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Ideias antidemocráticas nas redes sociais

Em aula aberta, o doutor em Filosofia da Comunicação Andrés Bruzzone discorre sobre comunicação digital e o uso das redes sociais para disseminar ideias antidemocráticas

Por: Letícia Almeida

A Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas promoveu nesta quinta-feira, 30, uma aula aberta com Andrés Bruzzone, fundador e CEO da Pyxys – Inteligência Digital e autor do livro “Ciberpopulismo: política e democracia no mundo digital”. Andrés, brasileiro nascido na Argentina, é mestre e doutor em Filosofia pela USP com tese em Filosofia da Comunicação. Por meio de uma live transmitida no Facebook do portal Digitais e mediada pelo professor Marcel Cheida, Andrés trouxe as concepções de seus estudos que resultaram no lançamento de seu livro em maio, pela Editora Contexto. Nele Andrés discorre sobre o ciberpopulismo, termo que une o cibernético ao conceito de populismo que, segundo ele, vem sofrendo uma erupção, particularmente da direita e extrema direita em diversos países, inclusive o Brasil.

Fundador e CEO DA Pyxys, Andrés Bruzzone e o professor Marcel Cheida (Foto: Arquivo pessoal)

De acordo com Bruzzone, quando o populismo — técnica narrativa que costura um esquema onde há um salvador, um povo a ser salvo e um inimigo que ameaça esse povo — junta com as possibilidades que as redes sociais oferecem de direcionar mensagens de acordo com a necessidade e a capacidade do receptor de acreditar em alguma coisa, funciona muito melhor. Os algoritmos das redes sociais usados para traçar perfis dos usuários permite que as mensagens sejam mais bem direcionadas. “O problema do ciberpopulismo é que ele toma algo que poderia ser muito positivo para a democracia, que é um maior acesso às informações e a possibilidade de as pessoas se manifestarem e a deturpa, transformando-a em uma ferramenta que atenta contra a democracia”, disse ele.

Em sua tese, Andrés Bruzzone rejeita a concepção de que a comunicação se dá através de um emissor, uma mensagem e um receptor, pois considera o modelo muito simplista e que acaba reduzindo um fenômeno que é muito complexo. Esse modelo que passamos a pensar de forma hegemônica a comunicação, foi desenvolvido para tratar de aparelhos elétricos, e não para falar de pessoas. Andrés recorre a filosofia para abordar a comunicação. “A filosofia é cheia de possibilidades de pensar a comunicação como um fenômeno que faz o humano e não como um atributo, como uma atividade, mas como uma condição necessária para que o humano exista”, afirmou.

A partir dessa concepção filosófica, Bruzzone ainda afirma que a consciência se faz com a comunicação junto com outras pessoas e que a comunicação existencial está desde o início da consciência individual. Desse modo, o autor discorre sobre a comunicação digital, sobretudo nas redes sociais. “As redes sociais já explodem, não cabem no modelo emissor, mensagem e receptor. A gente precisa de alguma maneira dar conta desse fenômeno que é muito mais amplo. Se a gente pensa na comunicação como esse tecido de consciências que se entrelaçam fica mais fácil”, ele disse.

Para Bruzzone, as redes sociais diminuíram as intermediações midiáticas e sem elas retira-se o poder de curadoria, de filtragem e de checagem, e isso expõe pessoas que ainda não estão prontas a mensagens que podem estar direcionadas com algum objetivo de deturpação. Isso gera a polarização nas redes sociais, colocando adversários como inimigos. Esse jogo utilizado no populismo, funciona ainda de forma mais eficiente no ciberpopulismo. “Ao colocar duas posições contrapostas e excludentes, elimina as variáveis do jogo político plural. Quando não tem nuances, não tem possibilidade de diálogo, você está matando a inteligência, não tem mais a possibilidade de pensar junto e aí então é que você está rasgando esse tecido comum que a comunicação tem como missão, como fundamento”, afirmou.

 No decorrer da live, Bruzzone se aprofunda na questão da polarização, afirmando que a ideia de bem e mal absolutos, dos extremos que se opõem, que elimina os tons de cinza, levam a um pensamento muito empobrecido e enfraquecido, que reduz ou elimina as possibilidades de evoluções dialéticas. Segundo ele, é perigoso quando se transforma adversários em inimigos, pois o campo democrático cai na armadilha de brigar internamente, sem saber reconhecer quem de fato é o inimigo, que é aquele que ameaça à democracia.

 Adepto de uma visão otimista, Bruzzone acredita que as democracias têm o poder de se reconstruírem e que o Brasil está trazendo a tona conflitos que precisam ser discutidos, como o conflito racial, da violência contra as mulheres, das desigualdades sociais, dos homicídios e linchamentos. Ele ainda afirma que o Brasil é um país de alma rica, mas que vem de uma herança escravocrata e que possui uma democracia ainda muito jovem e conflituosa. Também aponta que no país há uma burguesia que sente muito medo, a ponto de apoiar um governante com falas preconceituosas e que incitam o ódio.

Seguindo sua linha de pensamento otimista, o autor destaca que o Brasil tem a oportunidade de construir uma nova narrativa e levanta o questionamento acerca do papel do jornalismo em meio a essa mudança. “O Brasil viveu uma narrativa intencionada em seus fundamentos, nessa vocação escravocrata. Hoje o Brasil está sendo convidado pra reescrever essa narrativa, ou seja, para constituir uma identidade plural, coletiva a partir disso que estamos vivendo, que é um horror. Mas a gente não pode somente ver o horror. A gente vê que o horror faz surgir muita coisa bonita”, disse o autor.

A aula aberta ainda contou com perguntas feitas por alunos e professores da Faculdade de Jornalismo e está disponível no Facebook do Digitais para ser assistida a qualquer momento.

Orientação: Profª Amanda Artiolli

Edição: Bruno Leoni


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