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Cientista pede mobilização contra “notícias assassinas”

O químico Luiz Carlos Dias, da Unicamp, fez o apelo a jovens pesquisadores da PUC-Campinas

O cientista Luiz Carlos Dias: “Usar jaleco branco e ter título de doutor não são sinônimo de ética” (Imagem: YouTube)

Por Vitória Landgraf

Embora reconheça que “a luta é desigual”, o pesquisador Luiz Carlos Dias, membro da força-tarefa da Unicamp no combate à disseminação do coronavírus, conclamou uma mobilização geral contra o que chamou de “notícias assassinas” que levaram à morte milhares de brasileiros na pandemia da Covid-19. Professor titular do Instituto de Química daquela universidade, Dias fez a conferência de abertura no encontro que reuniu mais de 500 estudantes bolsistas de projetos de iniciação científica, nesta terça (26), em evento remoto promovido pela PUC-Campinas.

Membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), o docente disse que combater as fake news é hoje um ato de “responsabilidade cívica”, atribuindo ao chamado “gabinete do ódio” – grupo de assessoramento informal do presidente Jair Bolsonaro – a origem da maior parte das desinformações propagadas durante a pandemia. “Já combatemos quase mil fake news neste período”, disse, referindo-se ao trabalho desenvolvido por grupos organizados em redes sociais dos quais participa.

“Usar jaleco branco e ter título de doutor não são sinônimo de ética”, advertiu Dias em sua palestra, apontando que a divulgação de notícias fraudulentas – que levam falsas esperanças à população desinformada – provocou a morte brasileiros que confiaram em lideranças cuja única preocupação é defender interesses escusos de viés político, religioso ou financeiro. “Infelizmente, o Brasil é um país muito propício à propagação do vírus da ignorância”, lamentou.

Dias chamou de “pseudocientistas” e “pseudojornalistas” os principais propagadores das desinformações que circulam na internet na defesa de argumentos negacionistas disseminados pelos movimentos antivacina. “Não estávamos preparados para este embate”, reconheceu o docente, mas se disse animado com a resposta da sociedade à campanha de vacinação. “Estamos avançando, pois o Brasil gosta de vacina”.

De acordo com o pesquisador, as principais ações dos divulgadores de notícias mentirosas tiveram reflexo, primeiro, em condutas que negam a necessidade do uso de máscara ou do distanciamento social como forma de evitar a contaminação. Em segundo lugar, o reflexo vem se dando no combate à vacinação, chegando hoje à casa dos 12 milhões de brasileiros que não retornaram para a segunda dose.

Frente a esse cenário marcado pelo negacionismo, o professor da Unicamp convocou não apenas a imprensa, mas também a sociedade civil a lutar contra a desinformação. “Precisamos alertar a população, os familiares, os amigos, pois esse movimento criminoso quer impedir que o conhecimento científico chegue às massas”, observou Dias.

“Só vamos poder relaxar as medidas de segurança quando pelo menos 85% ou 90% da população estiver imunizada”, estimou Dias. Ele lembrou que em países pobres, especialmente localizados no continente africano, o número de habitantes que tomaram a primeira dose chega apenas à casa dos 3,1%. “No entanto, a epidemia não vai acabar enquanto não acabar para todos”, enfatizou.

Dias disse ser necessário formar mais grupos e instituições liderados por especialistas em ciência e comunicação para que, assim, seja realizada a checagem de notícias com responsabilidade. “O futuro da ciência depende que cientistas e imprensa saibam se comunicar com a sociedade”, disse.

O XXVI Encontro de Iniciação Científica e XI Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, evento organizado anualmente pela PUC-Campinas, encerra nesta quarta (27).

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Aline Nascimento


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