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Busca por ancestralidade apagada inspira dissertação

“Entender as origens da minha família é também entender quem eu sou”, afirma Thais Gomes

Por: Beatriz Mota Furtado

A pesquisadora Thaís: “Comecei a entender que essa memória não era só minha, era muito mais comum do que eu imaginava” (Imagem: Videoconferência)

“Por que algumas famílias, com ancestralidade de outros lugares, têm mais informações do que a minha, que é nordestina?” Essa foi a reflexão que fez a estudante Thais Gomes da Silva iniciar a busca, segundo ela “por uma ancestralidade apagada da História”. Um passado denso e pesado, como a própria autora o define, se tornou, então, o objeto de pesquisa de sua dissertação de mestrado, que teve por título “Ser(tão) Imaginário: Identidades, lugar, memória/ficção”, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Linguagem, Mídia e Arte (Limiar), da PUC-Campinas, sob orientação da profa. Paula Almozara.

Foi visitando museus, conversando com descendentes dos povos indígenas da cidade de Araripina e Serra Talhada, região do nordeste brasileiro, e refletindo sobre a própria história que a autora percebeu o apagamento. Eu chegava nos museus perguntando sobre as Caboclas Bravas e a história dos indígenas da região, e nunca tinha nada. Parava, então, para conversar com os moradores da região e as alegações sempre eram as mesmas: ‘Ah, mas a minha avó foi pega no laço… Ah, mas a minha mãe conhece alguém…’ Aquele lugar era carregado de vestígios e memória, mas não havia nenhuma prova além da efemeridade das lembranças”, conta.

Natural de Araripina, interior pernambucano, Thais, 30 anos, tem ancestralidade amerindígena, africana e europeia, sendo toda sua família originária de Cariri, cidade do interior do Ceará. Graduada em Artes Visuais e mestre em Linguagem, Mídia e Arte, ambos pela PUC-Campinas através dos programas PROUNI e CAPES, a autora relata que percebeu que, em algum momento, toda vez que falava em Caboclas Bravas, alguém se identificava imediatamente.

“Comecei a entender que essa memória não era só minha, era muito mais comum do que eu imaginava”, diz. Ela relembra que quanto mais estudava, mais ia entendendo esse ‘não registro’ na história – o qual chama de apagamento. “Percebi que pertencer a esse lugar, estar nessa cultura e ter essa ancestralidade, é entender que toda uma geração foi fruto de uma violência: mulheres indígenas que foram laçadas”, reflete. 

A expressão ‘pega no laço’ é usada para se referir às mulheres indígenas que eram sequestradas por colonizadores do Brasil. Levadas para longe de suas tribos à força, através de amarras de cordas, as mulheres eram obrigadas a se casarem com esses homens, vivendo até o fim de suas vidas com o casamento arranjado, no qual seria obrigada a procriar.

Com a foto de capa de uma mulher idosa com vestes simples, Thais explica que tentou dar à dissertação a beleza do conhecimento sobre a ancestralidade. “Aquela é a minha tia-avó, chamada Isabela. Daí tirei o termo ‘Bela Ancestralidade’ [o qual guia a narrativa]. Ela é a única pessoa viva que pode me contar um pouco de quem eu sou, através da influência daqueles que viveram antes de mim”, comenta. A busca por vestígios de sua ancestralidade – fotos, lugares, conversas, histórias – e a apresentação de fatos históricos do que de fato estava acontecendo naquele lugar, naquele tempo, ajudaram Thais a tirar um pouco do apagamento dessa geração – de tudo aquilo que não foi, sequer, registrado na História.

Abaixo, a íntegra da entrevista em vídeo:

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Vitória Landgraf


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