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Andréa Melloni conta a história de Hanói, venezuelana cuja filha morreu meses antes de imigrarem
Por: Eduarda Guenther
A caixinha de música de uma criança que morreu atropelada na capital da Venezuela se transformou em uma dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Linguagem, Mídia e Artes (Limiar), da PUC-Campinas. Autora do trabalho, a enfermeira Andréa Melloni pesquisou a história da imigrante Hanói, cujo sobrenome manteve em sigilo em sua dissertação. Hanói se tornou aluna de Andréa no Cursinho Mafalda, no ano de 2019, em São Paulo, onde a brasileira ensinava língua portuguesa a refugiados que chegavam ao Brasil.
“Hanói trouxe de lembrança a caixinha de música, da filha que morreu meses antes de os pais buscarem abrigo no Brasil”, disse Andréa. Na condição de também imigrante, só que nos Estados Unidos, a mestre pelo PPG Limiar afirmou sempre ter tido um “olhar empático” com os refugiados, e viu que, nas histórias que ouvia no Cursinho Mafalda, havia elementos importantes para a dissertação que pretendia redigir.
Quando iniciou a pesquisa, sob orientação da professora Luísa Paraguay, a pesquisadora Andréa acreditava que, além de trazerem as histórias do refúgio, os refugiados sempre traziam consigo alguns objetos. “Esses objetos são mensageiros de narrativas pessoais”, argumenta a pesquisadora que escolheu uma área interdisciplinar para realizar sua pós-graduação.
Para a professora, a caixinha de música que Hanói trouxe era uma forma de estar perto da filha e de manter viva a lembrança da criança. Na dissertação, os leitores podem observar fotos da caixinha rosa com desenhos da personagem Hello Kitty. Dentro da caixinha há uma foto 3×4 de Laura, um dente de leite e pulseiras infantis.
Apesar de escolher a história de Hanói, Andréa queria saber mais histórias e os objetos trazidos pelos refugiados para inspirar e escrever a pesquisa. Então, foi até Boa Vista, uma das principais capitais brasileiras que acolhe refugiados por conta da proximidade geográfica com o país. Com o objetivo de fazer a rota inversa dos imigrantes, Andréa foi até a cidade de Pacaraima, na divisa com a Venezuela.
“Eu conheci uma mãe, e perguntei a ela o que ela trouxe. Ela respondeu que havia trazido a filha”, conta.
Naquele momento a pesquisadora teve um plot twist – uma reviravolta no enredo, ela não esperava ouvir aquilo e faz essa reflexão na dissertação. “Foi ali que eu saquei… Nem todo mundo tem algo material para trazer, tamanha a precariedade. Isso mexe com a gente! São pessoas como nós, que estão tentando uma coisa nova, mas o Brasil é um país tão xenófobo, tão mesquinho no sentindo de acolher as pessoas. Eu queria ficar amiga delas”, disse.
Ainda na pesquisa de campo, ela descobriu que as prostitutas, na capital de Roraima, são conhecidas por “ochenta”, do espanhol oitenta, porque o programa custa R$ 80 reais. Ao perguntar a uma delas o que havia trazido consigo, a resposta foi “duas calcinhas e maquiagens”.
A professora conheceu o Cursinho Mafalda – onde deu aula para Hanói e diversos outros refugiados, tendo à mão o livro “Pode Entrar”, escrito por professoras daquela instituição que contavam sobre a experiência de dar aula de português para alunos refugiados. Assim, quando Andréa voltava de férias para o Brasil, resolveu ser voluntária no Cursinho Mafalda e começou a dar aulas. Ao conhecer a história dos alunos e se apaixonar pelas trajetórias vividas no exílio, decidiu o tema da dissertação: os objetos trazidos por refugiados para o novo país de moradia.
A entrevista com Andréa Melloni, na íntegra, está disponível abaixo:
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: João Vitor Bueno
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