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Para cientistas, Brasil repete erros do século passado

Simone Kropf, da Fiocruz, leva “jacaré” para denunciar o criminoso negacionismo de Bolsonaro                                                                            

As pesquisadoras Natalia Pasternak, Lilia Schwarcz e Simone Kropf no debate “A velha e a nova revolta da vacina” (Imagem: Youtube)

Por: Ederson Rufato

Reunidas em seminário para traçar um paralelo entre as pandemias da varíola (1904) e gripe espanhola (1918), e a pandemia da Covid-19, que já mata quase 2 mil brasileiros ao dia, as pesquisadoras Simone Kropf, Natália Pasternak e Lília Schwarcz pediram ontem uma mobilização nacional no combate ao novo coronavírus. Para elas, o negacionismo do governo Bolsonaro – além de destruir vidas – representa um projeto político que se utiliza do medo para o exercício do poder.

“Não é possível naturalizar esse número estarrecedor de mortes”, afirmou Lília, mediadora do encontro. O evento foi promovido em parceria do Jornal Nexo com a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), entidade que reúne centros de pós-graduação e de pesquisa em antropologia, ciência política, relações internacionais e sociologia de todo o Brasil.

Lília Schwarcz é historiadora, professora do Departamento de Antropologia da USP, colunista do Nexo e autora várias obras, entre elas “Brasil: uma biografia” e “Sobre o autoritarismo brasileiro”. Como convidadas ao encontro, estavam presentes a microbiologista Natalia Pasternak, colunista de “O Globo”, presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC) e membro do Committee for Skeptical Inquiry (EUA). A pesquisadora Simone Kropf, especialista em história da ciência e professora da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, coordena estudos sobre a atuação da Fiocruz no enfrentamento da pandemia de Covid-19.

Lília Schwarcz: “… número estarrecedor de mortes” (Imagem: Youtube)

Em sua apresentação, Lilia Schwarcz lembrou que, no início do século passado, o Brasil viveu também uma chamada “revolta da vacina” no combate à varíola, em 1904. No período – quando a ciência era pouco compreendida — o negacionismo era tão forte que as pessoas espalhavam boatos dizendo que, se tomassem a vacina contra a varíola, iriam ser transformados em bois, explicou Schwarcz.

“Cem anos se passaram e parece que o Brasil esqueceu o que aprendeu ao longo dos anos”, lamentou Lilia Schwarcz, fazendo referência às declarações de Jair Bolsonaro, que é contrário ao distanciamento social, ao uso de máscaras para conter a propagação da doença e inicialmente foi contrário ao uso da vacina. Bolsonaro chegou a associar a vacina a mutações genéticas: quem tomasse poderia se transformar em jacaré ou começar a falar fino, aventou.

A pesquisadora Simone Kropf associou o negacionismo do presidente a uma estratégia governamental que se aproveita do medo, da dúvida e da desinformação para o exercício do poder político. “A dúvida disseminada pelo discurso negacionista é uma questão politica para aplicar políticas públicas, para manipular e fazer populismo através de medicamentos milagrosos, como no caso da Cloroquina e do spray nasal fabricado por Israel”, disse.

“Esse pensamento mágico surge quando não se tem a capacidade de lidar com uma situação, que é o que acompanha o atual governo desde o começo da pandemia”, observou Pasternak.

Simone lembrou que, ao lado do negacionismo da pandemia, o Brasil conta também com o negacionismo das mudanças climáticas, igualmente liderado pelo presidente Bolsonaro. Segundo ela, as duas coisas estão interligadas. “Quanto mais quente fica o clima, melhor para os mosquitos – que são grandes vetores de doenças tropicais”, ponderou. A pesquisadora disse ser importante “conquistar aliados para o nosso lado”, explicar à população o que é ciência e qual o papel do estado na proteção do direito à saúde.

Pasternak: Os médicos não são preparados para pensar (Imagem: Youtube)

Pasternak afirmou que a classe médica – à qual pertence – precisa mudar sua forma de atuação no sistema de saúde, o que implica em conhecer disciplinas da área social em seu processo de formação. Podemos ser excelentes técnicos, mas não somos preparados para pensar”, afirmou ao dizer que é urgente trazer a interdisciplinaridade para a formação de profissionais da saúde.

“Eu nunca tive aula na graduação ou pós-graduação sobre Filosofia da Ciência”, reclamou a pesquisadora ao afirmar que toda sua formação, neste campo, foi obtida a partir de sua própria iniciativa.

Aqui, acesso ao debate “A velha e a nova revolta da vacina”.

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Letícia Franco


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