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Três gerações discutem os impactos da revolução digital

As vantagens e desvantagens das novas tecnologias segundo os Baby Boomers, X e Z

Por: Clara Prado e Letícia Borges

Os Baby Boomers, nascidos entre 1945 e 1964, e a geração X, de 1965 e 1980, cresceram em uma época anterior à revolução digital, quando a comunicação instantânea e o acesso rápido à informação não eram comuns como são hoje em dia. Para eles, viver sem essas facilidades era normal. No entanto, para a geração Z, nascida entre 1996 e 2010, que foi criada em um ambiente onde o avanço tecnológico já fazia parte do cotidiano, não.

De acordo com uma pesquisa realizada em 2021, pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), no Brasil, cerca de 93% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos de idade usam diariamente a internet. Essa influência do avanço tecnológico, gera mudanças na forma em que os jovens lidam com situações do dia a dia.

Letícia Almeida, trabalhando com as redes sociais em seu estágio de marketing digital (Foto: Letícia Borges)

O grande contraste entre as gerações Z, X e os chamados “Baby Boomers”, em sua grande maioria, é a dependência dos aparelhos tecnológicos, como celulares, computadores e videogames, sendo difícil para os jovens de hoje imaginar como era a vida antes da revolução digital.

A estagiária de marketing, Letícia Almeida, de 25 anos (geração Z), descreve qual seria a maior dificuldade de viver sem a internet e a tecnologia no cotidiano. “Eu particularmente não sei como viveria sem meu celular, pois não conseguiria falar com pessoas importantes pra mim que moram longe, como meus pais e minha avó. Considero uma necessidade manter essa comunicação”, diz Letícia.

Além disso, a jovem falou sobre a importância da tecnologia em sua vida profissional. “Trabalho com as redes sociais, então estou totalmente ligada a esse mundo digital. Sem um notebook e uma rede Wi-fi, não conseguiria desempenhar minha profissão.”

Em 2023, o IBGE somou 2,1 milhões de trabalhadores de plataformas digitais, demonstrando o quanto o avanço da tecnologia alterou a realidade das gerações que foram evoluindo juntamente com as inovações que surgiram ao longo dos anos, e como isso impactou na vida profissional das pessoas.

A auxiliar de educação infantil, Vanessa Teodósio, de 42 anos (geração X), fala como ela vê o uso das novas tecnologias e como as empresas se beneficiaram com a revolução digital. “Na minha época era muito difícil para os jovens e adolescentes conseguirem ingressar no mercado de trabalho sem ter nenhuma experiência, pois as pessoas tinham que buscar as vagas pessoalmente, indo nas ruas e entregando currículos. Hoje existe uma facilidade muito maior para encontrar oportunidades boas de emprego. Além do mais, nunca imaginaria conseguir trabalhar de casa, apenas com o computador, como uma boa parte dos jovens fazem hoje em dia” diz Vanessa.

A revolução digital trouxe consigo uma série de benefícios, sendo o principal deles a facilidade com que as pessoas conseguem o que precisam de forma rápida e sem grandes dificuldades. Além disso, a praticidade de poder trabalhar em qualquer lugar, apenas com acesso à internet e um computador, ou até mesmo utilizando apenas um celular, é uma realidade. No entanto, essa mesma facilidade que proporciona conforto também pode ter suas desvantagens e pontos negativos.

Marcos Carneiro, professor de Engenharia Mecânica da PUC-Campinas, sentado em frente ao seu computador no escritório da faculdade. (Foto: Clara Prado)

O professor, Marcos Carneiro, 65 anos (Baby Boomer), de Engenharia Mecânica da PUC-Campinas, destaca a falta de tempo e atenção que os jovens de hoje em dia têm para se dedicar à reflexão e construção de raciocínio próprio. “Antigamente, era essencial planejar e dividir as tarefas de forma produtiva e eficaz para não perder tempo. Os jovens de hoje não sabem aproveitar bem o tempo. A dificuldade em parar para pensar e agir de forma produtiva é evidente. Eles não se preocupam em absorver as informações corretamente, especialmente na sala de aula, onde percebo muito ctrl c e ctrl v. Além disso, qualquer barulhinho do celular já dispersa a atenção”, diz Marcos.

Além disso, o professor relembrou sobre as poucas opções utilizadas para chegar a algum lugar antigamente. “O transporte não era difícil para ninguém. As pessoas só tinham que dobrar sua atenção e olhar as placas, saber as linhas de ônibus, avenidas, ruas e também algum ponto de referência. Se alguém precisasse ir há um lugar novo, usava os mapas, cada cidade tinha o seu, então você só tinha que saber lê-los, mas também como era algo do nosso cotidiano, já tínhamos costume”, relembra Marcos.

Já atualmente, com a popularização dos aplicativos de GPS, como o Waze e o Google Maps, tornou-se simples e fácil se locomover para diferentes lugares. Tanto para motoristas quanto para aqueles que utilizam o transporte público, já que existem aplicativos específicos que mostram as linhas e horários dos ônibus.

Para se locomover até um local novo, é preciso saber qual o caminho exato a seguir, e quais os meios de transporte mais adequados para cada situação, coisa que aplicativos de rotas facilitam muito a vida de seus usuários.

