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Especialista alerta para “neocolonialismo de dados”

Sérgio Amadeu: Google tem informações equivalentes a um livro de 300 páginas por usuário                                                                                          

O pesquisador Sérgio Amadeu: “Isso permite prever até o estado mental do ser humano”

 

Por: Bruna Carnielli

Informações a respeito de como as pessoas consomem, com quem falam ou para onde se transportam – armazenadas em datacenters chamados “nuvens” – são “o petróleo do século XXI”. A analogia foi feita pelo pesquisador Sérgio Amadeu, sociólogo e professor da Universidade Federal do ABC, em aula inaugural do curso de pós-graduação em Linguagens, Mídia e Arte, da PUC-Campinas. Para ele, os dados coletados pelas corporações que atuam no mundo digital representam uma nova forma de controle da economia, da ideologia e das pessoas no mundo contemporâneo.

“Vivemos hoje uma nova forma de colonialismo, que poderia ser descrita como neocolonialismo de dados”, disse o docente, para quem os colonizadores seriam as potências e corporações que se localizam “acima da Linha do Equador, como sempre”.

Ex-integrante do comitê gestor da internet no Brasil, Amadeu advertiu que a associação de datacenters à chamada “inteligência artificial” ou “aprendizado por máquinas” permite que as corporações empresariais conheçam melhor as populações que próprios governos onde vivem. “Elas sabem não apenas quem você é, com quem você se relaciona, para onde se transporta, mas também conseguem prever o que você fará no futuro”, disse ao lembrar que sistemas desta natureza “selecionam sugestões” que caem no gosto dos usuários de forma, aparentemente, inofensiva.

Segundo advertiu, o colonialismo, realizado por países europeus no início da Idade Moderna, agora tomou nova forma, pois o que está em jogo não é mais o território, mas sim a captação de dados a fim de “descobrir e fixar padrões de comportamento”. De acordo com ele, por meio da tecnologia de informação, alimentada por dados que os usuários fornecem gratuitamente ao Google, Facebook e Uber entre outros, as corporações do “capitalismo de dados” passam a ter acesso ao que os usuários gostam de ouvir, ler, estudar, comer e a diversas outras características pessoais.

“Isso permite prever até o estado mental do ser humano”, ressaltou Amadeu ao comentar que, segundo estimativas, a gigantesca Google já possui um volume de informações equivalente a um livro de 300 páginas por usuário de seu sistema.

A colonização a partir da coleta de dados – segundo Amadeu – permite que a vida seja “vigiada” por corporações, isto é, pelas empresas que controlam as redes sociais, os jogos digitais e todos os aplicativos utilizados nas “comodidades” oferecidas pelo mundo digital.

Com isso, segundo ele, no processo de consumo das informações fornecidas, as plataformas já conseguem saber o que devem, ou não, oferecer aos usuários. Por trás de um aplicativo como o Uber, por exemplo, “a empresa tem acesso aos lugares que mais frequentamos e caminhos que percorremos”.

O professor Amadeu lembrou que em países onde o reconhecimento facial é realidade cotidiana, parte da população costuma usar guarda-chuvas para não expor o rosto durante manifestações. “É uma forma de resistência a este modelo de controle”, lembrou.

Ao finalizar sua aula inaugural, Amadeu ressaltou que estes avanços tecnológicos têm sido apresentados como mecanismos para oferecer mais eficácia, rapidez e economia de recursos naturais, o que seria uma falácia. “Os sistemas de refrigeração à água dessas máquinas, por exemplo, consomem tanta energia, que Amsterdam proibiu a instalação de novos datacenters no município”.

“Além disso, não vi nenhuma dessas tecnologias prezar pelo meio ambiente ou mesmo sendo usadas para políticas públicas que melhorem a qualidade de vida da população ou reduzam a desigualdade social”. Para ele, a coleta de dados possui um novo significado: a criação de monopólios, fazendo com que a série “Black Mirror” não seja apenas uma história de ficção.

 

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

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