracelso irá contar sobre a realidade pouco comentada do câncer de mama em homens. 

Portal Digitais: Como descobriu que tinha câncer de mama?

Paracelso Vieira: Eu descobri meio que por um acaso. Eu tinha um problema no mamilo e aquilo me incomodava para dirigir por causa do cinto de segurança. Então,  eu pedi para a minha médica da família se tinha uma cirurgia para poder tirar aquela pelinha seca que irritava e ela marcou um mastologista para mim. Quando ela marcou o mastologista, eu fiquei meio revoltado porque eu era “cabra macho” e mastologista era médico de mulher, então eu achei estranho aquilo. Mas, foi quando eu fui ao mastologista que eu descobri que eu tinha câncer de mama. Na época eu tinha 60 anos.

PD: Como foi feito o seu diagnóstico?

Paracelso: A consulta com o mastologista foi em 27 de junho de 2015. Durante o atendimento, ele não encostou em mim e pediu para eu sobre pôr as mãos sobre o estômago e comprimir na costela. Depois que eu fiz  isso, ele me olhou e falou que eu estava com câncer de mama. Eu fiquei doido porque ele nem tinha encostado em mim e nem tinha feito um exame e de repente eu já estava com câncer de mama. Mas, na época eu não sabia que existia câncer de mama em homens e nem o porquê daquele autoexame. Mas, hoje eu sei que existe um efeito quando se faz essa compressão para quando, principalmente, o homem está com câncer de mama acontece da mama franzir. Ainda na consulta com o mastologista, ele marcou uma biópsia no hospital Pérola Byington, em São Paulo. Eu fui fazer a biópsia e a médica já me encaminhou para fazer exames pré-operatórios para fazer uma mastectomia. Quando o resultado da biópsia saiu, era câncer de mama mesmo.

PD: Como o senhor reagiu ao diagnóstico?

Paracelso: O médico teve que pedir ajuda para uma psicóloga para me acalmar porque eu fiquei transtornado. Como eu, um homem, tem câncer de mama!  Na ocasião eu era bem leigo, bem ignorante no assunto, hoje eu tenho um conhecimento maior sobre o câncer de mama masculino, mas na época eu não tinha noção e eu fiquei muito bravo.

PD: Como foi o tratamento da doença?

Paracelso: Eu fiz mastectomia e fiz quimioterapia. Quando eu fiz a primeira quimio da branca,  eram quatro vermelhas e quatro brancas, dois dias depois de eu ter feito, eu tive uma reação à medicação.  Eu tive a síndrome mão-pé e as quimios foram suspensas. Eu fiquei uns 35 dias sem tomar quimio e passei 45 dias em uma cadeira de rodas, quase morri , fiquei muito mal por causa da rejeição. Quando eu voltei a fazer as quimioterapias,  Tomei mais três quimios vermelhas para totalizar as oito quimios que a oncologista tinha passado.

PD: O senhor imaginava que era possível homens terem câncer de mama?

Paracelso: Eu não sabia que existia, eu era leigo no assunto, mas na época em que eu estava fazendo tratamento no hospital Pérola Byington havia mais homens com câncer de mama. Eu acho que eram 154 homens em tratamento naquela ocasião no hospital Pérola. Eu sei de outros casos, sei de um monte de casos porque eu comecei a fuçar para conhecer a minha doença e entender o porquê de um homem ter câncer de mama. Eu comecei a fuçar com os oncologistas e com os mastologistas do hospital porque eu tinha acesso liberado porque eu era paciente, então eu corri atrás e fiquei sabendo de muitos casos e de muitas mortes por falta de informação. Quando o homem morre com o câncer de mama é porque o câncer já deu metástase e ele não sabia que tinha câncer de mama. Mas, são vários os homens que não têm essa informação.

PD: Porque o senhor acha que existe essa falta de informação sobre a doença em homens?

Paracelso: Por falta de interesse dos meios de comunicação e do Ministério da Saúde que não se interessa em informar que os homens também podem ter câncer de mama seja adquirido de outra forma ou seja ele adquirido geneticamente como é o meu caso, minha mãe teve, minha vó teve, minha irmã teve e eu tive e graças a Deus estou curado, a chance disso vir a se tornar uma metástase é muito pequena por causa do tratamento que eu faço, mas eu fiquei muito chocado quando eu soube que homens podiam ter câncer de mama que não tinha nem ideia disso. Ainda existe muita gente desinformada, muito homem desinformado. Eu tenho uma página chamada a luta contra o câncer de mama masculino e nesse universo a grande maioria dos relatos são femininos e tem alguns homens que também contam a sua história. As pessoas são ignorantes no tocante a essa doença em homens, como eu era existem vários. Os poucos que sabem são porque conhecem alguém que teve, mas não porque foram informados antes. Por isso é necessário divulgar porque o homem não se cuida por natureza por isso a gente tem que informar, o homem não se interessa pela própria saúde. 

PD: O senhor sofreu algum preconceito por ser um homem com câncer de mama?

Paracelso: Na época eu era casado e a minha esposa pediu o divórcio depois que soube do meu diagnóstico. ela não reagiu bem a situação e eu acho que esse foi o único preconceito que eu sofri eu não sofri nenhum preconceito no hospital onde eu tratava porque era um hospital de referência na saúde da mulher e eles estavam acostumados a receber homens também para cirurgia e tratamento então eu tive algum incentivo a continuar a me cuidar e lá que eu acabei conseguindo fazendo amizade com os funcionários.

PD: Como o senhor faz hoje para informar sobre a existência do câncer de mama em homens?

Paracelso: Eu vou em postos de saúde e em alguns prontos socorros. Enquanto as pessoas estão aguardando para serem atendidas eu dou um depoimento com a autorização do pessoal do posto, em Ilha Comprida (SP), que foi para onde fui depois da cirurgia, lá eu tinha a autorização da secretária de saúde do município para fazer os depoimentos periódicos do que tinha acontecido comigo e o que acontecia com homens que não se cuidassem. Eu quero divulgar o câncer de mama masculino porque eu não tinha noção que homens podiam ter câncer de mama, eu não tinha conhecimento. Eu era leigo e depois que eu me informei sobre, eu engajei e levantei uma bandeira para informar a população ao redor porque se tem dez pessoas na espera de um posto de saúde e eu estava ali contando a minha história e aqueles dez são transportadores dessa informação que vão se multiplicar. Quando eu mudei para São Paulo, eu comecei a fazer isso em um posto de saúde e de lá eu fui a convite a algumas igrejas falar sobre o câncer de mama masculino e eu fui aumentando a quantidade de postos que eu ia.

PD: Hoje, como o senhor analisa toda essa situação que passou?

Paracelso: Coisas muito boas aconteceram na minha vida depois do câncer… sobre pessoas, amizades, sobre família. Muita coisa de bom aconteceu, aconteceram coisas ruins também, mas as boas foram maiores, mas o câncer me ensinou uma coisa muito grande. Ele me ensinou a buscar mais a vida, a tentar viver melhor na medida das condições financeiras que eu tinha e a perdoar mais, a agradecer mais que é um sentimento mas não usava com frequência, a gratidão. Eu aprendi a usar com frequência e conhecer um pouco mais sobre isso também. O câncer veio na minha vida.. talvez Deus botou isso na minha vida para dizer acorda “veiaco” que a sua vida é grande e longa e você precisa aprender conviver com pessoas porque como era caminhoneiro eu vivia sozinho dentro do caminhão e eu aprendi a conviver com pessoas.

Orientação e edição: Prof. Gilberto Roldão


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