Consumo
Parte dessa diferença pode ser explicada pelo aumento das margens de lucro dos postos, explicam especialistas no assunto
Por João Pedro Belvedere, Júlia Iacconi e Maria Eduarda Mubarak

Apesar das recentes reduções promovidas pela Petrobras nos preços do diesel e da gasolina, os efeitos no dia a dia da população continuam incertos. Em Campinas, cidade com forte atividade logística, o reflexo nas prateleiras dos supermercados e nos valores de frete segue sendo uma expectativa mais do que uma realidade.
Em 5 de maio, a Petrobras anunciou a terceira redução no preço do diesel em 2025. O valor repassado às distribuidoras caiu R$ 0,16 por litro, fixando o preço médio do diesel A em R$ 3,27. A medida foi motivada pela queda do preço do barril de petróleo no mercado internacional (abaixo de US$ 60 no início de maio) e pela valorização do real frente ao dólar, fatores que influenciam diretamente a política de preços da empresa.
Essa queda somou-se a outras duas reduções anteriores: R$ 0,17 em 1º de abril e R$ 0,12 em 17 de abril. No total, desde dezembro de 2022, o diesel A acumula uma redução de R$ 1,22 por litro, o que representa uma queda de 27,2%. No caso do diesel B, vendido nos postos com adição de 14% de biodiesel, o valor da parcela repassada pela Petrobras caiu para R$ 2,81 por litro, uma redução de R$ 0,14.
Embora esses cortes representem um alívio na refinaria, a realidade nas bombas é mais complexa. Segundo dados da ANP e de entidades como Edenred e Brasil de Fato, o preço médio do diesel B nos postos brasileiros variou entre R$ 6,13 e R$ 6,05 na primeira quinzena de maio, indicando que apenas cerca de R$ 0,21 por litro da redução chegou efetivamente ao consumidor.
Parte dessa diferença pode ser explicada pelo aumento das margens de lucro dos postos. Estimativas do economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), apontam que a margem média subiu de R$ 0,59 para R$ 0,89 entre dezembro e abril. A própria Petrobras reconheceu que as margens dos distribuidores e revendedores são os principais fatores que dificultam o repasse total da redução ao consumidor.
Em Campinas, onde o diesel chegou a ser vendido a R$ 6,01 em abril, a expectativa é de que o custo do transporte tenha alguma queda nos próximos meses, principalmente em setores que dependem de frete rodoviário, como a distribuição de alimentos, combustíveis e produtos manufaturados. No entanto, essa redução nem sempre se converte em preços mais baixos para o consumidor.
O economista Antonio Carlos Lobão explica por que isso ocorre: “Alguns preços podem cair logo. Quando o custo do transporte diminui, é possível que o preço final também baixe. Mas isso depende da decisão de cada empresário. Se eu pago menos pelo frete, posso decidir manter o preço dos meus produtos e aumentar a margem de lucro. O governo não define preços, quem define é o mercado”.
Essa lógica de mercado, segundo o especialista, limita a capacidade de o consumidor perceber imediatamente os efeitos das quedas anunciadas.

A situação se repete no caso da gasolina. Em 2 de junho, a Petrobras anunciou a primeira redução no preço do combustível em 2025, cortando R$ 0,17 por litro nasdistribuidoras, com o preço médio da gasolina A fixado em R$ 2,85. Considerando a mistura obrigatória de 27% de etanol, o impacto previsto para o consumidor final é de aproximadamente R$ 0,12 por litro. Como ocorre com o diesel, o valor efetivamente percebido nos postos depende das margens de lucro e dos estoques anteriores de cada
revendedor.
Embora a política de preços da Petrobras esteja mais alinhada às cotações internacionais, o impacto real sobre o custo de vida depende de fatores locais, como concorrência entre postos, volume de estoque e decisões empresariais sobre repasses.
Em síntese, os cortes acumulados no diesel (R$ 0,17 em abril, R$ 0,12 em abril e R$ 0,16 em maio) e o recente corte na gasolina (R$ 0,17 em junho) refletem uma tendência de alívio nas refinarias, mas a repercussão no varejo segue limitada. Em Campinas, há potencial para redução de custos logísticos, porém o consumidor ainda enfrenta incertezas quanto ao repasse efetivo dessas reduções no preço final de produtos e serviços.
Edição: Nicole Heinrich
Orientação: Artur Araujo
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