Os Estagiários de design, José Everton de Souza e Gianluca Santos, de 24 e 19 anos, refletiram sobre como seriam suas estratégias sem utilizar esse tipo de auxílio. “Seria muito complicado, principalmente pra mim, que não sou habituado a andar pela cidade, apenas nos lugares que já tenho costume, como minha casa, a faculdade e o serviço. Sempre uso algum aplicativo para me indicar as rotas, quando vou para um lugar desconhecido”, falou Gianluca. “Para o trabalho já sei o caminho, mas para algum lugar novo aí teria dificuldades, mas eu perguntaria para as pessoas, afinal de contas, “quem tem boca vai a roma!”, complementou Everton.

Emanoel Andrade, pesquisando rotas em seu nootebook, através do site Google Maps ( Foto: Letícia Borges)

As gerações Z e as futuras que virão, são considerados nativos digitais, uma vez que a tecnologia sempre esteve presente em suas vidas e influencia inclusive, seu modo de aprender, socializar e lidar com o trabalho e o mundo. Quando a nova geração se depara com situações onde precisam se adaptar sem o auxílio das tecnologias, acabam encontrando meios mais demorados para realizarem suas funções. O estagiário em gestão financeira, Emanoel Andrade, de 18 anos, descreve sua visão quanto à utilidade das redes sociais em seu cotidiano. “Eu já passei uma parte da minha vida sem as tecnologias, e com o tempo me acostumei, porém, é difícil ficar sem essa praticidade, já que a tecnologia nos proporciona benefícios para fins comerciais, informativos e até mesmo dissipação de ideias”, reforça.

O avanço das inovações tecnológicas, têm grande influência para a nova geração, o lado negativo disso tudo é que, o uso excessivo pode causar alguns distúrbios psicológicos.

O alerta de especialistas

O especialista Filipe Martin, em entrevista para o site da Unimed de Londrina, explica que o uso excessivo do celular, tablet, computador e internet pode se tornar uma dependência, e trazer muitos prejuízos como: Dificuldades na socialização e conexão com outras pessoas; sedentarismo; dependência do uso; transtorno de sono; problemas auditivos pelo uso de fones de ouvido; problemas posturais; problemas visuais; limitação da interação física e com o meio ambiente; desconstrução do vínculo afetivo com a família etc.

Filipe apresenta algumas recomendações fundamentais para um uso controlado de crianças. “Crianças abaixo de dois anos não devem utilizar mídias digitais, porém a partir de 18 meses, podem ter acesso supervisionado para fazer vídeo chamadas com os pais, porque vão aprender a assistir e conversar por modelo. Também recomendam que crianças pré-escolares, de dois a cinco anos, tenham acesso a somente uma hora de uma programação de alta qualidade, ou seja, que tenham conteúdo educativo para o aprendizado”, diz Martin.

Com relação aos adultos, sabe-se que a maioria dos trabalhos envolvem o uso de tecnologia, o que torna, muitas vezes, impossível evitar o seu excesso. Contudo, “o controle ainda se torna possível, por meio de pausas de 15 minutos a cada duas horas”, concluiu Filipe. Para os demais motivos para utilizar os aparelhos eletrônicos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta apenas duas horas por dia de tecnologia para lazer.

Cesar Rosolen Jorge, psicologo e coordenador da Clínica Médica SC, em sua sala de atendimento. (Foto: Clara Prado)

Cesar Rosolen Jorge, de 56 anos, formado em psicologia, coordenador técnico da clínica médica SC, destaca a falta de tempo e atenção que os jovens de hoje em dia têm para se dedicar à reflexão e construção de raciocínio próprio. “Eu venho de uma geração onde talvez o sonho era construir um computador que pudesse se aproximar do cérebro humano, e eu acho que hoje a gente vive uma expectativa que o homem seja rápido e eficiente e assertivo como um computador. eu acho que o avanço da tecnologia é dez vezes mais rápido do que o avanço da espécie humana, o que talvez nos mantenha nessa posição de humano seja os afetos”, aponta Cesar.

Ele diz que até mesmo a forma de lidarmos com nossas questões pessoais é afetada com a influência da constante evolução tecnológica. “Naquela época, como não havia internet, as pessoas precisavam desenvolver habilidades como conversar pessoalmente, lidar com frustrações e ter uma boa escrita. O contato a distância, era feito principalmente por meio de cartas, já que os telefones eram um artigo de luxo para muitas pessoas. Além disso, era necessário ter paciência, pois as coisas levavam mais tempo para acontecer e não eram tão rápidas como é hoje em dia”, completou Cesar.

Orientação: Prof. Gilberto Roldão
Edição: Giovanna Sottero


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Digitais é um produto laboratorial da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, com publicações desenvolvidas pelos alunos nas disciplinas práticas e nos projetos experimentais para a conclusão do curso. Alunos monitores/editores de agosto a setembro de 2023: Bianca Campos Bernardes / Daniel Ribeiro dos Santos / Gabriela Fernandes Cardoso Lamas / Gabriela Moda Battaglini / Giovana Sottero / Isabela Ribeiro de Meletti / Marina de Andrade Favaro / Melyssa Kell Sousa Barbosa / Murilo Araujo Sacardi / Théo Miranda de Lima Professores responsáveis: Carlos Gilberto Roldão, Carlos A. Zanotti e Rosemary Bars.