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As editoras acabam priorizando publicações de best-sellers por ter venda garantida; autores independentes perdem visibilidade
Por: Gabriela Tiburcio
Os leitores brasileiros, em 2021, compraram mais livros. Um total de 55 milhões de exemplares impressos, segundo dados da pesquisa Painel do Varejo de Livros no Brasil, realizada pela consultoria Nielsen BookScan e divulgada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). O faturamento foi de 29,2% a mais do que em 2020. O ranking de livros mais vendidos no país no último ano, medido e organizado pelo PublishNews, mostra que dos 20 livros que compõem a lista, apenas cinco são nacionais. Por razão da preferência dos leitores brasileiros pela literatura estrangeira, os autores brasileiros reclamam a dificuldade de comercializarem suas publicações.
O escritor campineiro, Odair Schirmer, vivencia essa situação. Segundo ele, há muitos escritores talentosos no Brasil que não conseguem conquistar seu espaço no mercado literário. “Você não encontra muitas obras nacionais nas livrarias. Você vê as indicadas pela lista de best-sellers do The New York Times. As pessoas leem o que está em destaque”, disse. Por essa razão, ele comenta ser necessário que escritores brasileiros se mantenham em outra ocupação para se sustentar.
Schirmer é analista de sistemas e psicanalista. Ele escreveu dois livros publicados de maneira independente e possui mais dois em processo de edição. Ele avalia que a produção de um livro é cara, por isso as editoras convencionais somente investem em obras com venda garantida. A editora independente Cristina Medeiros Lima concorda que lançar um livro de um autor desconhecido é um desafio. A falta de visibilidade, o investimento precário em estrutura e a ausência de uma boa estratégia de marketing são pontos mencionados. Ela aponta que o livro estrangeiro que chega ao Brasil já é um best-seller lá fora, o que facilita na divulgação e venda. Contudo, a editora mantém-se positiva. “Por ser livros independentes, com poucos exemplares, não há como mensurar a venda geral em valores, mas é perceptível que, apesar das dificuldades, o mercado independente está crescendo”, afirma.
Larissa Escuer é escritora independente e estudante de Biomedicina na Universidade São Francisco, em Bragança Paulista. “Para ganhar o mínimo de visibilidade no mercado literário, você precisa apelar para uma plataforma digital que permita compartilhar histórias, mas que exige uma divulgação enorme para atrair leitores”, relata. “Um autor independente, de uma cidade do interior, acaba não tendo muita visibilidade”.
A estudante, que possui quatro livros publicados de forma autônoma, explica que as vendas de obras independentes ocorrem a partir do esforço do autor, que divulga seu livro nas mídias digitais e vende o exemplar físico em eventos literários e para conhecidos da família e de amigos. “O maior desafio é conquistar um público, mas quando conseguimos é um público que realmente nos apoia e esse amor é inestimável”, revela.
Edição independente – Como o custo de produção de um livro é alto, autores independentes precisam investir em pequenas tiragens, segundo a editora Cristina Medeiros Lima. As editoras menores, também chamadas de independentes, oferecem aos escritores seus serviços de montagem e de impressão de livros por um preço muito mais em conta. “Ajudamos o escritor a montar seu livro como se fossemos uma editora grande, mas ele não precisa passar pela nossa aprovação, pois arca com todos os custos de produção”, frisa. Segundo ela, por produzirem exemplares em menor quantidade, o custo final da edição acaba sendo menor.
Apesar das dificuldades enfrentadas, os escritores continuam apaixonados pela arte da escrita. Para Larissa Escuer, o consumo excessivo de produtos estrangeiros reflete na visão sobre o mundo. “Quando lemos uma obra regional, enxergamos a nós mesmos e nos sentimos representados e compreendidos. Não é mais um padrão inalcançável, é a nossa realidade, um motivo para continuar investindo na literatura nacional e regional”.
Odair Schirmer concorda e avalia que vale a pena ser escritor no Brasil. Para ele, todo conhecimento deve ser passado a diante, não importa se seja em formato de romance, de fantasia ou de mangá. Ressalta que o mercado dos livros digitais abre espaço para os escritores independentes venderem suas obras para um público maior, que antes não tinha acesso. “Existe dificuldade? Sim. Vou ficar rico com um livro? Espero que sim, tem que acreditar. O autor independente é o futuro”, pontua.
O escritor e professor do Programa de Pós-graduação em Linguagens, Mídia e Arte da PUC-Campinas, João Paulo Hergesel, analisa que o Brasil ainda é um país jovem e, por muito tempo, manteve regimes políticos que limitavam o acesso à educação e à cultura. “Até recentemente, o índice de analfabetismo era bem alto. Não é possível esperar que o Brasil seja um país de leitores vorazes, se o contexto histórico não colabora para isso”.
Hergesel afirma que o estímulo à leitura obrigatória da literatura clássica nacional, por parte de escolas, como forma de passar no vestibular e não como desenvolvimento de senso crítico, também colabora com a questão. Entretanto, deposita suas esperanças no público jovem adulto. “Por mais que exista um carinho pelos autores internacionais, a procura por livros nacionais, especialmente do segmento juvenil, vem crescendo a cada dia”, aponta.
Entenda como funciona a publicação de um livro independente, com Cristina Medeiros Lima:
Orientação: Profa. Rose Bars
Edição: Oscar Nucci
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