Economia
Gasolina chegou a R$7,197 e diesel a R$ 6,699 em Campinas com reajuste da petrolífera
Por: Julia Facca e Sofia Furtado
Após o barril do petróleo Brent, referência global da commodity, atingir cotação de U$ 130,1 pela primeira vez em 14 anos em março, diante dos ataques russos à Ucrânia, seu preço registrou queda de 21% no início de abril no comparativo, fechando a U$ 102,82, devido às possíveis negociações de paz entre os dois países europeus.
Entretanto, mesmo a gasolina tendo recuado em 0,78%, reduzindo de R$ 7,267 para R$7,210, e o diesel recuado em 1,35%, saído de R$ 6,654 para R$ 6,564, de acordo com uma análise da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP) divulgada no dia 25 de março, o preço dos combustíveis no Brasil continuam altos. Como explicar o fenômeno?
Curto prazo
O economista Antonio Carlos Lobão explica que, a despeito de a inflação sobre os preços do petróleo ter tido impacto imediato e consequente da instabilidade no cenário geopolítico, em especial por envolver a Rússia, a terceira maior exportadora da commodity no mundo, o conflito gerou um problema apenas de curto prazo no Brasil, como observamos por meio da queda que o preço do barril do petróleo teve.
Para Lobão, os valores inflacionados são reflexo da política de preços da Petrobras. A petrolífera forma seus preços com base no mercado internacional, em detrimento de registrar baixos custos de exploração, calculados em real, o que gera grande margem de lucro a cada barril de petróleo vendido. Desse modo, o preço do dólar é outro fator incidente sobre os preços no Brasil, visto que o real continua sendo uma das moedas mais desvalorizadas em relação a ele.
“Como a Petrobras abastece e refina, poderíamos imaginar que estaríamos imunes aos movimentos do mercado internacional da commodity. O preço do petróleo é político, há uma disputa no mercado financeiro brasileiro, remunerado em dividendos pelos lucros da petrolífera. O que ocorre é uma espécie de ‘Robin Hood’ ao contrário. Os acionistas recebem e a população paga. Os mais frágeis transferem para os mais fortes”, diz.
Corte de custos
Ademir Guerra, de 50 anos, é fornecedor de lâmpadas de LED em Americana e utiliza seu carro como instrumento de trabalho, para se dirigir até o endereço de seus clientes espalhados pela Região Metropolitana de Campinas, além de precisar ir à São Paulo de duas a três vezes por semana para comprar os produtos que revende.
Assim, o profissional autônomo passou a recorrer ao etanol desde o início da pandemia, por conta do aumento gradual do preço da gasolina. Hoje, Ademir gasta em média R$ 1.200,00 por mês, mesmo tendo diminuído a frequência das viagens.
“O aumento no preço dos combustíveis impacta diretamente o meu trabalho, pois tenho que diminuir as visitas para conseguir controlar o gasto mensal. Tenho usado mais a comunicação digital. Pretendo me adaptar ao alto preço da gasolina, cortando alguns gastos extras exteriores ao trabalho”, relata.
Preços altos
Em meio às pressões do conflito, a Petrobras chegou a elevar o preço da gasolina em 18,77% e do diesel em 24,93% em um reajuste dos valores durante março, depois de um período de 57 dias sem variações, encerrando o mês com o preço médio do litro da gasolina a R$7,323 no país, segundo o Índice de Preços Ticket Log (IPTL).
Em Campinas, o custo maior da gasolina e do diesel chegaram a R$ 7,197 e R$ 6,699, respectivamente, de acordo com um levantamento do Correio Popular. Apesar de não derivar do petróleo, o etanol também acompanhou a alta de preços com o aumento de sua demanda. Fechou março a R$ 5,687, alta de 1,06%, conforme o IPTL.
Ainda, em 2021, o mercado brasileiro importou apenas 365 mil barris de petróleo da Rússia, equivalente a 0,6% do volume total importado. Por isso, mesmo à vista das sanções comerciais, a repercussão no Brasil seria mínima.
O economista Antonio Carlos Lobão alerta, ainda, que os preços dos combustíveis reverberam em diversos setores da sociedade, mas principalmente no bolso da população. Isto ocorre porque a alta gera um efeito dominó nos custos de todas as cadeias produtivas, que dependem muito do petróleo, o que acaba sendo repassado para os cidadãos, causando inflação generalizada.
Conta elevada
Rafael Porcari, professor universitário e residente de Bragança Paulista, de 45 anos, abastece seu carro Flex com gasolina por conta do rendimento do veículo, e conta que passou a gastar 36% a mais nos postos de combustível: antes gastava R$1.100 e agora gasta R$1.500, mensalmente.
“Tenho saído o menos possível com o carro, embora ainda seja muito. Mudar o hábito não é possível por eu trabalhar presencialmente. O que posso fazer de bicicleta ou a pé, tenho feito, mas não é possível na maioria das vezes. Preciso levar as crianças à escola, que não é perto, e ir visitar semanalmente meus pais em Jundiaí”, explica.
Trabalhando exclusivamente como motorista por aplicativo, Stella Medeiros, de 50 anos, realiza cerca de 300 viagens por mês, que variam de distâncias entre 1,5 km a 20 km, chegando a até 150 km diariamente. Neste contexto, Stella gasta quase R$2 mil mensais em gasolina.
“Com o transporte por aplicativo, você tem sempre um pouco de dinheiro para pagar as contas, mas não é um valor satisfatório pelos altos custos com as despesas do carro. Como o custo da gasolina aumentou bastante, nosso ganho também diminuiu”, diz.
Ela pensa em mudar de ocupação devido aos altos preços dos combustíveis e da diminuição de porcentagem de lucro com as viagens, mas anda tendo dificuldades para encontrar outro emprego. Por enquanto, tem aderido a algumas estratégias para gastar menos.
“Não vale a pena manter a profissão considerando os custos, mas como não tenho uma outra opção continuo trabalhando como motorista. Tenho selecionado as corridas conforme a distância do passageiro, pois o trajeto percorrido só é remunerado quando o cliente está dentro do carro. Mas gera pouco lucro e alto gasto de gasolina”, conta.
PEC dos Combustíveis
Frente à ascensão dos preços, foi aprovado pelo Senado recentemente o texto-base que altera a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) dos combustíveis, como resultado da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Combustíveis, apresentada no início de fevereiro. O objetivo da PEC é reduzir ou zerar os tributos relacionados aos combustíveis, e, assim, diminuir o valor repassado ao consumidor.
Imposto perverso
Em entrevista ao Digitais, Flávio Campos, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo (RECAP) de Campinas, definiu o imposto como perverso e que, por isso, apoia a PEC dos Combustíveis.
“No Brasil temos um problema complexo do arcabouço tributário. Cada estado cobra de um jeito e isso gera grande margem para sonegação. Com a PEC, o Governo Federal zerou a alíquota por um tempo uniformizou o ICMS. É importante a população cobrar que os governos estaduais apoiem a proposta”, afirma.
Entretanto, segundo o economista Lobão, se criou uma falsa ideia de que o preço está alto por conta dos impostos. “Se fosse assim, a gasolina sempre estaria alta. Esta é uma posição do presidente, que quer jogar a culpa nos governadores. O que nosso governo tem feito é não tomar nenhuma decisão. Não são os impostos que oneram o preço, são as políticas de preço da Petrobras. Até porque, quanto mais caro o petróleo, mais imposto se paga sobre ele”, finaliza.
Orientação e Edição: Prof. Artur Araujo
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