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Morin propõe pensar a complexidade da crise

Filósofo francês participou de webinário dedicado a esmiuçar a abordagem do pensamento complexo

O filósofo Edgar Morin, aos 99 anos; e o pesquisador e jornalista Juremir Machado, em webinário sobre o pensamento complexo (Imagem: YouTube)

Por Vitória Landgraf

Prestes a comemorar 100 anos, o filósofo francês Edgar Morin participou, nesta segunda-feira (28), de um webinário promovido pelo Sesc-SP, no YouTube, com a finalidade de debater o legado de seus estudos sobre o método científico. “Em tempos de pandemia, a necessidade de pensar a complexidade da crise, com todas suas incertezas e perigos, impõe justamente que se mude o modo de pensar para melhor compreender esse mundo a fim de evitar catástrofes”, disse.

Morin – um dos mais importantes intelectuais da atualidade, com forte influência na academia brasileira – dedicou seus estudos a ultrapassar fronteiras disciplinares para uma melhor compreensão do mundo e dos fenômenos que o cercam. Ele é considerado uma referência viva do princípio hologramático, segundo o qual a parte está contida no todo, assim como o todo está presente na parte. Trata-se de um contraponto ao reducionismo, visão que só observa as partes; e ao holismo, que só enxerga o todo.

O evento contou com a participação do jornalista e professor Juremir Machado da Silva, da PUC do Rio Grande do Sul, tradutor de obras do filósofo francês; e da professora Maria da Conceição Xavier de Almeida, coordenadora do Grupo de Estudos da Complexidade, da cátedra itinerante Unesco “Edgar Morin”, e docente titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Ao discutir a dialogia do binômio explicação-compreensão presente na obra de Morin, o professor Juremir Machado disse que “na sociedade ocidental, racionalizada ao extremo, somos produto dessa busca obsessiva pela explicação, que é importante e que ajuda a construir a civilização na qual vivemos, mas também é preciso pensar no polo da compreensão”.

Tradutor de 4 dos 6 volumes da obra O método, do estudioso francês, o professor brasileiro lembrou que o acaso faz parte da sociedade e que, em diversos momentos da história da civilização, como a pandemia do novo coronavírus, o ser humano não tem o controle total dos acontecimentos.

“A incerteza derruba as paredes aparentemente invioláveis do conhecimento”, completou Juremir, que ainda se referiu ao “drama humano” encerrado com a morte de Lázaro Barbosa, naquele mesmo dia, para introduzir a necessidade da compreensão do fenômeno social.

“Em dado momento, a mãe dele deu uma entrevista dizendo que não entendia como um menino tão afetuoso tinha se tornado um homem violento a ponto de ser um assassino, um serial killer. E aí eu pensei mais uma vez no polo da compreensão: como compreender esse humano que é ao mesmo tempo faber, ludens, economicus e demens ?”, propôs ao ponderar que “estamos, ao mesmo tempo, a um passo da morte e da loucura. A nossa racionalidade está sempre por um fio”.

Em sua fala, a professora Conceição Almeida, disse que a convicção dos futurólogos em um cenário maquinário e tecnológico pode ser um empecilho para novas alternativas e oportunidades no futuro. “Eles oferecem um único prato de um cardápio, e nós sabemos que a humanidade vive do signo da incerteza; e onde há dúvidas, também há possibilidade de grandes mudanças”, apontou a docente.

Mediadora do debate, a jornalista argentina e fundadora da Associação Palas Athena – organização filantrópica brasileira que trabalha com projetos de promoção social e direitos humanos – Lia Diskin destacou uma das ideias expressas na obra Os 7 saberes necessários à educação do futuro”, de Morin, que é o pensamento crítico.

“Edgar aponta para os perigos de reduzir os pensamentos, e oferece em seus livros componentes que permitem a transformação do conhecimento enraizado. De algum modo, nós temos jovens com uma educação que confere apenas o que se sabe, e que não está interessada em promover outros saberes”, afirmou.

Juremir Machado foi na mesma direção. Ele ressaltou a importância de reconhecer a ignorância, não no sentido pejorativo do termo e, sim, na necessidade de admitir a imensidão do universo e as diversas visões de mundo. “As coisas têm dois lados”, completou Conceição Almeida ao se referir ao pensamento complexo como um método que auxilia a ampliar as pautas sobre o futuro.

Os debatedores também expuseram suas preocupações em relação aos espaços de relativização do conhecimento que surgiram com maior intensidade nos últimos anos. “A pandemia nos obrigou a pensar sobre diferentes perspectivas, o que é positivo dentro das ideias de Morin. No entanto, a ciência já nos comprova muita coisa. O que estamos falando é do problema de tomar como verdade aquilo que ainda não passou por um teste de comprovação”, explicou o jornalista Juremir ao criticar o negacionismo científico.

Aqui, acesso ao debate “Jornadas Edgar Morin: a vida em tempos de incertezas e a construção do futuro”

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Oscar Nucci


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