Noticiário Geral

Profissionais da saúde estão psicologicamente fragilizados

Em virtude do excesso e da demanda de trabalho durante a pandemia, trabalhadores relatam estresse

Por: Ederson Rufato

A explosão da pandemia pelo novo coronavírus e o aumento crescente do número de novos casos e mortes pela doença resultaram em consequências sociais, econômicas e sanitárias para a população. Medidas como distanciamento social foram adotadas para controlar o avanço da doença, afetando a população em muitas dimensões das condições de vida e de saúde – entre elas, de forma significativa, a saúde mental dos trabalhadores que atuaram na linha de frente de combate à doença.

Essa exaustão ocorre não só da proximidade com o elevado número de casos e mortes de pacientes, colegas de profissão e familiares, como também das alterações significativas que a pandemia provou e continua provocando em seu bem-estar pessoal e vida profissional.

De acordo com os resultados da pesquisa Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19, realizada pela Fiocruz em todo o território nacional, a pandemia alterou de modo significativo a vida de 95% desses trabalhadores. Os dados revelam, ainda, que quase 50% admitiram excesso de trabalho ao longo desta crise mundial de saúde.

Camila Calvet, psicóloga da clínica Clinpap localizada no Rio de Janeiro. Trabalha atualmente com pacientes que perderam parentes próximos pela Covid-19 (Foto: Arquivo pessoal) 

Segundo a psicóloga Camila Calvet, de 32 anos, os profissionais da área da saúde já estão no grupo mais vulnerável em relação à saúde mental, devido ao esgotamento que a profissão exige, e também por conta do medo frequente trazido pela transmissão em massa do novo Coronavírus. “Os profissionais da saúde lidam diariamente com fortes emoções, sobrecargas de trabalho e momentos estressantes que foram agravadas pela pandemia. Além de viverem constantemente com medo de pegar a doença”, explica Calvet.

A psicóloga também aponta que são várias as situações nas quais o transtorno é perceptível, e que, às vezes, com uma observação mais apurada, fica nítido que há algo de diferente. “Ausências recorrentes, episódios de ansiedade, mudança brusca no humor, irritabilidade, alguns tendem também a ficar mais sozinhos, se afastar, querem conversar menos e se socializar menos, todos esses são sinais de alerta”, explica ela.

Para Calvet, é essencial que os profissionais da saúde passem por tratamento psicológico para estarem mais saudáveis ao cuidar da dor do outro. “Esse profissional lida com a doença de vários pacientes, e para que ele consiga oferecer o tratamento de uma maneira mais adequada, ele também precisa cuidar de si mesmo e estar saudável tanto física quanto psicologicamente”, completa.

Saúde e vida profissional

Em momentos de grandes dificuldades enfrentadas, é possível perceber que a maioria das pessoas tem força e habilidade para lidar com desafios. Há situações, como a pandemia por Covid-19, que causam estresse e angústia e, para enfrentá-las, é possível identificar as estratégias usadas no passado que poderiam ser úteis também para o momento atual. Foi o que a médica Laura Geraldino do Carmo, de 25 anos, fez ao perceber a mudança de humor e o nível de estresse aumentando conforme as semanas se passavam.

“Eu percebi que andava muito ansiosa, não conseguia dormir e a minha dificuldade de concentração crescia cada vez mais. Foi quando eu percebi que precisava de ajuda antes de voltar a ajudar outra pessoa”, comenta.

Ainda baseado na pesquisa da Fiocruz, as alterações mais comuns no cotidiano dos profissionais da saúde foram: perturbação do sono (15,8%), irritabilidade/choro frequente/distúrbios em geral (13,6%), incapacidade de relaxar/estresse (11,7%), dificuldade de concentração ou pensamento lento (9,2%), perda de satisfação na carreira ou na vida/tristeza/apatia (9,1%), sensação negativa do futuro/pensamento negativo, suicida (8,3%) e alteração no apetite/alteração do peso (8,1%).

Laura Geraldino do Carmo, médica formada em 2020 pela faculdade Santa Marcelina em São Paulo. Atualmente trabalha na linha de frente atendendo paciente com Covid-19 (Foto: Arquivo pessoal)

De acordo com a médica Laura Geraldino, todo esse estresse se resume no acumulo de horas trabalhada sem descanso. “Houve um aumento da sobrecarga de trabalho, e mesmo sem conhecer ao certo a doença, passamos a enfrentar uma elevada demanda de pacientes com uma quantia insuficiente de recursos humanos e infraestrutura inadequada nos serviços de saúde. Tudo isso colaborou para minha ansiedade e estresse”, confessa.

Já para a enfermeira Gleyce Oliveira, de 28 anos, a situação é mais delicada. Há quase dois meses, desde que foi escalada para atuar na linha de frente da pandemia, ela se encontra longe do marido e do filho de três anos. “Não tem sido nada fácil. Eu chego do serviço e fico em casa sozinha enquanto meu marido e filho foram morar com a minha mãe, que por ser idosa, ainda esta isolada”, reclama a enfermeira que comenta que a angustia e o medo passaram a fazer parte da sua rotina. “Eu penso o tempo todo, que nossos familiares e colegas de trabalho podem adoecer e até morrer por isso a qualquer momento”, destaca. Ela finaliza dizendo que recentemente começou a receber apoio psicológico no hospital em que trabalha.

Orientação: Prof. Gilberto Roldão

Edição: Bruno Costa


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