Destaque
Simone Kropf, da Fiocruz, leva “jacaré” para denunciar o criminoso negacionismo de Bolsonaro
Por: Ederson Rufato
Reunidas em seminário para traçar um paralelo entre as pandemias da varíola (1904) e gripe espanhola (1918), e a pandemia da Covid-19, que já mata quase 2 mil brasileiros ao dia, as pesquisadoras Simone Kropf, Natália Pasternak e Lília Schwarcz pediram ontem uma mobilização nacional no combate ao novo coronavírus. Para elas, o negacionismo do governo Bolsonaro – além de destruir vidas – representa um projeto político que se utiliza do medo para o exercício do poder.
“Não é possível naturalizar esse número estarrecedor de mortes”, afirmou Lília, mediadora do encontro. O evento foi promovido em parceria do Jornal Nexo com a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), entidade que reúne centros de pós-graduação e de pesquisa em antropologia, ciência política, relações internacionais e sociologia de todo o Brasil.
Lília Schwarcz é historiadora, professora do Departamento de Antropologia da USP, colunista do Nexo e autora várias obras, entre elas “Brasil: uma biografia” e “Sobre o autoritarismo brasileiro”. Como convidadas ao encontro, estavam presentes a microbiologista Natalia Pasternak, colunista de “O Globo”, presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC) e membro do Committee for Skeptical Inquiry (EUA). A pesquisadora Simone Kropf, especialista em história da ciência e professora da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, coordena estudos sobre a atuação da Fiocruz no enfrentamento da pandemia de Covid-19.
Em sua apresentação, Lilia Schwarcz lembrou que, no início do século passado, o Brasil viveu também uma chamada “revolta da vacina” no combate à varíola, em 1904. No período – quando a ciência era pouco compreendida — o negacionismo era tão forte que as pessoas espalhavam boatos dizendo que, se tomassem a vacina contra a varíola, iriam ser transformados em bois, explicou Schwarcz.
“Cem anos se passaram e parece que o Brasil esqueceu o que aprendeu ao longo dos anos”, lamentou Lilia Schwarcz, fazendo referência às declarações de Jair Bolsonaro, que é contrário ao distanciamento social, ao uso de máscaras para conter a propagação da doença e inicialmente foi contrário ao uso da vacina. Bolsonaro chegou a associar a vacina a mutações genéticas: quem tomasse poderia se transformar em jacaré ou começar a falar fino, aventou.
A pesquisadora Simone Kropf associou o negacionismo do presidente a uma estratégia governamental que se aproveita do medo, da dúvida e da desinformação para o exercício do poder político. “A dúvida disseminada pelo discurso negacionista é uma questão politica para aplicar políticas públicas, para manipular e fazer populismo através de medicamentos milagrosos, como no caso da Cloroquina e do spray nasal fabricado por Israel”, disse.
“Esse pensamento mágico surge quando não se tem a capacidade de lidar com uma situação, que é o que acompanha o atual governo desde o começo da pandemia”, observou Pasternak.
Simone lembrou que, ao lado do negacionismo da pandemia, o Brasil conta também com o negacionismo das mudanças climáticas, igualmente liderado pelo presidente Bolsonaro. Segundo ela, as duas coisas estão interligadas. “Quanto mais quente fica o clima, melhor para os mosquitos – que são grandes vetores de doenças tropicais”, ponderou. A pesquisadora disse ser importante “conquistar aliados para o nosso lado”, explicar à população o que é ciência e qual o papel do estado na proteção do direito à saúde.
Pasternak afirmou que a classe médica – à qual pertence – precisa mudar sua forma de atuação no sistema de saúde, o que implica em conhecer disciplinas da área social em seu processo de formação. Podemos ser excelentes técnicos, mas não somos preparados para pensar”, afirmou ao dizer que é urgente trazer a interdisciplinaridade para a formação de profissionais da saúde.
“Eu nunca tive aula na graduação ou pós-graduação sobre Filosofia da Ciência”, reclamou a pesquisadora ao afirmar que toda sua formação, neste campo, foi obtida a partir de sua própria iniciativa.
Aqui, acesso ao debate “A velha e a nova revolta da vacina”.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Letícia Franco
Veja mais matéria sobre Destaque
Provão Paulista incentiva estudantes da rede pública
Desde 2023, a prova seriada se tornou porta de entrada para as melhores universidades do Estado de São Paulo
Sistema de Educação ainda requer ajustes para incluir alunos PcD na educação física
Apesar dos avanços na educação, alguns profissionais ainda se sentem despreparados para lidar com esse público nas aulas
Revolução na luta contra Alzheimer: Unicamp lidera avanços com IA na inovação farmacêutica
Pesquisas inovadoras unem tecnologia e biociência na busca de tratamentos eficazes para doença neurodegenerativa
Projeto social promove atividades pedagógicas em escolas de Campinas
São pelo menos 280 jovens mobilizados nos encontros e quatro escolas que abraçam as atividades propostas
Valinhos é eleita a cidade mais segura do Brasil em 2024
Uso de tecnologia e aumento de 30% no efetivo da Guarda Civil Municipal aumentam a segurança e a qualidade de vida na cidade
Novembro Azul destaca o papel da hereditariedade no avanço do câncer de próstata
Especialista explica como o fator genético pode acelerar o câncer masculino