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Psiquiatra descarta “tsunami emocional” com pandemia

Resiliência deverá conter ansiedade gerada na tragédia, afirma Luiz Alberto Hetem                                                                                                                                                  

 

O psiquiatra Luiz Alberto Hetem, no Café Filosófico: a ansiedade patológica é paralisante” (Imagens: YouTube)

 

Por: Beatriz Mota Furtado

Um tsunami de transtornos mentais em função do distanciamento social e das crises sanitária e econômica decorrentes da pandemia – como previram estudiosos do comportamento humano – está muito longe de acontecer. A resiliência deverá ocupar o lugar dos desajustes mentais, previu o psiquiatra Luiz Alberto Hetem, em conferência na série de seminários “Transtornada Mente”, do programa Café Filosófico, promovido pela CPFL-Campinas.

Para o psiquiatra Hetem – que gravou remotamente sua participação na última quinta (20), – a humanidade está sim passando por um momento complicado, mas a capacidade humana costuma saber lidar e superar os momentos difíceis. “O que eu me preocupo é com a medicalização de uma reação normal, não patológica”, advertiu para os que acreditam que o caminho medicamentoso é a única maneira de lidar com problemas que não requerem o auxílio de fármacos.

Segundo o médico, o que tem ficado mais evidente é o aumento nos índices de ansiedade durante a pandemia. “Isso acontece porque estamos lidando com algo novo, desconhecido e incerto. Não há dúvidas de que estamos todos ansiosos”.

O psiquiatra explicou que a ansiedade é uma emoção voltada ao futuro, provocando sensações de que algo ruim possa vir a acontecer. Pode ser física, psicológica ou comportamental, causando tensão muscular, tremores, falta de ar, aperto no peito, tontura e náuseas, com uma sensação de que se está à beira de perder o controle.

Mas há uma diferença – disse Hetem – entre ansiedade e estados emocionais, e que não são sinônimos. “Medo e ansiedade são completamente diferentes. Medo surge do real e é acionado por estímulos externos, e a ansiedade é acionada por estímulos internos, surgindo do que pode vir a acontecer, desencadeando apreensão e preparação para uma ameaça incerta”.

Hetem explicou a função do gráfico da “Curva de Yerkes-Dodson”, que é o resultado de estudo de pesquisadores da área de psiquiatria, que permite distinguir se o sentimento de ansiedade está em níveis normais ou preocupantes. Em níveis normais, a ansiedade tem o poder de aumentar a produtividade e a eficácia de desempenho, mas quando atinge níveis maiores, a ansiedade já se transforma em patologia, diminuindo os níveis de produtividade e de desempenho.

Segundo o psiquiatra, há condições clínicas que lembram sensações de ansiedade, como o caso de hipertireoidismo, que causa tremores e agitação, assim como alguns medicamentos, que podem desencadear tonturas ou náuseas. Também há a possibilidade de ser sintoma de abstinência ou intoxicação, entre outras possiblidades.

“Só quando descartadas todas essas possiblidades, é que podemos pensar que pode se tratar de um transtorno de ansiedade primário. Ninguém melhor do que um psiquiatra para fazer o trabalho de diagnóstico diferencial”, alertou Hetem.

O fato de ser desagradável – disse ele – não é o que distingue a ansiedade normal da ansiedade patológica, visto que a sensação é sempre desagradável, mas sim a intensidade, duração e grau de limitação que ela impõe. “A ansiedade normal funciona como uma mola propulsora para enfrentar, superar e resolver com eficiência os problemas que encontramos. Ela muito mais ajuda do que atrapalha. Já a ansiedade patológica é paralisante”, explicou.

Dentro dos transtornos de ansiedade primários, Hetem apontou três classificações: transtorno de pânico, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de ansiedade social. As complicações mais comuns dos transtornos de ansiedade são os desgastes das relações interpessoais, a diminuição da qualidade de vida e o aumento do consumo de álcool.

“É incrível como, mesmo hoje em dia, as pessoas que sofrem com transtornos de ansiedade são maltratadas, incompreendidas e acusadas de serem dramáticas”, criticou o psiquiatra.

Segundo Hetem, o tratamento dos transtornos de ansiedade é comprovadamente eficaz e tem como meta a remissão do quadro, ou seja, a eliminação dos sintomas, normalização do desempenho e cuidados com comorbidades. “As complicações desenvolvidas pelos transtornos de ansiedade precisam ser cuidadas com psicoterapia e medicação, uma vez instaladas. Caso contrário, não haverá recuperação completa”, alertou o psiquiatra.

Alguns sinais de alerta para possível quadro de ansiedade em níveis patológicos são perturbação do sono e falta de apetite por mais de uma semana, irritabilidade constante e explosões, aumento do consumo de álcool e de medicamentos. Medidas simples podem ser usadas para driblar situações de ansiedade, como respirar fundo, conversar com alguém, se distrair de alguma forma e tirar o foco do problema. Hábitos saudáveis, como dietas equilibradas, meditação e boas noites de sono ajudam na reverter o quadro de ansiedade

“É importante ressaltar que a ansiedade é uma emoção contagiosa. Se você convive com pessoas ansiosas, o seu nível de ansiedade vai aumentar. Por isso é tão importante o acompanhamento com um especialista”, alertou o psiquiatra.

Aqui, link para a conferência de Luiz Alberto Hetem, no YouTube

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Oscar Nucci


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