A jornalista Eliane Brum prestou homenagem ao fotógrafo Lilo Clareto, vitimado pela Covid em abril deste ano                                                                                                  

Eliane Brum: “Bolsonaro chegou a recusar a compra de vacinas”; no detalhe, o repórter fotográfico Lilo Clareto, morto pela Covid-19 (Imagem: Zoom)

Por Ettore Melato

Em seminário virtual ocorrido nesta quarta-feira (19), cientistas, jornalistas e especialistas em meio ambiente e saúde denunciaram a conivência do governo Bolsonaro em relação às constantes agressões ao meio ambiente no país, bem como sua omissão no combate à pandemia da Covid-19.

Mediado pelo editor ambiental global do jornal britânico “The Guardian”, Jonathan Watts, o evento contou com a participação da jornalista Eliane Brum, que prestou homenagem ao repórter fotográfico Lilo Clareto, vitimado pela Covid-19 em abril deste ano. Lilo formou-se na Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas e atuava, nos últimos anos, ao lado de Brum em projeto desenvolvido na região de Altamira (PA).

Segundo apontaram os conferencistas, o aumento do desflorestamento na reserva amazônica teve seus dois piores momentos, em uma década, nos anos de 2019 e 2020, de acordo com dados do próprio Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). No caso da pandemia, que cresce exponencialmente no Brasil, o país já ocupa o 2° lugar no ranking mundial, atrás apenas dos EUA.

Erika Berenger: desmatamento facilitará o surgimento de novas pandemias (Imagem: Zoom)

Para embasar suas advertências com relação ao meio ambiente, a pesquisadora sênior da Universidade de Oxford e Lancaster e membro da Rede Amazônia sustentável, Erika Berenger, apresentou dados em sua participação. Ela afirmou que houve considerável crescimento do desmatamento desde o início do governo Bolsonaro.

“Para ter uma ideia de dimensão, a área perdida entre os anos de 2018 e 2019 equivale a duas vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro. O aumento do desmatamento entre esses dois anos é o maior desde a década de 1990”, afirmou.

A pesquisadora ainda alertou para o risco de que novas pandemias venham a ocorrer por conta da não preservação do meio ambiente. “Isso acontece porque o desmatamento promove a interação com zoonoses, ou seja, doenças que são transmitidas de animais para humanos e que poderão ser passadas de humanos para humanos”, descreveu.

Douglas Belchior: “A doença se espalha pelas comunidades pobres, onde a maioria negra não tem acesso à saúde pública” (Imagem: Zoom)

Professor de história e membro da ong Coalisão Negra por Direitos, o ativista Douglas Belchior disse que a pandemia do coronavírus apenas escancarou os problemas já existentes na sociedade brasileira. “Radicalizou o problema da miséria, com a crise econômica que acompanhou a chegada no vírus. A doença se espalha pelas comunidades pobres, onde a maioria negra não tem acesso à saúde pública desmontada por esse governo, e que são a maioria desses quase 500 mil mortos”, completou Belchior.

Colunista do jornal espanhol “El País”, a jornalista Eliane Brum, outra conferencista do seminário, disse ser indiscutível o fato de que o presidente Bolsonaro executa um plano de disseminação do vírus. “Esse plano foi executado com tanta dedicação, que Bolsonaro chegou a recusar a compra de vacinas que salvariam vidas, enquanto gastava milhões de reais na importação de cloroquina, medicamento que foi comprovado não ter nenhuma eficácia contra a Covid-19″.

Também palestraram no evento a coordenadora de política e lei do Instituto Socioambiental (ISA) Adriana Ramos; a escritora britânica Jay Griffiths; a coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sonia Guajajara; e o diretor executivo da Global Canopy, Nick Mardas.

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição:Oscar Nucci