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Essa forma facilita no processo de assimilação da perda dos entes queridos
Por Laryssa Holanda e Vitória Swartele
A covid-19 restringiu às pessoas a possibilidade de acompanhar seus familiares no leito de hospitais. Quando a doença provoca a morte, o drama é ainda maior com o quase impedimento dos costumeiros rituais de despedida. Diante desse cenário, diversas empresas funerárias que já possuíam o serviço de velório online, decidiram ampliar os investimentos nessa atividade.
O velório online além de ser feito pelos próprios parentes através de transmissões ao vivo em aplicativos como Instagram, Facebook, YouTube também possui empresas que têm serviços especializados, como é o caso da Progem. Alex dos Santos Bida, gerente comercial da empresa, afirma que o distanciamento social aumentou a demanda por serviços online e o velório online vai ao encontro disso.
Bida ainda explica que no segmento do velório online, a empresa possui duas frentes, ambas estreitam e tentam amenizar de forma digitalizada a distância física entre entes queridos e familiares que não podem estar presentes na celebração. “Nosso sistema cria uma nota de falecimento personalizada e pode ser compartilhada através do whatsapp, nesta nota de falecimento agrega-se um link, em que os familiares podem enviar mensagens de consolo e assinar o livro virtual”.
Esse modelo facilita que as pessoas possam se despedir de forma segura do ente querido. A fisioterapeuta Mitzy Piaia conta que montou um velório online para poder dar adeus as suas duas avós que faleceram na pandemia. Uma em agosto, quando a própria família que trabalha com comunicação e tecnologia montou o velório através de um link pelo meeting que permitiu que toda comunidade, familiares e amigos participassem. Já na perda da outra avó que faleceu em janeiro, usaram a tecnologia para filmar o culto e o sepultamento, quando cerca de 300 pessoas participaram online.
Piaia afirma ainda que o velório foi uma oportunidade para a família e amigos se despedirem de sua avó. “Facilitou que a família e amigos de perto e de longe se despedissem de duas pessoas incríveis na minha vida, mantendo a segurança e o distanciamento, além de apenas os mais próximos terem a liberdade de enterrá-la sem preocupação com a situação que estamos vivendo”.
O Luto
A tecnologia tem se tornado cada vez mais essencial para permitir e contornar o distanciamento social. Não poder estar com o doente no final da vida, nem receber apoio no velório e no enterro são mudanças que, segundo especialistas, são importantes no processo de luto. Ana Maria Batista, psicóloga multiprofissional especializada em saúde mental e psiquiatria afirma que para alguns nesse momento de despedida é fundamental. “Ver o corpo físico da pessoa, ter familiares e amigos presentes na cerimônia é importante para o processo de elaboração da perda”.
Ana Maria ainda diz que o ato simbólico costuma contribuir na organização das emoções e no processo do morrer e no luto. “É uma forma de auxiliar as pessoas na compreensão da finitude humana”.
A psicóloga ressalta que o serviço de velório online é uma oportunidade digna de se despedir e estar presente nesse momento ao facilitar a compreensão de que o falecido não desapareceu, mas que está em outro lugar.
Mitizy Piaia afirma que o serviço online traz a realidade aos olhos daquilo que o coração nega aceitar. “A morte de uma pessoa querida já é extremamente difícil de aceitar se você ainda não passar pelo processo de velar o corpo, enterrar e sofrer o luto parece mentira”.
O serviço online
Lindolfo Alexandre de Souza, professor na PUC-Campinas, doutorando em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Bernardo do Campo participou de dois velórios online. O primeiro foi como ministro extraordinário das Exéquias, quando o velório ocorreu de forma presencial, mas o irmão da falecida fez uma transmissão ao vivo para uma parente que estava nos Estados Unidos. A outra experiência foi por conta de seu doutorado na área de ciências da religião. Sua pesquisa abrange temas como a morte, o luto e o trabalho da Pastoral das Exéquias.
O professor diz que essas experiências vividas mostram que usamos o celular para muitos serviços, e a experiência religiosa passa a ser midiatizada e ser mediada pela tecnologia digital, ainda mais agora nesse contexto pandêmico. Ele afirma ainda que a transmissão online é compreensível mesmo sendo algo diferente para ele, pois o velório online pode ser uma experiência positiva, faz com que pessoas impossibilitadas de participar presencialmente do velório ou do sepultamento possam manifestar junto à família seus sentimentos de carinho. “Por outro lado, esses velórios online têm um papel supletivo na linha da excepcionalidade, ou seja, feito apenas para aqueles que de fato não possam ir”.
Orientação: Prof. Gilberto Roldão
Edição: Fernanda Almeida
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