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O jornalista Baker Atyani narra seu encontro com o fundador da Al Qaeda, no livro de Simone Duarte
Por: Pamela Barbosa
“Era um homem muito alto, vestindo a túnica árabe, um turbante branco na cabeça e uma metralhadora AK-74 a tiracolo. Osama Bin Laden me abraçou e me cumprimentou calorosamente, me deu boas-vindas junto a dois egípcios”. O relato foi feito pelo jornalista palestino Baker Atyani a respeito do encontro que manteve com o líder da Al Qaeda antes do ataque às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001.
Atyani participou nesta segunda-feira, 6, do lançamento do livro O vento mudou de direção: o Onze de Setembro que o mundo não viu, da jornalista Simone Duarte, no auditório do campus-1 da PUC-Campinas. Personagem da obra da ex-editora da Rede Globo em Nova York, Atyani foi o último jornalista a entrevistar Bin Laden antes do ataque às torres gêmeas.
Simone conheceu o jornalista que virou fonte de sua obra quando viajou ao Paquistão a trabalho. Em uma conversa ocasional dentro de um ônibus, Baker disse a ela que já havia entrevistado Bin Laden, tanto que foi para ele que o fundador da Al Qaeda confessou que iria atacar os EUA.
“Ele me falou que haveria um ataque aos EUA, que seria de grandes proporções e que os negócios de caixões iriam prosperar”, complementou Baker.
“Acredito que por eu ser palestino isso tenha colaborado para que Osama aceitasse conversar comigo. Ele não queria conversar com pessoas que fossem israelitas, por exemplo, mas é uma suposição…”, explicou Baker, cujo depoimento contou com tradução durante o evento.
O ataque terrorista às torres gêmeas implicou em 2.977 mortes, que, com o revide dos Estados Unidos, resultou em mais mortes em outros países do Oriente Médio, dando origem à chamada “guerra ao terror”. A obra da jornalista conta com recortes e depoimentos recolhidos nos três países mais atingidos pela reação americana: Iraque, Afeganistão e Paquistão.
Simone escolheu dois personagens de cada um desses três países para contar suas histórias, todos identificados apenas pelo primeiro nome, para evitar identificação. Suas trajetórias individuais são contadas de forma não cronológica no decorrer de 233 páginas da obra, visando retratar como suas vidas foram afetadas pela reação dos EUA.
“O livro, de início, era para ser sobre seis pessoas. Seis pessoas que não estavam naqueles prédios, naquele dia, que não moravam em Nova York, Washington e Pensilvânia, mas que foram e são atingidas pelas repercussões daquele ataque até hoje”, explicou a autora a respeito de como idealizou a escolha das fontes.
Simone, em 11 de setembro, foi quem narrou ao vivo, na TV Globo, o ataque às torres gêmeas. Por alguns anos, ela procurou não ouvir as gravações do episódio. Quando se sentiu preparada, decidiu seguir com a antiga ideia: escrever um livro sobre o impacto dos atentados no mundo.
“No dia do ataque, imaginei que ali começaria a terceira guerra”, revelou Simone aos estudantes presentes no lançamento da obra. “Três momentos para mim foram muito difíceis. Primeiro, quando o Pentágono foi atacado; segundo, quando a torre cai; e o terceiro foi quando as pessoas começavam a cair lá de cima. Elas estavam se jogando…”, acrescentou.
A presença destes correspondentes atraiu a atenção dos estudantes da Faculdade de Jornalismo, que ouviram sobre os desafios de atuar na “linha de frente”. Baker, por exemplo, ficou 18 meses em cativeiro no alto das montanhas nas Filipinas, em poder da guerrilha, e sobreviveu, pois tentou fugir três vezes até que obtivesse sucesso.
A seguir, trechos do livro de Simone Duarte:
Gena (Bagdá, Iraque, 2005)
“O barulho a deixou surda por alguns minutos. Alunos com lágrimas nos olhos corriam aos gritos pela escola. Pelo menos era isso o que Gena percebia a partir do movimento dos lábios dos colegas. Parecia estar assistindo a um filme em câmera lenta. Partes de um carro voavam pelo ar. A visão ficara turva com a fumaça da explosão. Gena esperava a mãe, que participava de uma reunião com a professora, quando os estilhaços da vidraça se enroscaram nos fios do seu cabelo. O carro tinha explodido junto do muro da escola.”
Rafi (Rússia, 2001)
“A primeira prova de fogo tinha sido sobreviver àquela passagem de trem pela fronteira do Cazaquistão com a Rússia. Mal viu a estação porque os carros já os esperavam para transportá-los até Moscou, onde foram separados em grupos e trancados em diferentes apartamentos. Uma semana depois, saíram rumo à fronteira com a Ucrânia, deitados, ou melhor, empilhados e escondidos em carros, para que a polícia não os visse. Foram seis horas até um destino desconhecido de onde partiram caminhando rumo adentro.”
Ahmer (Paquistão, 2008)
“Os militares talibãs o trouxeram de carro até a mesquita. Além dos explosivos amarrados ao corpo, segurava uma pistola numa das mãos e uma granada na outra. Havia sido instruído para jogar a granada numa direção e, quando as pessoas em pânico corressem para o lado contrário, ele iria para a mesma direção que elas, provocando um número maior de vítimas. A instrução era esta mesmo: matar o maior número possível de xiitas.”
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Marina Fávaro
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